Por meio de cartas, alunos expressam sentimentos em escola de Joinville

Em um país que registra índices significativos de ansiedade, com quase 10% da população convivendo com o transtorno, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), fazer do ambiente escolar um espaço de fala – como acontece na Escola Municipal Governador Pedro Ivo Campos – é o primeiro passo para dar vida aos sentimentos.

Professora aproveita a parede com as cartas para registrar o momento da entrega na escola, quando pais retiraram os envelopes

Professora aproveita a parede com as cartas para registrar o momento da entrega na escola, quando pais retiraram os envelopes – Foto: EM Governador Pedro Ivo Campos/Divulgação

Por lá, a professora de ensino religioso Nayara Lourenço de Souza conduziu a escrita de carta dos alunos para os pais/responsáveis, entregue na primeira reunião escolar do ano. O projeto foi uma iniciativa em parceria com a gestão da unidade.

O objetivo era simples: colocar no papel os sentimentos, tendo como destinatário os pais e responsáveis. O desafio, lançado para os alunos do sexto ao nono ano do Ensino Fundamental, produziu entre 500 e 600 cartas. Os envelopes foram fechados, carregando na folha o nome da iniciativa: “Projeto Fala Pra Mim”.

Por mais que a ideia de escrever possa parecer algo simples, é neste momento que nos damos conta dos sentimentos, e o maior desafio é saber o que colocar na folha em branco. “Adolescente às vezes esquece. Tem uma pessoa por perto, mas às vezes esquece de falar ‘eu gosto de você’, ‘eu amo você’, ‘obrigada por fazer isso por mim’”, conta a professora.

Além de servir como espaço para compartilhar as angústias, aflições e alegrias, a atividade também foi o ponto de partida para uma aproximação. “Essa questão de valorizar a nossa família, os responsáveis, na minha visão, é muito importante porque isso chama a família para a escola. Se a família se sente valorizada, vai querer acompanhar, vai querer estar ali”, comenta Nayara.

Para a orientadora dos anos finais, Luzia Riba Hammes, o ganho também é perceptível para quem começa a expressar sentimentos. “Eles só querem ser ouvidos. Contam a situação que está em casa, o relacionamento deles, a dificuldade que estão tendo, mas eles querem mesmo é ser ouvidos”, finaliza a profissional.

A dificuldades em expressar os sentimentos está presente em todas as idades, seja pela rotina agitada ou pela falta de hábito.  Para estar próximo de quem amamos ou para evidenciar o valor do outro, as palavras têm um poder que ultrapassa as linhas, dando vida aos momentos que vamos guardar na memória — seja o abraço de um amigo ou uma mensagem carinhosa.

Alunos e professora que participaram da entrega das cartas na escola, projeto que trabalha os sentimentos dos jovens

Alunos e professora que participaram da entrega das cartas na escola, projeto que trabalha os sentimentos dos jovens – Foto: Renata Bomfim/ Divulgação

Troca-troca de sentimentos

As cartas foram escritas em sala de aula, depois de muita análise e algumas conversas com a professora, quando necessário. O passo seguinte foi lacrar o envelope e colocar os itens pelos muros da escola. Durante a reunião pedagógica com os pais e responsáveis, cada um foi convidado a levantar e buscar a produção do próprio filho.

A surpresa seguinte foi responder ao texto, produzindo cartas que foram entregues à turma. No caso dos estudantes, a troca foi parecida. A professora entrou em sala com diversos envelopes, direcionando para cada um os recebidos. Durante a escrita e no momento da leitura, as emoções começaram a fruir.

“Eu senti que tinha que colocar os meus sentimentos na carta, o que eu sentia pela minha mãe, o que eu tinha que falar pra ela”, declara Alice Oliveira Zimmer, 13, aluna do oitavo ano. O carinho maternal também esteve presente com Leônidas Fernando Scherer dos Santos, 13. Nesse caso, a demonstração de afeto é algo comum, com alguns recadinhos da mãe no caderno.

Como expressar os sentimentos?

Se você é muito fã da Disney, da Pixar e das animações, vai lembrar dos conflitos vividos por Riley durante o filme “Divertida Mente”. Mas como controlar esse turbilhão de sentimentos? Compartilhar aquilo que sentimos é uma das maneiras — assim ficamos mais “leves”.

Experimente dialogar com um amigo, com o professor ou colocar no papel aquilo que está afetando a sua concentração. Exponha e não tenha receio de explicar as sensações — basta encontrar uma forma confortável para compartilhar.

Nos casos em que você não sabe como lidar com os sentimentos, a dica é procurar a ajuda de um profissional capacitado.

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