‘Violência nas escolas’: como agir quando o ambiente escolar traz a sensação de pânico

Os últimos acontecimentos violentos em escolas do Brasil geraram grandes sentimentos de pânico e medo nas famílias, nos alunos e na população em geral. Será que essa sensação de insegurança é normal? E, se sim, existe alguma maneira de amenizar essa inquietação entre os estudantes?

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Crianças sentem medo de voltar às escolas – Foto: Pixabay/Reprodução/ND

Segundo a psicoterapeuta, Cristiane Pereira, ao presenciar essas situações é natural que a criança sinta medo e fique apavorada. Isso acontece, porque em uma situação de violência e medo é acionado no cérebro a amígdala central.

“Essa é uma parte fundamental para nossa sobrevivência que tem como papel gerir esse sentimento. Isso faz com que cada um tenha uma resposta diferente, de luta ou de fuga”, conta Cristiane.

Além disso, algumas crianças podem ficar extremamente preocupadas, pelo medo de que algo parecido possa acontecer no futuro. O psicólogo Rafael Frasson, diz que em outros casos, os estudantes podem gerar crises depressivas, que é aquela tristeza intensa motivada por uma situação  muito dolorosa.

Traumas que podem desencadear

Frasson explica que alguns traumas podem surgir e isso representa uma tentativa do organismo de manter-se preparado para um novo evento traumático.

Existem casos em que os estudantes podem não querer mais participar das aulas, ter problemas para se concentrar e, em alguns momentos, eles podem até sentir dificuldade de ficar no ambiente escolar. Além disso, é comum o aparecimento de insônia, náuseas e até mesmo perda de apetite.

Papel da família e da escola

O papel dos pais e das escolas é muito importante em momentos assim. Segundo o psicólogo, a família deve acolher e estar atenta a possíveis mudanças de comportamento da criança.

Na escola, o próprio movimento de respeitar essa fase de luto, com as homenagens, é essencial. Além disso, ter acompanhamento psicológico é uma outra forma de acolher e ajudar essas crianças.

Os pais devem primeiramente acolher e ajudar essas crianças – Foto: Freepik/ND

“Os pais devem buscar observar se a criança está preparada para retornar. Caso contrário, isso poderá agravar o quadro da criança. Portanto, é indispensável prestar o acolhimento imediato a essa criança, buscar ajuda da psicoterapia para cuidar da saúde mental dela e acima de tudo, os pais devem estar fortalecidos para não causar mais pânico”, avalia a psicoterapeuta Cristiane.

Ela ainda aconselha que os pais busquem a utilização de uma comunicação não violenta. “Neste momento, a conversa é essencial. Jamais deixe uma criança sem respostas ou com dúvidas. Pois é dessa forma que ela preenche essa lacunas com informações inadequadas e o resultado pode ser negativo”, recomenda.

Por mais que alguns pais acreditem que mudar a escola do filho seja a solução, Cristiane diz que o medo não está associado apenas àquela escola e, sim, está dentro da mente da criança que presenciou a violência, o que é extremamente natural.

Gatilhos e motivações

Na terça-feira (18), o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), falou sobre ações do governo para conter os atos de violência nas escolas. E, em seu discurso, falou sobre o suposto efeito dos “jogos online”. Segundo ele, não tem game falando sobre amor, só ensinando a matar.

Cristiane relata que as crianças absorvem o ambiente, ou seja, dentro do processo de formação da sua estrutura psíquica existe jogos e brincadeiras que são educativos indicados para cada faixa etária.

Esse tipo de jogo com certeza influencia de forma negativa fazendo com que as crianças cresçam acreditando que ser violento é normal e sair repetindo isso. “Com certeza cabe aos pais administrar isso e não deixar que a criança tenha acesso à conteúdos que seriam para adultos”, aponta.

Um futuro melhor se faz na base

Essas situações, como a tragédia em Blumenau, em Santa Catarina, geram uma comoção muito grande e, segundo Rafael, é necessário que as pessoas reflitam de que forma estão criando seus filhos, pois um dia, elas serão adultas.

“Precisamos ser adultos mais saudáveis mentalmente, tanto para conseguirmos viver nesse mundo, quanto para não cometer atos que gerem essas tragédias novamente”, atesta o psicólogo.

Cristiane também acrescenta que a principal forma para conduzir melhor as crianças é trabalhando com a saúde emocional dos adultos. “Muitas famílias hoje em dia estão desestruturadas e dessa forma é inevitável que a criança torne um adulto diferente.”

A psicoterapeuta ainda diz que “é impossível prestar uma educação positiva e não violenta quando a violência está dentro de casa, ou seja, na mentalidade de muitos pais”, enfatiza.

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