“A gente não quer levar um familiar em uma instituição que está caindo”. O relato da enfermeira Marta Mitterer, que passou a integrar a equipe do Hospital Governador Celso Ramos como gerente administrativa, resume o sentimento dos profissionais que dedicam suas horas de trabalho ao hospital e dos mais de 600 pacientes que são atendidos diariamente na unidade (entre cirurgias, ambulatório e emergência).
Localizado no coração de Florianópolis, o hospital é referência para quem busca atendimento para traumas, neurocirurgias, ortopedia e outras especializações na rede estadual.
A equipe do Grupo ND teve acesso exclusivo às instalações do HGCR (Hospital Governador Celso Ramos) para detalhar esse cenário.

Hospital Celso Ramos é referência em urologia,neurologia e traumato ortopedia no Estado – Foto: Marcelo Feble/Reprodução NDTV
Os problemas estruturais do HGCR começam a aparecer antes mesmo de entrar nas instalações do hospital.
A fachada tem aspecto de abandono, com as paredes esburacadas e desgastadas, além de desníveis nas rampas de acesso e deterioração das calçadas, trazendo desafios de acessibilidade.
Quem deixa o carro no estacionamento ou garagem do subsolo encontra um ambiente ainda mais precário: há histórico recente de vazamentos ocasionados pela drenagem pluvial insuficiente e até de esgoto no local.
Também no subsolo, próximo à garagem, fica a subestação elétrica, que é diretamente afetada por alagamentos ocasionados pelos graves defeitos da tubulação.
De volta à entrada do hospital, a cena recorrente é de uma grande fila de espera.
O local é procurado por demandas de todo tipo, desde dores de cabeça até cirurgias de alta complexidade. Diariamente, são cerca de 500 atendimentos considerando só a emergência e ambulatório.
Depois da longa espera na apertada recepção, quem acessa o hospital se depara com macas ocupadas por pacientes realocados nos corredores.
O diretor do HGCR, Michel Faraco, responde que esse é o cenário “normal”, devido à superlotação atual da unidade.
Acompanhada de Faraco, a equipe do Grupo ND percorreu longos trajetos em diversas alas e andares do hospital, e o maior desafio foi encontrar setores que não apresentassem problemas.
Faltam partes do teto, há fiação aparente, tem fungos na parede. Michel assumiu a direção do HCGR em abril, e mesmo para quem já é da área há anos, a situação encontrada assustou.
“Foi uma surpresa muito grande, pelas condições de climatização, elétrica, hidrosanitária. É bem preocupante”.
Os defeitos de estrutura são aparentes até mesmo nas áreas mais delicadas. Na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), os funcionários – que podem passar de 12h a até 24h dos seus dias no setor -, têm à sua disposição um banheiro apertado, com um grande buraco na parede e problemas na fiação.
O enfermeiro Paulo Prieto lida com a situação diariamente. “Parece que cada dia que eu venho o buraco aumenta. Mas eu tento fingir que não tem nada, põe uma toalhinha e a gente se acostuma, essa é a verdade”.
Nem mesmo no centro cirúrgico é diferente. Entre as 12 salas, as deteriorações de pisos, forros e paredes são aparentes na área.
No corredor, o cheiro é de fio queimado. Daiana Cesconetto, enfermeira, revela que a fiação é sobrecarregada pelos equipamentos do setor, como laser, microscópio, ultrassom e aparelhos de endoscopia, por exemplo. “Às vezes chega a cair a energia”.
A sala de neurocirurgia sofre com infiltrações e problemas de climatização.
“O fluxo de ar é muito pequeno, e pela quantidade de equipamentos, ela fica superaquecida, em uma temperatura que não é ideal para cirurgia”, destaca Daiana.
Desconfiada, a enfermeira faz questão de checar com o diretor do hospital: “eles podem mostrar isso?”.
Normalmente não faria sentido a própria administração expor os defeitos estruturais dessa forma. Porém, a ideia da nova gestão – tanto dos hospitais quanto da pasta de Saúde no governo do Estado – é justamente revelar o tamanho da precariedade presente na saúde pública catarinense.
O decreto publicado no dia 28 de março prevê obras de reparação da estrutura nas unidades avaliadas como “as mais críticas”.
“O que nos cabe é mostrar essa situação e correr atrás dos recursos para melhorar”, diz Michel Faraco. O diretor ressalta a parte elétrica e hidráulica, que tem ocasionado sérios problemas e riscos para profissionais e pacientes, mas diz que “é difícil elencar uma prioriade”.