Olimpíadas de Paris serão as primeiras a equiparar número de atletas homens e mulheres

Desde os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna em Atenas, em 1896, quando não havia oportunidades para competições femininas, as mulheres tiveram que lutar para conquistar seu lugar nos mais prestigiados palcos esportivos do mundo.

Bandeira olímpica durante a cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Tóquio

Bandeira olímpica durante a cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Tóquio – Foto: Jewel SAMAD / AFP

Nas primeiras participações femininas nas Olimpíadas, nos jogos de Paris em 1900, com apenas 2,2% de participação em competições tímidas como tênis e golfe, as atletas enfrentaram barreiras sociais e estruturais que frequentemente as colocavam à margem do cenário esportivo.

No entanto, ao longo dos anos, as mulheres não apenas desafiaram estereótipos, mas também quebraram recordes e demonstraram habilidades extraordinárias em uma série de esportes.

Suas realizações se estenderam a esportes antes considerados território exclusivo dos homens, como o futebol, o skate e até mesmo o levantamento de peso.

Mesmo diante de desafios persistentes, 2024 carrega uma conquista histórica: pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos, a participação das mulheres será equiparada à dos homens.

Nas cotas de vagas para as Olimpíadas em Paris, que vão ocorrer entre 26 de julho e 11 de agosto deste ano, ambos os gêneros terão uma representação de 50%, sendo um marco significativo na busca pela igualdade de oportunidades no cenário esportivo mundial.

A informação é do COI (Comitê Olímpico Internacional), que mostrou a evolução da participação feminina ao longo dos anos, uma conquista importante, mas que levou 128 anos para ocorrer.

Nos últimos Jogos Olímpicos, em Tóquio, no ano de 2021, tinha sido até então a edição mais equilibrada em termos de gênero, com 48,7% de atletas mulheres.

Esse marco contrasta com os números de 1964, a última vez que Tóquio sediou os Jogos, quando apenas 13% dos participantes eram mulheres.

Quando comparado à última vez que Paris sediou as Olimpíadas, em 1924, o número é ainda mais assustador: somente 4,4% de participação feminina. Já para 2024, um alento,   dos 10.500 atletas participantes dos Jogos, serão 5.250 homens e 5.250 mulheres, segundo o Comitê.

A participação feminina nos Jogos Olímpicos ao longo da história

A participação feminina nos Jogos Olímpicos ao longo da história – Foto: Reprodução

“Demorou, mas chegou!”: Manezinha supera desafios até ser considerada melhor do mundo no futebol 7

O esporte já foi proibido para as mulheres no Brasil em 1941 e reiterado em 1965. No decreto-lei n° 3.1199 – de 14 de abril de 1941, Art. 54, assinado pelo então presidente da República Getúlio Vargas, dizia:

“Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”.

O futebol era um desses esportes, que só foi permitido para as mulheres novamente em 1979. Mas, mesmo com o fim da proibição, ainda não era considerado ‘esporte de mulher’, e só foi regulamentado no país em 1983.

A primeira Copa do Mundo Feminina realizada pela Fifa ocorreu em 1991, na China, e o Brasil entrou no pódio em 1999, ao conquistar o terceiro lugar.

Com passagem por times de futsal em Santa Catarina e São Paulo, e pelo futebol 7 do Figueirense/Paula Ramos e Flamengo, a manezinha Marina Höher já jogou como meio-campo do Al-Nassr, da Árabia Saudita – atual clube de Cristiano Ronaldo -, até 2023, e chegou a ser a melhor do mundo em 2018 pela Federação Internacional de Futebol 7.

Marina Höher em ação pelo Figueirense/Paula Ramos no futebol 7

Marina Höher em ação pelo Figueirense/Paula Ramos no futebol 7 – Foto: Marlon Goulart e Gabriel Júlio

Com tantos feitos, Marina é um símbolo de resistência e inspiração. “No início, para estar dentro do futebol, foi difícil, mas tive a sorte de conhecer projetos dentro de Florianópolis, que tinha base no feminino (nem todas as cidades têm), mas tive o privilégio de ter. Apesar da estrutura não ser das melhores, tínhamos pessoas que lutavam pela causa e abraçaram o projeto”, relembra.

Para Marina, a vontade e a luta constante são importantes, mas não mais suficientes. Falta investimento, base e apoio.

“É muito difícil encontrar patrocinadores e apoiadores dentro de qualquer modalidade que seja inserida o feminino. É triste ver um país apaixonado pelo futebol e ter as melhores atletas, mas ser um país que menos investe na modalidade do futebol feminino. Tínhamos tudo para ser número um dentro do futebol”, declara a jogadora.

Mesmo assim, a atleta relata que, cada vez mais, é possível se inspirar em mulheres que lutam e batalham pelo futebol feminino. “Essa foi uma vitória que demorou para chegar, mas chegou”, diz.

“A caminhada não foi fácil, não está fácil até hoje, mas estamos lutando e batalhando para que a nova geração não precise passar por tudo que nós passamos dentre todos esses anos. O objetivo é progredir e não regredir, mesmo que seja pouco, mas que seja para frente”, finaliza Marina.

A medalha inédita nas Olimpíadas e a inspiração para futuras gerações no tênis

Luisa Stefani conquistou medalha inédita nas Olimpíadas de Tóquio na modalidade de duplas

Luisa Stefani conquistou medalha inédita nas Olimpíadas de Tóquio na modalidade de duplas – Foto:  Divulgação/Tennis Australia

Embora o tênis tenha sido uma das primeiras modalidades a permitir a participação das mulheres nos Jogos, mesmo que inicialmente limitadas, sua presença ainda era mínima, principalmente de brasileiras.

Muito ocorreu até que as mulheres se tornassem destaques, como no caso da tenista brasileira Luisa Stefani, que ao lado da também brasileira Laura Pigossi, conquistou a inédita medalha olímpica para o tênis nacional: o bronze em Tóquio.

“Ainda continua sendo uma sensação indescritível pensar que temos uma medalha olímpica. É muito lindo ver que será a primeira Olimpíadas com igualdade de gênero. É um passo muito grande para o esporte feminino no mundo inteiro”, relata Luisa.

Nascida em São Paulo, com 26 anos, Luisa foi a primeira mulher brasileira, na Era Aberta, a entrar no Top 10 do ranking de duplas da WTA (Women’s Tennis Association – Associação de Tênis Feminino).

“Quando eu me mudei para os Estados Unidos, com 14 anos, para treinar e estudar, foi realmente ali a virada de chave na quantidade da participação de meninas e competições. Essa experiência no exterior me abriu os olhos para um outro mundo do tênis feminino e me inspirou”, relembra a tenista ao dizer que, inicialmente, quando começou no esporte, não havia muitas outras mulheres para treinar.

Para a tenista, ter mulheres no tênis profissional, principalmente do Brasil, impacta nos resultados positivos que estão ocorrendo.

“A presença feminina nesses torneios maiores, a visibilidade, mais jogos na televisão, muitas meninas jogando tênis, falando que começaram por causa da gente. Lotar um estádio com praticamente 10 mil pessoas para assistir tênis feminino é surreal. São experiências que jamais ocorreriam há anos atrás e, talvez diria, há poucos anos atrás também”, conta.

“É muito importante sermos exemplos e nos inspirarmos em outros exemplos, tanto no tênis, quanto nos outros esportes. Cada vez vamos conseguir mais mulheres jogando, mais mulheres acreditando, competindo como profissionais, indo para as Olimpíadas, ou fazendo parte de outras funções no meio esportivo”, finaliza.

Outra brasileira que também está se destacando no tênis e busca uma vaga nas Olimpíadas 2024 é Ingrid Martins, de 27 anos.

“Antigamente você tinha esse sonho de ser uma tenista profissional, uma jogadora de vôlei profissional, uma surfista profissional, mas você não tinha referência, e acabava tendo que escolher outra profissão fora do esporte, deixando a sua paixão de lado. Hoje em dia, em muitos esportes, a mulher consegue sonhar e viver dele. É um grande avanço, mas temos muito caminho a percorrer”, destaca.

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