Combates sangrentos no Sudão forçam países estrangeiros a evacuar cidadãos

Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido, entre outros, começaram a retirar, neste domingo (23), seus cidadãos e pessoal diplomático do Sudão, onde combates sangrentos entre o exército e paramilitares entraram em sua segunda semana.

A violência no país do nordeste africano, de cerca de 45 milhões de pessoas, eclodiu em 15 de abril entre o exército do general Abdel Fatah al-Burhan, governante de fato do Sudão desde o golpe de 2021, e seu rival, o general Mohamed Hamdane Daglo, líder das Forças de Apoio Rápido (FAR).

Comboio deixa Cartum, capital do Sudão, após combates sangrentos – Foto: Abubakarr JALLOH/AFP

Os violentos confrontos acontecem essencialmente em Cartum, a capital, e na região de Darfur, no oeste do país. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 420 pessoas morreram e 3.700 ficaram feridas até agora.

Os presos foram libertados de pelo menos uma prisão, disseram os advogados, enquanto outras fontes relatam, sem verificação independente, ataques a outras duas prisões, principalmente a de Kober, que abriga todos os presos políticos, incluindo o ditador deposto Omar al-Bashir.

A violência também deslocou dezenas de milhares de pessoas para outros estados no Sudão ou nos vizinhos Chade e Egito.

Vídeos gravados pela AFP mostram dezenas de veículos das Nações Unidas saindo da capital rumo a Porto Sudão, cidade às margens do Mar Vermelho, de onde 150 pessoas partiram no sábado.

“Retirada complexa e rápida”

A França lançou uma “operação de evacuação rápida”, anunciou o Ministério das Relações Exteriores neste domingo (23). A operação inclui também cidadãos europeus e de países aliados.

A Itália também indicou que está tentando tirar seus cidadãos do país, assim como a Turquia, que foi forçada a interromper sua operação devido a uma explosão perto do ponto de encontro no bairro de Kafuri, ao norte de Cartum.

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, informou que o exército de seu país realizou uma “retirada complexa e rápida” de diplomatas britânicos e suas famílias. Em uma publicação no Twitter, Sunak enfatizou que a retirada foi realizada em um “contexto de violência crescente e ameaças contra funcionários da embaixada”.

Os Estados Unidos também evacuaram seu pessoal diplomático de Cartum com helicópteros, disse o presidente Joe Biden horas antes em um comunicado. Washington também suspendeu temporariamente as operações de sua embaixada.

Sem cessar-fogo

Os combates acirrados entre as forças dos dois generais no poder não cessam.

Os tiroteios se agravam na capital e arredores. Aviões de combate sobrevoam a área enquanto os blindados paramilitares avançam.

Os ataques já destruíram ou forçaram o fechamento de “72% dos hospitais” nas zonas de combate, alertou o sindicato dos médicos.

Nas ruas, os embates deixam seus rastros. Os postes de iluminação estão caídos no chão, enquanto algumas lojas incendiadas continuam exalando colunas de fumaça.

Moradores entrincheirados

Para o pesquisador Hamid Jalafallah, “pedir corredores seguros para evacuar os estrangeiros sem ao mesmo tempo pedir o fim da guerra seria terrível”.

“Os atores internacionais terão menos peso quando saírem do país: façam o que puderem para sair com segurança, mas não deixem os sudaneses para trás sem proteção”, apelou.

Em Cartum, população de 5 milhões de pessoas, o conflito deixou civis aterrorizados em suas casas. Muitos temem uma intensificação da violência após a partida dos estrangeiros.

Presos entre os combates, eles carecem de água e eletricidade, enquanto as reservas de alimentos estão se esgotando. As redes de Internet e telefonia funcionam de forma intermitente.

A primeira evacuação foi possível devido ao declínio dos combates na sexta-feira (21), primeiro dia do festival Eid al-Fitr, que marca o fim do mês sagrado muçulmano do Ramadã.

A disputa entre Burhan e Daglo surgiu devido aos planos para integrar as FAR ao exército regular, um requisito fundamental do acordo para restaurar a democracia no Sudão após o golpe militar que derrubou o governante autocrático Omar al-Bashir em abril de 2019.

O Programa Mundial de Alimentos alertou que milhões podem passar fome devido à violência, no terceiro maior país da África, onde um terço da população precisa de ajuda humanitária.

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