Catarinense pesquisa e preserva a história da cerâmica indígena

Enquanto o STF (Supremo Tribunal Federal) decide se coloca em votação o polêmico Marco Temporal, que garante aos povos indígenas as terras que eram ocupadas até a promulgação da Constituição de 1988, um artista catarinense busca preservar um dos aspectos da vasta cultura indígena: a cerâmica.

Jone Cézar de Araújo, natural de Morro da Fumaça, cidade da região carbonífera de Santa Catarina, vem pesquisando há 15 anos a cerâmica utilitária dos povos indígenas, especialmente a guarani, existentes em todo território catarinense, do Extremo-Oeste ao litoral, e povos de etnias distintas em outras partes do Brasil, como no Pará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, por exemplo.

Peças confeccionadas a partir de pesquisa da cerâmica guarani, de Santa Catarina, decoradas com acabamento ungulado (usam as pontas dos dedos para decorar) – Foto: José Carlos Sá/Divulgação

Ele também faz pesquisa a partir de peças arqueológicas que foram recolhidas e estudadas pelo padre jesuíta João Alfredo Rohr, que é considerado “o pai da arqueologia catarinense”. Jone tem um acervo de mais de 3.000 peças, entre originais recolhidas ou compradas, e cópias confeccionadas a partir de pesquisa sobre a argila, as misturas feitas à massa, as ferramentas, o método de queima, os pigmentos e o tipo de acabamento das peças.

As peças são amostras da arte indígena arqueológica brasileira contemporânea. A partir da pesquisa em muitas regiões do Brasil, Jone viu que, com a chegada dos europeus, os povos indígenas adaptaram sua produção às novas técnicas e necessidades – como panelas de fundo reto para as chapas de fogão, por exemplo, já que os utensílios utilizados pelos povos primitivos tinham fundos abaulados para colocar nas fogueiras.

“Mas ainda tem povos em que não houve mudança na confecção da cerâmica. É a mesma coisa há mais de mil anos, ou, quem sabe, até mais”, destaca Jone. “A proposta da exposição é mostrar, aproveitando o Dia dos Povos Indígenas [comemorado a 19 de abril], a riqueza destas técnicas, destas ideias estéticas magníficas, entre as quais eu incluí meu trabalho de muitos anos de pesquisa”.

Réplica da cerâmica marajoara realizada pelo Mestre Cardoso, funcionário autodidata do Instituto Goeldi, de Belém, no Pará; ele copiou peças que via na instituição – Foto: José Carlos Sá/Divulgação

O artista

Conhecido por montar os presépios na praça XV de Novembro, no Centro Histórico de Florianópolis, há mais de 20 anos, Jone Cézar é um multiartista, com exposições e prêmios nacionais e internacionais com fotografias, pintura, cerâmica e colagens. Recebeu centenas de prêmios e mantém em seu ateliê no bairro Itacorubi uma oficina onde ensina as técnicas da cerâmica indígena.

Serviço:

O quê: Exposição “Cerâmica Indígena Brasileira” com peças dos povos terena, karajá, juruna, marajoara, kadiwel, assurini e guarani

Onde: Centro Cultural do Continente Franklin Cascaes, ao lado do Parque de Coqueiros

Quando: De segunda a sexta-feira, das 13h às 19h até o dia 18 de maio

Entrada gratuita

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