Pesquisadores estudam a produção de pepino-do-mar em cativeiro no litoral de SC

Um grupo de pesquisadores da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão rural) está desenvolvendo um estudo sobre a possibilidade de produzir pepino-do-mar em cativeiro no litoral de Santa Catarina.

Imagem mostra pepino-do-mar

Pesquisadores da Epagri realizam estudo para iniciar a produção de pepino-do-mar no litoral catarinense – Foto: Epagri/Divulgação/ND

A pesquisa é desenvolvida em parceria com a Univali (Universidade do Vale do Itajaí) e dividida em duas fases, sendo que uma já foi concluída.

“Ainda é cedo para afirmar se teremos sucesso na criação de uma tecnologia que permita o cultivo deste animal no litoral catarinense, mas os resultados iniciais são promissores”, explica Guilherme Rupp, pesquisador do Cedap (Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca) da Epagri e coordenador dos projetos.

O pepino-do-mar é da mesma família do ouriço e da estrela do mar. Apesar de ser pouco consumido no Brasil, é considerado uma iguaria em outros países, principalmente na Ásia.

Por conta da alta demanda, o preço de um quilo do animal pode variar entre US$300 (R$ 1,5 mil) e US$1mil (R$ 5 mil) no mercado exterior.

O coordenador dos projetos afirma que o interesse não se deve ao seu sabor, pois é caracterizado de forma suave. Porém, a carne do animal tem propriedades netracêuticas e farmacológicas, sendo utilizada na medicina tradicional oriental como anti-inflamatórios e antirreumático.

Assim como também foram comprovadas em laboratório atividades antitumorais, antivirais e antibacterianas, além de ser rica em colágeno. Por conta disso, é considerada matéria-prima de interessa das indústrias farmacêuticas e cosmética.

Importância no ecossistema

O pepino-do-mar se alimenta de resíduos de outros organismos que se acumulam no fundo. Em seguida, expele areia limpa e nutrientes inorgânicos após a digestão, no que pode ser considerado um trabalho de limpeza no fundo do mar e reciclagem de nutrientes.

Pepino-do-mar pode contribuir com o equilíbrio do pH – Foto: Epagri/Divulgação/ND

O animal também atua no equilíbrio do pH da água salgada, ajudando a combater um dos maiores riscos do acúmulo de CO2 na atmosferam que é a acidificação dos oceanos.

“A captura ilegal é um problema mundial, quando uma população declina, é difícil de ser recuperada”, alerta Guilherme Rupp.

A pesquisa com o objetivo de analisar a população do pepino-do-mar em Santa Catarina e a reprodução, aplicada entre 2019 e 2022 com recursos da Epagri, identificou três espécies do animal habitando o litoral catarinense, uma delas que ainda não havia sido descrita para a região.

Com esse estudo, os pesquisadores reuniram informações que poderão permitir um eventual repovoamento do animal, caso ele venha a correr risco de desaparecer no litoral do Estado. Segundo Guilherme Rupp, casos de pesca ilegal do pepino-do-mar são frequentes no Brasil e já foram registrados até em Santa Catarina.

Resultados

A segunda etapa da pesquisa iniciou ainda no ano passado e tem como objetivo ser concluída em 2024, com financiamento da Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina).

Segunda etapa da pesquisa deve seguir até 2024 – Foto: Epagri/Divulgação/ND

Ainda de acordo com a Epagri, a proposta é desenvolver a tecnologia para cultivo integral do pepino-do-mar em Santa Catarina, usando uma das três espécies identificadas no litoral catarinense.

O pesquisador revela que desenvolver tal tecnologia constitui um grande desafio, pois essa é uma nova espécie para a aquicultura. Os resultados obtidos desde 2019 são promissores, na avaliação do pesquisador da Epagri. “Temos espécies de valor comercial e já avançamos nas pesquisas de reprodução”.

O estudo teve sucesso na indução da desova em laboratório e no cultivo das larvas até a fase de metamorfose. O pico de reprodução se dá nos meses mais quentes, por isso os experimentos de laboratório serão retomados ao final do ano.

Segunda etapa da pesquisa

A etapa da pesquisa está sendo realizada em áreas de maricultura no município de Penha, no litoral Norte catarinense. Entre a primavera de 2022 e o verão de 2023 foram iniciados experimentos de cultivos integrados com ostras em dois sistemas, um suspenso e um de fundo de mar.

Guilherme entende que Santa Catarina tem as condições propícias para se tornar o primeiro estado brasileiro a produzir pepinos-do-mar em escala comercial.

“Temos uma cadeia produtiva de moluscos consolidada, existem áreas aquícolas demarcadas e o cultivo de pepino-do-mar pode minimizar o impacto ambiental da produção de ostras e mexilhões, quando cultivados em proximidade destes”, complementa o pesquisador.

Se os estudos prosseguirem com resultados positivos, a criação de pepinos-do-mar em cativeiro poderá trazer inúmeras vantagens para Santa Catarina.

Além de ser uma alternativa de diversificação para a maricultura catarinense, a nova cadeia produtiva teria alto valor agregado e traria ainda mais equilíbrio ao ecossistema marinho do Estado.

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