“Morrer de fome é criminoso”, diz ex-professora da UFSC homenageada na Alesc

Neila Maria Viçosa Machado ao lado da sua homenagem

“Ninguém pensa que fome é um crime, mas morrer de fome é criminoso”, é assim que a professora aposentada Neila Maria Viçosa Machado, do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), expressa sua indignação pelas condições atuais do país em relação à fome. Neila, que desde meados do anos 90 é ativista na luta contra a fome no país, foi homenageada pela Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc), no dia 27 de março, em razão do seu envolvimento com a Campanha da Fraternidade 2023, projeto veiculado à Igreja Católica voltado ao objetivo de mitigar a fome dos catarinenses.

Neila conta que atuou na UFSC por 31 anos até a sua aposentadoria, em 2015. Mas nunca deixou de apoiar os movimentos sociais que atuam na temática de acesso à alimentação no país. Durante o período da pandemia da covid-19, participou ativamente de palestras e conselhos de segurança alimentar organizados e apoiados por estes movimentos. A sua trajetória na Universidade deu vida a Teia de Articulação pelo Fortalecimento da Segurança Alimentar e Nutricional (TearSAN), grupo que trabalha com a segurança alimentar e adicional em todos os seus níveis da soberania alimentar do alimento como direito humano e da própria segurança alimentar

Placa com a homenagem recebida na Alesc

“Atuar na nutrição não é apenas cuidar da estética do prato composto pelos grupos nutricionais, é mais que isso, é garantir para as pessoas tenham acesso ao alimento e isso passa pela criação de política pública”, explica, ao lembrar da situação atual do país em relação a pobreza e fome. No Brasil, mais de 30 milhões de pessoas passam fome, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Cerca de 125 milhões de brasileiros enfrentam algum nível de insegurança alimentar, conforme o Grupo de Pesquisa Alimento para Justiça: Poder, Política e Desigualdades Alimentares na Bioeconomia.

“Eu desliguei o telefone e chorei”, conta emocionada, sobre o momento que recebeu a notícia da homenagem. “Chorei por que era o movimento social”, diz Neila, que havia sido informada que foram os representantes dos movimentos sociais que a indicaram para receber a honraria. Ela chega a comparar o momento em que recebeu esse tão feliz telefonema com a aprovação e orgulho de seus pais  lhe dariam caso ainda estivessem vivos.

Entrada da sede do TearSAN, onde Neila atuou ativamente durante sua jornada na UFSC

“Isso foi muito bom, porque todo seu trabalho é reconhecido. É se sentir parte daquilo”, relata. Em seu depoimento, ela ainda revela que não pretende se afastar tão cedo do ativismo e de seus projetos relacionados a qualidade da alimentação da população, segurança alimentar e acesso as políticas públicas para que todas as pessoas em situação de vulnerabilidade social possam sair da situação de pobreza. “Eu tenho claro que eu eu vou continuar nessa luta”, afirma segura de si.

Texto e fotos por Matheus Alves/estagiário de Jornalismo da Agecom/UFSC

 

 

 

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