Pescadores fazem últimos ajustes nos barcos e redes e têm ótima expectativa com safra da tainha

José Carlos Souza, 65 anos, está com a expectativa nas alturas para a safra da tainha deste ano. Trabalhando a vida inteira como pescador, ele lembra que, ano passado, tirou 6.000 tainhas do mar na pesca artesanal, o que equivale a cerca de 10 toneladas, e acredita que neste ano será ainda melhor.

José Carlos e José Luiz têm a esperança de uma ótima safra – Foto: Leo Munhoz/ND

A safra é o momento mais esperado do ano pelos pescadores. Para os artesanais, começou dia 1º, mas ainda tem pouco peixe. O momento, portanto, é de preparação.

Ontem, por exemplo, Souza fazia reparos na rede de pesca. O barco também ganhou pintura nova. Para quem pesca em alto mar (emalhe anilhado), a safra começa no dia 15 de maio e vai até 31 de julho, com limite de 460 toneladas, uma redução de 68% em relação ao ano passado para esse grupo. Seguindo determinação do governo federal, a pesca industrial está proibida nesta temporada.

José Luiz de Oliveira, 70 anos, pesca junto com Souza de forma artesanal. Ele conta que desde que a pesca foi liberada conseguiram pegar pouco mais de 400 peixes. Nativo da Ilha, morador da praia da Armação e filho de pescador, sempre trabalhou na pesca da tainha.

A expectativa dele também é boa para essa safra. “A fé é grande”, diz Oliveira. “Esperamos uma safra boa”, confirma o amigo Souza. Segundo ele, está praticamente tudo pronto. Só falta elas chegarem.

Rafael Lopes Gonçalves, 40, também é nativo da Ilha, do bairro Pântano do Sul. Herdou a função de pescador do avô e do pai, que acompanhava desde pequeno. Ele trabalha na modalidade de emalhe anilhado, que começa no dia 15, com o barco Emanuely, homenagem à filha mais velha.

Rafael reclama da redução da cota em mais uma safra da tainha – Foto: Leo Munhoz/ND

“Aguardamos a safra o ano todo. Tradição, cultura e, principalmente, renda. Vivemos e dependemos disso”, comenta. Para ele, a safra de 2022 foi regular, com a retirada de cinco toneladas. A expectativa para 2023 é melhor. “Agora é esperar dia 15 chegar. A licença está na mão, graças a Deus, e só ir atrás delas”, frisa.

Nos preparativos para a safra, Gonçalves e a tripulação do Emanuely costuraram a rede de 800 metros de comprimento e 60 metros de altura. Além disso, fizeram uma revisão no motor do barco.

Em alto mar, ele explica que os barcos ficam a uma certa distância uns dos outros. Também precisam respeitar a distância de uma milha náutica da praia e 300 metros dos costões.

Os olheiros do mar

Para avistar os cardumes, cinco tripulantes ficam na proa do barco e se percebem uma mancha escura, vermelha ou roxa, é um indicativo de que é preciso fazer o cerco e, com atenção, porque “a tainha é esperta, sabe ler e escrever”, brinca o pescador que, em seguida, entra num assunto sério: a redução da cota para o emalhe anilhado.

Pescadores do Pântano do Sul – Foto: Leo Munhoz/ND

“A cota vem diminuindo. Há dois anos era 1.200 toneladas, ano passado caiu para 830 e nesse ano, 460”, reclama Gonçalves. No decorrer do ano passado, o emalhe anilhado herdou a cota remanescente do cerco de traineira de 120 toneladas, ou seja, ficou com uma de 950 toneladas.

“Ano passado levamos 12 dias para capturar 800 toneladas. Esse ano provavelmente vai ser uma safra curta. O peixe vai vir, mas chegando nas 460 toneladas temos que parar”, afirma.

Demora na liberação de licença preocupa pescador

A preocupação de Nelson Ademir Alexandre, 63 anos, é outra. Ele ainda não obteve a licença para trabalhar nesta safra. “Antigamente não tinha essa burocracia. Hoje, está mais difícil obter a licença para trabalhar. Ninguém gosta de trabalhar irregular. A colônia de pescadores entrou com uma liminar, mas ainda não houve um retorno”, lamenta o pescador.

Sem a certeza da liberação, mas acreditando que vai conseguir, ele também está nos preparativos. O barco Marinelson, mescla do nome dele com o da mulher, vai receber algumas mudanças, entre elas, uma sonda nova. As adaptações não foram adiante ainda por causa do benefício da dúvida.

Nelson aguarda liberação da licença para garantir o sustento da família com a tainha – Foto: Leo Munhoz/ND

“Se não sair, vou montar para quê?”, questiona Alexandre. Segundo ele, em 2022, perdeu 11 dias em relação aos colegas por causa de atraso na liberação da licença. Neste ano, espera que a história não se repita, para conseguir, o quanto antes, garantir o sustento da família no mar.

Além da burocracia, os pescadores também contam com a atuação do vento sul para provocar a saída dos cardumes dos estuários do Prata e da Lagoa dos Patos em direção à costa catarinense para desova e a consequente captura.

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