Travessia de ciclistas e pedestres sob a ponte Pedro Ivo Campos vira ‘filme de terror’

Apontado como um problema onipresente em todo o tipo e tamanho de cidade, o furto de fios não passa incólume em Florianópolis. O delito voltou a ser evidência na capital do Estado depois que as ações dos criminosos deixaram às escuras as pontes de acesso à Ilha de Santa Catarina.

Acesso a passarela da ponte Pedro Ivo Campos, do continente à Ilha de Santa Catarina - Diogo de Souza/ND
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Acesso a passarela da ponte Pedro Ivo Campos, do continente à Ilha de Santa Catarina – Diogo de Souza/ND

Passarela sob a ponte Pedro Ivo Campos - Diogo de Souza/ND
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Passarela sob a ponte Pedro Ivo Campos – Diogo de Souza/ND

Situação é de abandono e as vezes nem dá pra lembrar que foi reformada há um ano e meio - Diogo de Souza/ND
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Situação é de abandono e as vezes nem dá pra lembrar que foi reformada há um ano e meio – Diogo de Souza/ND

Quem chega em Florianópolis, à noite, não deixa de reparar. Imponente para quem entra na ilha, a Ponte Hercílio Luz está iluminada pela metade. A situação, de acordo com o que foi confirmado pela prefeitura da Capital, é o saldo do furto de fios e cabos nas imediações.

A situação é ainda pior na Ponte Pedro Ivo – que liga o continente à Ilha – sobretudo, na passarela que fica anexa à ponte, no lado externo da estrutura. O percurso de pouco mais de 1,2 quilômetro está completamente às escuras, em um cenário aterrorizante.


Situação da passarela Pedro Ivo Campos – Vídeo: Diogo de Souza/ND

A reportagem do Grupo ND constatou a situação no último domingo (23), ao tentar atravessar o local, à noite e de bicicleta, mas desistiu devido à total ausência de iluminação.

Ao optar pela Ponte Hercílio Luz, a situação era de escuridão parcial já que ela apresenta iluminação em apenas um ponto, mais próximo à cabeceira insular.

Imagens da Ponte Hercílio Luz – Vídeo: NDTV/Divulgação/ND

43 ocorrências

A situação que é uma realidade das grandes cidades do Brasil e um problema que vem sendo debatido em todas as esferas, também é monitorado pelos órgãos de segurança de Florianópolis e de Santa Catarina.

Segundo o tenente-coronel do 1º CRPM (Comando Regional da Polícia Militar), Julival Queiroz Santana, trata-se de um problema recorrente e praticado por homens e mulheres, basicamente com o mesmo fim: moeda de troca para aquisição de drogas.

São caixas iguais a essa - mas inteiras - que ocupam todo o trajeto sob a ponte; maior parte danificadas - Diogo de Souza/ND
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São caixas iguais a essa – mas inteiras – que ocupam todo o trajeto sob a ponte; maior parte danificadas – Diogo de Souza/ND

Depredação em todos os detalhes - Diogo de Souza/ND
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Depredação em todos os detalhes – Diogo de Souza/ND

Situação da iluminação da passarela, um ano e meio depois, é constrangedora - Diogo de Souza/ND
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Situação da iluminação da passarela, um ano e meio depois, é constrangedora – Diogo de Souza/ND

Na última semana um colegiado se reuniu, na sala junto a SIE (Secretaria de Infraestrutura do Estado), com representantes do MPSC (Ministério Público de Santa Catarina), PMSC, PC (Polícia Civil) e o Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) Florianópolis a fim de debater medidas que coíbam a prática que resulta em “impacto direto à sociedade e ao Estado”.

Conforme relatório repassado pelo comandante do 1º CRPM, foram 43 ocorrências registradas, em Florianópolis, desde o começo de 2022.

Em 2023, a primeira ocorrência de furto de fios foi em 4 de janeiro na rua Vereador José do Vale Pereira, em Coqueiros. Até o dia 25 de abril, já são 16 ocorrências.

Passarela reformada

Passagem de ciclistas e pedestres no local – Foto: Diogo de Souza/ND

A passarela da ponte Pedro Ivo contribui para a mobilidade urbana da Capital, já que se torna outra alternativa (junto com a Ponte Hercílio Luz) de travessia a pedestres e ciclistas.

As obras, que corrigiram importantes problemas estruturais, iniciariam em fevereiro de 2019 e foram concluídas em dezembro de 2021. A reforma esteve ligada à revitalização das pontes Pedro Ivo Campos e Colombo Salles, em um valor total investido pelo Estado de R$ 33 milhões.

Situação se alastra pelo centro da cidade

Há um pouco mais de um mês, a Praça Getúlio Vargas, também conhecida como Praça dos Bombeiros, teve a fiação elétrica furtada. Desde o dia 20 de março, data do furto, o espaço público fica totalmente escuro quando anoitece.

São escolas, comércios e prédios residenciais que rodeiam e dependem da praça, seja para transitar de um ponto ao outro, ou para relaxar e passar o tempo.

Situação comum no centro de Florianópolis - Leo Munhoz/ND
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Situação comum no centro de Florianópolis – Leo Munhoz/ND

Situação da Praça dos Bombeiros, no Centro de Florianópolis - Leo Munhoz/ND
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Situação da Praça dos Bombeiros, no Centro de Florianópolis – Leo Munhoz/ND

No boletim de ocorrência da Polícia Militar, consta que, no dia do acontecimento, os agentes conversaram com “um prestador de serviço local, que informou que o fato é recorrente”.

Os moradores e pedestres relataram um sentimento em comum: a insegurança. Além disso, a falta de energia elétrica compromete a rotina das pessoas que caminham por lá. É o caso da publicitária Cibele Albuquerque, que mora na região e levava o cachorro para passear das 18h em diante.

“Agora eu tenho que vir mais cedo porque a praça fica muito escura quando anoitece. Não dá para circular”.

Segundo Cibele, o problema não prejudica somente o passeio com o seu animal de estimação. “Antes de qualquer coisa, é uma questão de segurança pública”, afirma.

O professor Ruber Ávila conta que também costumava circular pela praça até tarde. “Ontem à noite eu vim aqui e até tinha gente passando, só que a gente fica sem saber quem é que tá vindo”, diz. “Não aconteceu nada comigo, mas a gente fica um pouco mais inseguro”.

O que diz a prefeitura

Apesar de serem de responsabilidade do governo de Santa Catarina, por meio da SIE, a iluminação pública é de competência municipal, de acordo com a  Constituição Federal.

Essa competência acontece mesmo que sejam referentes a vias estaduais e federais. Apesar de ter sido uma exceção durante um tempo quando era administrada pelo Estado, a ponte Hercílio Luz também passou a ser uma atribuição do município conforme acertado em contrato.

O município, a pedido da reportagem, divulgou uma nota no último dia 24, afirmando que as obras de restauração devem durar “entre 30 e 45 dias” e que pode ser realizado de uma maneira diferente, “que dificulta furtos de fiação”.

Confira a nota

A Prefeitura de Florianópolis informa que resolveu assumir a manutenção da iluminação da ponte Hercílio Luz. A estrutura da ponte e sua segurança continua como responsabilidade do Estado. Nas pontes Pedro Ivo e Colombo Salles, (que já tinham iluminação sob responsabilidade da PMF), assim como na Ponte Hercílio Luz, a obra deve durar entre 30 e 45 dias, por ser realizada com um projeto de cabeamento diferente, que dificulta furtos de fiação. Além disso, os trabalhos serão realizados exclusivamente no período noturno e com condições favoráveis.

Solução?

As autoridades discutiram sobre a efetivação de ações integradas multiagências para prevenção de crimes e intensificação da segurança e ordem pública nas pontes em Florianópolis.

Ponte Hercílio Luz – Vídeo: Diogo de Souza/ND

Dentre as propostas apresentadas, serão adotadas medidas de proteção patrimonial, com o monitoramento 24 horas, sob responsabilidade da SIE (contrato similar ao que existe sobre o túnel Antonieta de Barros); e a criação de vigilância patrimonial nos locais, com a contratação de serviços de guarda e colocação de guaritas nas entradas de acesso.

Além disso, a Polícia Militar, através de suas organizações, continuará com a atuação da preservação da ordem pública. Serão três ações: Inteligência Policial, Rondas Programadas; e operações de repressão qualificada dos crimes nas pontes e entornos, com o intuito de minimizar os furtos de fiação elétrica.

Objetivo e destinação

De acordo com o relatório repassado pela PMSC as ações de furtos e danos são realizadas por suspeitos que, inclusive, já foram presos a partir de recorrência e precedente.

A partir do ‘modus operandi’ dos infratores, a destinação dos produtos furtados vai de queima de fios para remoção dos invólucros de polímero; a ocultação do material; a venda para ferros velhos; juntamente com repasse para receptadores, uma vez que o cobre é extremamente valorizado no comércio.

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