Criciúma sonha alto, mas caminho passa pela mudança do estádio Heriberto Hülse

Passa pelo icônico estádio Heriberto Hülse a troca de patamar do Criciúma no futebol. Com a elite nacional em seu horizonte, o atual campeão catarinense das duas primeiras divisões tem incontáveis motivos para sorrir, mas sabe que, lá no fundo da euforia, terá que tomar um remédio amargo se realmente quiser se consolidar como uma potência no Sul do País.

Estádio Heriberto Hülse, do Criciúma - NDTV/Divulgação/ND
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Estádio Heriberto Hülse, do Criciúma – NDTV/Divulgação/ND

Nem a iluminação do Heriberto Hülse é adequada para jogar a Série A - NDTV/Divulgação/ND
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Nem a iluminação do Heriberto Hülse é adequada para jogar a Série A – NDTV/Divulgação/ND

Heriberto Hülse e sua história; velho casarão precisa de importantes ajustes - NDTV/Divulgação/ND
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Heriberto Hülse e sua história; velho casarão precisa de importantes ajustes – NDTV/Divulgação/ND

A reforma ou até mesmo demolição do Heriberto Hülse compõem a pauta da direção do Criciúma. Entre os torcedores, o tema ganha ares de tabu.

Com uma gestão e um momento consolidados no Sul de Santa Catarina, a realidade que se desenha é bem clara: o clube vive a maior oportunidade de retornar à Série A desde o descenso, em 2014.

Neste domingo (16), foram quase 14 mil pessoas presentes no Majestoso para acompanhar a estreia com vitória na Série B 2023. Placar de 2 a 0 sobre o Tombense, atuação segura em duelo marcado pela festa da torcida no reencontro após o título estadual.


Comitiva do Criciúma expões os troféus conquistados pela atual gestão – Vídeo: Diogo de Souza/ND

A atmosfera registrada na ensolarada manhã de domingo chancela os prognósticos: o Criciúma é candidato não só a uma vaga na elite, como ao título de campeão brasileiro da Série B.

“Tínhamos como missão e compromisso assumido com o torcedor de reconquistar a hegemonia do futebol catarinense. O Criciúma está em uma curva ascendente. […] É possível sim, voltar a elite do futebol brasileiro, não para passear, mas por um período longo”, afirma o presidente Vilmar Guedes.

Presidente Vilmar Guedes, do Criciúma; gestão segura e próspera no Criciúma – Foto: Caio Marcelo/Especial para o ND

As palavras do presidente Guedes, no entanto, só externam um sentimento que pinta as ruas e logradouros de Criciúma. Mas a direção, torcedores, comunidade e até os bancos da Praça das Nações sabem que o clube precisa aumentar o conforto e a acomodação do seu bem mais precioso: o torcedor.

Jogar pela América

“Jogar pela América é que eu imagino”. Trata-se de uma afirmação cantada pela torcida Barra Os Tigres, denominada Loucos em Volta do Estádio.

Um cântico que, naturalmente, expressa um desejo de toda a torcida do Criciúma. Um sonho que volta a ser possível perante um cenário de contas em dia, custos planejados e um time competitivo.

É um caminho possível para todos os clubes que, no Brasil, se habituaram a jogar a Série A do Campeonato Brasileiro – exemplo de participações emergentes como as de Fortaleza, Red Bull Bragantino, Atlético-GO e  América-MG.

“Todo torcedor do Criciúma sonha em poder acompanhar o time pela América, como foi no passado e como diz a letra de uma música nossa. Seja na Libertadores ou na Sul-Americana, meu sonho é poder voltar a disputar essas competições”, admitiu Fabiano Coelho, vice-presidente da organizada, que tem lugar cativo à esquerda das cabines de transmissão do estádio Heriberto Hülse.

Tudo isso, para conviver entre os grandes, é preciso também ter uma estrutura condizente. Para o vice-presidente administrativo do Criciúma, Alexandre Farias, existem alguns “detalhes”, quase imediatos, que já exigem do clube e do estádio essa capacidade.

Confira o que disse o vice-presidente

Alexandre Farias, vice-presidente administrativo do Criciúma – Vídeo: Caio Marcelo/Especial para o ND

O Heriberto Hülse hoje

A pauta é uma realidade. Há uma consciência de que o estádio Heriberto Hülse, por mais lendário e majestoso que seja, é insuficiente para uma pretensa Série A.

>>> O estádio Heriberto Hülse está pequeno para o Criciúma? Vote!

As arquibancadas, quando comparadas às principais arenas do País, são arcaicas. É o ultrapassado cimento pintado, uma realidade da longínqua década de 90.

“Almofadinha não pode faltar, tenho um problema grave de hemorroida” berrou um torcedor, sem nenhum constrangimento, cerca de meia-hora antes da bola rolar na estreia de Criciúma e Tombense pela Série B.

“O nosso estádio é muito especial, eu tenho medo que a gente perca essa magia que tem aqui, mas ele tá velho. Precisaria de uma reforma”, externou um jovem torcedor.

Criciúma vem numa crescente nos últimos anos; precisa refletir mudanças em seu estádio – Foto: Diogo de Souza/ND

Outro adepto, mais realista, lembrou que a necessidade existe, mas ele teme por pensar onde o time teria que mandar seus jogos enquanto o Heriberto Hülse é submetido às reformas.

“Pode ver, todos os times que tiveram que sair de casa por motivos de obras, caíram de divisão. E além do mais, a gente não tem estádio decente pra jogarmos aqui na região. É uma situação delicada”, analisou, preocupado.

Arena longe da cidade?

A direção do clube, em meio aos seus pares, já contorna o assunto ciente de que é preciso, no mínimo, se preparar. Não trata-se de uma solução a curto-prazo até porque, seja qual for o caminho escolhido pelo clube, são obras e obras custam tempo e dinheiro.

Alexandre Farias nos recebeu em uma das salas do charmoso Heriberto Hülse - Caio Marcelo/Especial para o ND
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Alexandre Farias nos recebeu em uma das salas do charmoso Heriberto Hülse – Caio Marcelo/Especial para o ND

Vice-presidente Alexandre Farias, do Criciúma - Caio Marcelo/Especial para o ND
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Vice-presidente Alexandre Farias, do Criciúma – Caio Marcelo/Especial para o ND

Alexandre Farias é vice-presidente administrativo; ele nega mas tem quem diga que pode ser o próximo presidente do Tigre - Caio Marcelo/Especial para o ND
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Alexandre Farias é vice-presidente administrativo; ele nega mas tem quem diga que pode ser o próximo presidente do Tigre – Caio Marcelo/Especial para o ND

Dirigentes mais sonhadores, por exemplo, veem o futuro do Heriberto Hülse longe do centro da cidade.

Sem ter muito para onde crescer na região central do município, um outro caminho aponta para a construção de um novo palco no terreno de 100 mil metros quadrados, no bairro Cristo Redentor, onde fica o Centro de Treinamento Antenor Angeloni, um dos mais modernos e respeitados do Brasil.

Outra parcela mais conservadora do clube, que é a característica dada a atual gestão, entende que é preciso aumentar o conforto da atual casa.

“Seria o maior erro da história do Criciúma, tirar seu estádio aqui do centro da cidade”, decretou Alexandre Farias, em entrevista concedida ao Arena ND+.

Para o gerente administrativo e de finanças, Paulo César Bitencourt, trata-se de uma necessidade do Criciúma de “melhorar a experiência” do seu torcedor. Aumentar o seu conforto e a capacidade do próprio estádio.

Criciúma é o recordista de sócios em Santa Catarina: são 18 mil ativos, segundo repassado pelo clube – Foto: Leo Munhoz/ND

“Nós temos uma média de público de pouco mais de 12 mil pessoas. Nossa capacidade é de mais de 19 mil, se for ver, nós temos uma margem ainda dentro da nossa casa. Não está faltando lugar para ninguém no nosso estádio”, ponderou.

Localização privilegiada

Localizado no centro de Criciúma o estádio Heriberto Hülse é lembrado e saudado por ficar em posição estratégica. A menos de 10 minutos do terminal central da cidade, possibilita que os torcedores cheguem a pé de todos os cantos, mas não tem estacionamento.

Criciúma está por toda a parte - Diogo de Souza/ND
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Criciúma está por toda a parte – Diogo de Souza/ND

O Criciúma está por toda a parte onde se olha, em Criciúma - Diogo de Souza/ND
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O Criciúma está por toda a parte onde se olha, em Criciúma – Diogo de Souza/ND

O debate conta com admiradores – e outros nem tanto – na vizinhança. Para o torcedor Lourival Picher, que tem 71 anos e é quatro anos mais velho que o estádio, é uma incomodação sem tamanho, principalmente, em dias de jogos. Mas ele admite que não se imagina “sem essa incomodação”.

“As vezes eu acho que isso que me faz viver até hoje, acordar para ver essas ruas tomadas de carvoeiros chegando ao estádio. Imagina acabar com isso aqui?”, indagou Lourival, que é aposentado e torcedor – segundo ele – fanático.

Outra moradora da região, que pediu para não ser identificada com medo de represálias, revelou que para ela, a retirada do estádio é um “sonho”.

“Olha eu duvido muito, mas adoraria morar aqui em paz e sem tumulto do futebol. As vezes tenho que sair ou chegar de casa com duas horas de diferença para o horário do jogo, caso contrário, preciso passar pelo constrangimento de pedir autorização [para a polícia] para poder entrar na minha própria casa. Eu acho isso um inferno”, desabafou.

Vai pra onde?

Outro ponto alertado pelos envolvidos na questão diz respeito ao futuro do futebol do clube. Seja para ampliar o estádio ou até mesmo construir um novo – que passaria pela venda do terreno e demolição do atual – resultaria em um hiato de anos.

O vice Alexandre Farias é bem prático ao tentar elucidar o tamanho do “problema” em uma das eventuais opções.

“O que eu faço com os 18 mil sócios do clube, vou mandar esses jogos do time para onde?”, indagou.

Vice-presidente administrativo do Criciúma falou com a reportagem do Arena ND+ – Vídeo: Caio Marcelo/Especial para o ND

Heriberto Hülse

Carinhosamente chamado de “Majestoso”, o estádio Heriberto Hülse é o local onde o Criciúma Esporte Clube manda suas partidas. Foi inaugurado em 16 de outubro de 1955, com uma partida entre Comerciário e Imbituba, onde a equipe imbitubense levou a melhor, vencendo por 1 a 0.

Estádio Heriberto Hülse, em meio aos prédios de Criciúma; localização é um problema? – Foto: NDTV/Divulgação/ND

No início, o gramado foi projetado ao contrário do que é hoje, sendo uma das goleiras voltadas para o portão principal. Foi o goleiro do Comerciário, Mário, que alertou a diretoria. Naquela posição o sol atrapalharia os zagueiros e o goleiro a qualquer hora do dia.

Atualmente, tem capacidade para 19.225 torcedores, em decorrência de uma adequação às normas do estatuto do torcedor.

O maior público registrado no Majestoso, como é conhecido pela torcida, foi em 6 de agosto de 1995 no jogo Criciúma 1 x 0 Chapecoense, pelo Campeonato Catarinense. O jogo teve 31.123 expectadores e uma renda de R$ 115.815,00.

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