Familiares lamentam ‘absolvição’ em acidente aéreo que matou catarinense e 277 pessoas

A absolvição da fabricante europeia Airbus e da companhia Air France pelo acidente do voo AF447 Rio-Paris, nesta segunda-feira (17), provocou revolta entre os familiares das 228 vítimas.

Esse foi o desastre mais mortal da história da Air France – Foto: Divulgação/FAB/ND

“Esperávamos um veredicto imparcial, não foi o caso. Estamos enojados”, disse Danièle Lamy, presidente da associação Entraide et Solidarité AF447, que representa as famílias das vítimas.

“Destes 14 anos de espera, nada resta além de desesperança, consternação e raiva”, acrescentou.

“Eles nos dizem: ‘Responsáveis, mas não culpados’. É claro que nós esperávamos a palavra ‘culpados’”, afirmou Alain Jakubowicz, advogado da associação.

“Não faz sentido”

“Não faz sentido para mim”, lamentou com a voz trêmula Ophélie Toulliou, que perdeu o irmão no acidente, compartilhando seu “sentimento de injustiça” e “incompreensão”.

Em um comunicado, a Air France afirmou que “toma nota do veredicto”. “A empresa sempre se lembrará das vítimas deste terrível acidente e expressa sua mais profunda compaixão a todas as suas famílias”.

A Airbus considerou que a decisão é “coerente” com o arquivamento proferido no final da investigação em 2019, tendo também manifestado sua “compaixão” e seu “compromisso total (…) com segurança aérea”.

Relembre o acidente

Em 1º de junho de 2009, o avião que operava o voo AF447 entre Rio de Janeiro e Paris caiu enquanto sobrevoava o Oceano Atlântico, poucas horas após a decolagem.

Todos os 216 passageiros e 12 tripulantes a bordo morreram no acidente mais mortal da história das companhias aéreas francesas.

A bordo do avião, um A330, estavam passageiros de 33 nacionalidades, incluindo 61 franceses, 58 brasileiros, dois espanhóis e um argentino. A tripulação de 12 pessoas consistia em 11 franceses e um brasileiro.

Entre as vítimas, estava a catarinense Deise Possamai, de 34 anos. Ela era natural de Nova Veneza, no Sul catarinense, mas morava em Criciúma, onde atuava como fiscal de tributo da prefeitura. Deise havia tirado uma licença de dois anos para ir à Itália.

A sentença gerou grande expectativa, após uma maratona processual marcada por opiniões conflitantes dos magistrados. No final do julgamento, que ocorreu de 10 de outubro a 8 de dezembro, o tribunal pediu a absolvição de ambas as empresas, por considerar “impossível provar” sua culpa.

As empresas cometeram “imprudências” –

Nos dias seguintes ao acidente foram encontrados os primeiros restos do avião e dos corpos. Mas a fuselagem foi localizada somente dois anos depois, a uma profundidade de 3.900 metros.

As caixas-pretas confirmaram que os pilotos, desorientados por uma falha quando as sondas de velocidade Pitot congelaram no meio da noite, não conseguiram impedir a queda do avião, que ocorreu em menos de cinco minutos.

O tribunal considerou que a Airbus cometeu “quatro imprudências, ou negligências”, especialmente por não ter substituído nas aeronaves A330 e A340 os modelos de sondas Pitot denominados “AA”, que pareciam congelar com mais frequência e haviam apresentado falhas nos meses anteriores.

A fabricante francesa também teria ocultado informações das companhias aéreas e deveria ter atualizado seu procedimento de estol (perda de sustentação), de acordo com o tribunal.

A Air France ainda teria cometido duas “imprudências”, relativas às modalidades de divulgação de uma nota informativa dirigida aos seus pilotos sobre as falhas das sondas.

Na esfera criminal, no entanto, segundo o tribunal, “uma relação de causalidade provável não é suficiente para tipificar um crime”, já que seria necessário provar que, sem esses erros, “a morte das vítimas não teria ocorrido”.

O tribunal adiou a questão da avaliação dos danos e prejuízos para uma audiência em 4 de setembro.

*O texto original da AFP foi alterado e acrescentado informações sobre a catarinense Deise Possamai que estava no voo. 

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