{"id":2913,"date":"2023-04-14T06:25:26","date_gmt":"2023-04-14T09:25:26","guid":{"rendered":"https:\/\/sc.jornalfloripa.com.br\/lersc\/2913"},"modified":"2023-04-14T06:25:26","modified_gmt":"2023-04-14T09:25:26","slug":"regiao-de-sc-com-mais-casos-de-feminicidios-ja-iguala-vitimas-de-2022-em-3-meses","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/sc.jornalfloripa.com.br\/lersc\/2913","title":{"rendered":"Regi\u00e3o de SC com mais casos de feminic\u00eddios j\u00e1 iguala v\u00edtimas de 2022 em 3 meses"},"content":{"rendered":"

O Planalto Norte de Santa Catarina \u00e9 a regi\u00e3o que mais registra crimes com morte de mulheres em todo o Estado, com 15 v\u00edtimas. Nos tr\u00eas primeiros meses de 2023, cinco mulheres foram mortas por seus ex ou atuais companheiros na regi\u00e3o, mesmo n\u00famero registrado em todo o ano de 2022.<\/p>\n

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Planalto Norte de SC registrou cinco feminic\u00eddios em tr\u00eas meses \u2013 Foto: Carlos Jr\/ND<\/p>\n<\/div>\n

Uma dessas v\u00edtimas \u00e9 Lucimar de G\u00f3es Couto, morta com golpes de faca pelo ex-companheiro em 2 de janeiro, aos 44 anos. Lucimar era moradora de S\u00e3o Bento do Sul. \u201cPessoa querida, simp\u00e1tica, com sorriso no rosto\u201d, descreve Thalyta Rodrigues de Almeida, amiga da v\u00edtima.<\/p>\n

\u201cEra uma pessoa alegre, amava conversar com todos. Ela encantava todo mundo por onde ela passava, tinha muitas amigas ela queria viver\u201d, diz um parente de Lucimar, que n\u00e3o quis ser identificado.<\/p>\n

Lucimar se separou do ex-companheiro ap\u00f3s viver com ele um relacionamento abusivo. A amiga da catarinense conta que a mulher sempre demonstrava estar feliz, mas que, na verdade, escondia o que sentia.<\/p>\n

As poucas vezes que Lucimar falava sobre o relacionamento com as amigas, os desabafos geravam preocupa\u00e7\u00e3o. Segundo Thalyta, a v\u00edtima relatava que o ex-companheiro a agredia e que ela vivia um relacionamento abusivo.<\/p>\n

Ap\u00f3s a separa\u00e7\u00e3o, o homem tentou impedir Lucimar de ver a filha. \u201cEla falava \u2018t\u00f4 com tanta saudade da minha filha, aquele homem n\u00e3o deixa nem chegar perto dela\u2019\u201d, lembra a amiga.<\/p>\n

Inclusive, no dia do crime, ele teria fugido e levado a crian\u00e7a consigo. Durante a fuga, o acusado bateu o carro e deixou a filha do casal com uma fam\u00edlia. Ele se entregou posteriormente \u00e0 pol\u00edcia.<\/p>\n

Segundo a amiga de Lucimar, a mulher chegou a relatar que era agredida pelo companheiro. O delegado Gil Ribas, que investigou o caso, confirma que o acusado j\u00e1 tinha registros de viol\u00eancia e conta que, inclusive, j\u00e1 havia sido preso em flagrante por les\u00e3o. Em abril de 2022, a mulher tamb\u00e9m havia conseguido uma medida protetiva contra o suspeito.<\/p>\n

Familiares e amigos sentiram revolta ap\u00f3s a morte violenta contra Lucimar. \u201cA gente via a felicidade pelo o que ela estava passando [ap\u00f3s t\u00e9rmino]. Saber que a vida dela foi tirada pelo ex que n\u00e3o soube aceitar o t\u00e9rmino, que era bruto, abusivo. Fiquei muito triste\u201d, comenta Thalyta.<\/p>\n

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Feminic\u00eddios por ano no Planalto Norte de SC
\nInfogram<\/div>\n

Hist\u00f3rico de Viol\u00eancia<\/h2>\n

Assim como no caso de Lucimar, normalmente h\u00e1 um hist\u00f3rico de viol\u00eancia por parte do agressor. A delegada Patr\u00edcia Zimmermann, coordenadora estadual da DPCAMI (Delegacia de Prote\u00e7\u00e3o \u00e0 Crian\u00e7a, Adolescente, Mulher e Idoso), comenta que mesmo com o hist\u00f3rico, na maioria das vezes, v\u00edtima n\u00e3o chega a denunciar o homem.<\/p>\n

\u201cEsse \u00e9 o nosso grande desafio. Para a mulher, at\u00e9 chegar a denunciar, envolve muitos fatores, emocional, familiar, ideia de que ela vai mudar o homem, acredita na recupera\u00e7\u00e3o dele. At\u00e9 que ela venha denunciar, \u00e9 um grande processo de agress\u00e3o. Muitas n\u00e3o chegam a romper esse ciclo, infelizmente vemos essa situa\u00e7\u00e3o acontecer\u201d, diz.<\/p>\n

Para a delegada, a medida protetiva, concedida normalmente ap\u00f3s den\u00fancias, pode evitar que os casos cheguem \u00e0 morte da v\u00edtima. Isso porque o descumprimento de medidas protetivas podem gerar a pris\u00e3o do agressor. Se houver descumprimento, h\u00e1 uma puni\u00e7\u00e3o mais grave.<\/p>\n

Patr\u00edcia compara os n\u00fameros de medidas protetivas expedidas e de feminic\u00eddios consumados. Em 2022, por exemplo, foram expedidas 19.032 medidas protetivas e registrados 56 feminic\u00eddios. Por propor uma puni\u00e7\u00e3o mais grave em caso de descumprimento, o homem deixa de se aproximar da mulher. \u201cA medida tem essa efic\u00e1cia\u201d, opina a delegada.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, Patr\u00edcia conta que, em alguns casos, ap\u00f3s conceder a medida protetiva \u00e0 mulher, o juiz ainda pode intimar o acusado a participar de grupos reflexivos.<\/p>\n

Nestes grupos s\u00e3o realizados encontros e din\u00e2micas entre estes homens, delegados e psic\u00f3logos. S\u00e3o feitos di\u00e1logos para compreens\u00e3o da viol\u00eancia, sobre masculinidade t\u00f3xica e a import\u00e2ncia de uma nova maneira de atuar com as situa\u00e7\u00f5es, sem precisar ser na base de agressividade.<\/p>\n

\u201cHomens hoje relatam que, inv\u00e9s da agress\u00e3o, usam t\u00e9cnicas apreendidas no grupo e resolvem de outra maneira [discuss\u00f5es familiares]. Aprender a lidar com as emo\u00e7\u00f5es. Salvamos a vida dessa mulher e salvamos a vida dele\u201d, conta.<\/p>\n

Aumento no n\u00famero de feminic\u00eddios no interior<\/h2>\n

Conforme a pesquisa feita por Jackeline Romio, doutora e mestre em Demografia Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), desde 2015 vem sendo registrada uma expans\u00e3o da morte violenta contra em munic\u00edpios fora da regi\u00e3o metropolitana dos estados brasileiros.<\/p>\n

\u201cIsso tem a ver com o que o pesquisador Daniel Cerqueira [Atlas da viol\u00eancia 2019] nota como movimento de espraiamento e interioriza\u00e7\u00e3o do crime e sequente crescimento da morte violenta ligado \u00e0s novas rotas de criminalidade nas diversas cidades do interior dos estados. Estes novos cen\u00e1rios se juntam a uma pol\u00edtica de flexibiliza\u00e7\u00e3o do porte e posse de arma (Decreto n\u00ba 9.685 de 15 de janeiro de 2019) que tamb\u00e9m ampliou a letalidade de todas as formas de viol\u00eancia, inclusive a dom\u00e9stica\u201d, aponta a pesquisa.<\/p>\n

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Armas utilizadas nos feminic\u00eddios em SC
\nInfogram<\/div>\n

Dos cinco feminic\u00eddios registrados no Planalto Norte de Santa Catarina, tr\u00eas foram praticados com objetos cortantes e os outros dois, com arma de fogo.<\/p>\n

Segundo dados do DataSus, entre 2015 a 2020, 233 mulheres foram mortas a tiros em Santa Catarina. Outras 258 por materiais cortantes ou pesados.<\/p>\n

Para a delegada, a falta de trabalho multidisciplinares tamb\u00e9m colabora com a cultura de viol\u00eancia contra a mulher e registros de ocorr\u00eancias nas cidades.<\/p>\n

A delegada defende a necessidade de trabalhos que integrem a sa\u00fade, educa\u00e7\u00e3o e seguran\u00e7a, fazendo com que situa\u00e7\u00f5es de viol\u00eancia sejam evitadas.<\/p>\n

\u201cA quest\u00e3o da viol\u00eancia est\u00e1 enraizada na sociedade h\u00e1 s\u00e9culos, enfrentamos em todos os lados. Sem a educa\u00e7\u00e3o, n\u00e3o conseguimos enxergar o comportamento agressivo. Se uma mulher chega machucada na unidade de sa\u00fade, preciso me amparar. Na assist\u00eancia social percebo que a situa\u00e7\u00e3o de viol\u00eancia precisa ampliar\u201d, explica.<\/p>\n

Segundo ela, ap\u00f3s estruturar e aplicar de forma organizada o trabalho multiciplinar, a cidade de Lages n\u00e3o registrou feminic\u00eddios em 2022. \u201cE j\u00e1 figurou no ranking das cidades mais violentas\u201d, afirma.<\/p>\n

Por isso, a delegada defende o trabalho multidisciplinar e destaca a import\u00e2ncia dos movimentos de mulheres, que tamb\u00e9m realizam essas a\u00e7\u00f5es de educa\u00e7\u00e3o e amparo, fortalecendo outras mulheres.<\/p>\n

A pesquisa de Jackeline Romio tamb\u00e9m destaca o acolhimento que deve ser oferecido \u00e0s mulheres v\u00edtimas de viol\u00eancia. \u201cComo sociedade devemos contribuir para que as mulheres sintam se acolhidas e encorajadas a denunciar e solicitar apoio, quanto antes a aten\u00e7\u00e3o \u00e9 dada, menor o risco dessa viol\u00eancia se converter em um \u00f3bito\u201d, cita.<\/p>\n

Conforme o estudo, os agressores costumam usar como justificativa para o ci\u00fames, recusa em reatar um relacionamento ou manter rela\u00e7\u00f5es sexuais.<\/p>\n

\u201cMotivos ligados \u00e0 domina\u00e7\u00e3o masculina e a viol\u00eancia patriarcal, em que um homem converte a companheira, filha ou ex-parceira em um objeto de seu arb\u00edtrio o qual decide seu direito de vida de morte\u201d, comenta. Por isso, a pesquisa reafirma a necessidade de combater a cultura machista, a objetifica\u00e7\u00e3o da mulher e naturaliza\u00e7\u00e3o da viol\u00eancia\u00a0de um g\u00eanero sobre o outro.<\/p>\n

\u201cDevemos fortalecer o compromisso comunit\u00e1rio, estar vigilantes e engajadas na luta pelo fim da viol\u00eancia contra a mulher, difundindo canais e informa\u00e7\u00f5es sobre como localizar a aten\u00e7\u00e3o, tamb\u00e9m devemos barrar as correntes de fakenews e mensagens de \u00f3dio e misoginia nas redes sociais\u201d, complementa a pesquisadora no trabalho.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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