Hospitalizada após aplicar botox, mulher faz queixa na Justiça contra clínica de Florianópolis

Uma moradora de Florianópolis fez uma representação na 3ª Vara Criminal da Capital após ser hospitalizada por causa de uma aplicação de botox. A denúncia foi feita contra a Hof Clinic, famosa clínica de estética da cidade que teve as atividades suspensas pelo Procon municipal no dia 4, após investigações sobre irregularidades na venda de produtos e atendimento.

O dentista Anderson Silva e a esposa dele, a farmacêutica Deisy Karina Arenhart da Silva, são citados no documento entregue pela defesa da vítima, por serem donos da clínica. A reportagem do ND+ obteve acesso à representação, cujo recebimento foi confirmado pelo TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina).

Há ainda um Boletim de Ocorrência registrado na 1ª Delegacia de Polícia de Florianópolis.

De acordo com o dentista, a mulher nunca foi atendida por ele. Anderson afirmou ainda que, em seus mais de 20 anos de carreira, ninguém teve problemas como os denunciados pela paciente.

Mulher relata ter tido reação alérgica grave após retoque de botox – Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal/ND

Da aplicação ao rosto desfigurado

A mulher, que pediu para não ser identificada, conta que a primeira aplicação de botox foi feita em 12 de agosto de 2022, quando não houve nenhuma reação. Pouco mais de um mês depois, em 6 de setembro, ela voltou à clínica para consulta de “retorno”, quando foi feita uma nova aplicação.

A segunda aplicação, no entanto, causou efeito alérgico. Cerca de 1h30 após a injeção, a cliente relata que começou a sentir forte aquecimento nos locais da aplicação da toxina botulínica e, posteriormente, por todo o rosto. De acordo com a denúncia encaminhada à 3ª Vara Criminal da Capital, juntamente com a sensação de calor o rosto dela começou a inchar, ficando em pouquíssimo tempo “totalmente desconfigurado”.

“Em total desespero ela começou a fazer compressa com toalha molhada em água corrente, no intuito de diminuir o aquecimento e também o inchaço. O quadro foi se agravando e estando sozinha em casa tentou por diversas vezes em canais diferentes contatar a clínica e seus respectivos responsáveis”, descreve o documento.

Defesa relata que este era o rosto da paciente antes do procedimento  - Reprodução/Arquivo Pessoal/ND
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Defesa relata que este era o rosto da paciente antes do procedimento – Reprodução/Arquivo Pessoal/ND

Reação teria começado cerca de 1h30 após a aplicação  - Reprodução/Arquivo Pessoal/ND
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Reação teria começado cerca de 1h30 após a aplicação – Reprodução/Arquivo Pessoal/ND

Vítima relata ter ficado internada após incidente - Reprodução/Arquivo Pessoal/ND
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Vítima relata ter ficado internada após incidente – Reprodução/Arquivo Pessoal/ND

Ainda segundo o denúncia, após não conseguir ajuda, a mulher ligou para o marido, que estava no trabalho. Ela foi então levada ao atendimento médico mais próximo, no Hospital da Unimed, em São José. Durante o trajeto, a mulher relata que sentiu falta de ar, enjoo e dores no peito.

“Durante os procedimentos imediatos foi constatado o aumento da frequência cardíaca, 230 batimentos por minuto, a falta de oxigenação e em curso o quadro de angioedema, que provocou o inchaço de toda a face e parcialmente da garganta”, detalha a representação.

A defesa da paciente alega que os profissionais do plantão buscaram outros médicos para auxiliar no diagnóstico. A dúvida dos médicos era sobre qual medicação usar já que a mulher não sabia qual toxina havia sido utilizada no procedimento, assim como a data de validade do produto. Ela também relata que não foi informada sobre nenhum efeito adverso antes da aplicação de botox.

Para entender as reações, a reportagem conversou com o cirurgião-plástico Leandro Grangeiro, que relatou que não é comum este tipo de consequência ao uso da toxina.

“É muito raro ter alergia a botox. Provavelmente foi outro produto. Geralmente a alergia é ao anestésico que vem com o ácido hialurônico”, explica.

Em entrevista ao ND+, Anderson Silva, dono da Hof Clinic, diz que todos os clientes são orientados e que “na bula do medicamento vem bem claro, descrito que o produto pode dar reações alérgicas”.

De volta ao atendimento médico e após alguns dias em observação, a mulher foi diagnosticada com “uma reação grave, com necessidade de acompanhamento e tratamento correto”.

“Os responsáveis pela clínica, o Sr. Anderson Silva, que é dentista e não médico, procurou o companheiro da Representante, afirmando que o ocorrido se tratava de um caso de alergia, uma ‘reação esperada’. E que para maiores solicitações procurasse o seu advogado. Demonstrando total desinteresse pelo evento realizado em sua clínica e que colocou em risco de morte uma paciente sua”, encerra a descrição enviada pela defesa da paciente.

Anderson diz que não atendeu mulher na clínica

Anderson Silva disse à reportagem do ND+ que não atendeu a mulher. “Eu tenho certeza absoluta que não atendi essa pessoa”, frisou. Ao ser questionado sobre quem fazia as aplicações de botox na clínica, o dentista explicou que somente ele e sua esposa realizavam o procedimento, mas que ela também não atendeu a paciente.

“Eu não atendi essa paciente, eu desconheço esta paciente. Há pessoas falando o que aconteceu e que não sabem o lote dos produtos, que é com certeza uma grande mentira. Todos os pacientes têm prontuários e eu sou obrigado a colocar o número de lote, número de produtos. É impossível eu fazer uma aplicação sem que tenha esse tipo de informação por se tratar de um medicamento”, declara.

Já a defesa da mulher garante que ela foi atendida na clínica, mas optou por não citar o nome do profissional que realizou o procedimento.

O Boletim de Ocorrência

A denúncia também foi registrada em boletim de ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia Civil da Capital. No inquérito já foram ouvidos Anderson e a esposa dele, Deisy. Os dois permaneceram em silêncio sobre as acusações durante os depoimentos.

Além do casal, três funcionários do hospital em que a mulher foi atendida, entre médicos e enfermeiros, também foram ouvidos como testemunhas. Um médico dermatologista da Hof Clinic também prestou depoimento.

Segundo a investigação da Polícia Civil, um médico legista do IGP (Instituto Geral de Perícias) constatou lesão corporal na vítima já durante o inquérito. Por este motivo, Anderson assinou um termo circunstanciado de que estava ciente da conclusão do IGP sobre a lesão corporal.

É importante destacar que o laudo foi anexado à investigação, a qual o ND+ teve acesso com exclusividade. O inquérito está em fase de conclusão para em seguida ser enviado ao MPSC (Ministério Público de Santa Catarina).

Bula do produto

Segundo Anderson, todos os clientes recebem a bula dos produtos aplicados. O documento foi encaminhado ao ND+. O botox em questão aborda conter “Frasco-ampola com 50 U, 100 U ou 200 U de toxina botulínica A”.

De acordo o documento, “conforme esperado para qualquer procedimento injetável, pode ocorrer: dor localizada, inflamação, parestesia, hipoestesia, sensibilidade, inchaço/edema, eritema, infecção localizada, sangramento e/ou hematoma. Relacionadas com a agulha: dor e/ou ansiedade tem resultado em respostas vasovagal incluindo hipotensão sintomática transitória e síncope”.

Imagem da bula do medicamento mostra possíveis reações – Foto: Reprodução/Bula Botox/ND

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