Kyrie Irving, deterioração do elenco e escolhas ruins: o fracasso do Dallas Mavericks na NBA

A temporada 2021/2022 do Dallas Mavericks foi surpreendente. Finalista da Conferência Oeste depois de eliminar o Phoenix Suns em um jogo humilhante com uma vitória por 33 pontos de diferença em pleno Footprint Center, o Mavs só não chegou à final da NBA porque tinha um Golden State Warriors campeão no caminho. Surpresa também pode ser uma palavra para definir a temporada 2022/2023 do time texano, mas decepção cairia melhor.

Depois de ser finalista da Conferência Oeste na temporada passada, Dallas Mavericks não chegou sequer no play-in – Foto: NBA/Divulgação/ND

Com o talento geracional de Luka Doncic era de se esperar que a franquia texana fizesse uma temporada regular de fato e, no mínimo, regular para tentar dar o próximo passo na pós-temporada e até a trade deadline era o que estava acontecendo. No dia 10 de fevereiro, o Mavs era o sexto colocado na Conferência Oeste e tinha 96% de chance de ir aos playoffs.

E foi aí que tudo começou a ruir. Aliás, foi antes, no dia em que Mark Cuban decidiu que era uma boa ideia levar Kyrie Irving para se juntar a Luka Doncic. Depois de escrever história em Cleveland ao lado de LeBron James, o armador escreveu capítulos diferentes em sua carreira. Mergulhado em polêmicas constantemente, Kyrie pediu para sair do Brooklyn Nets e Cuban viu a oportunidade de unir dois excelentes jogadores ofensivos e dar a Doncic o companheiro que talvez faltasse para que ele conseguisse traduzir todo seu talento e desempenho individual em título.

A troca já indicava que o caminho escolhido pelo general manager de Dallas não era exatamente o mais acertado. Kyrie desembarcou no Texas e, para New York, foram enviados Spencer Dinwiddie, Dorian Finney-Smith, a escolha de primeira rodada de 2029 e as de segunda rodada em 2027 e 2029. Além de Kyrie, o Mavs também recebeu Markieff Morris.

Para além de todas as polêmicas em que Kyrie se envolve e as recentes passagens conturbadas por Celtics e Nets, a chegada do armador, em si, não seria exatamente um problema, afinal, Cuban parecia querer apostar todas as fichas para conquistar o título nesta temporada, sem se preocupar muito com o longo prazo e as decisões intempestivas do novamente camisa 2.

No entanto, para tê-lo no time, ele abdicou de um time. O general manager enviou para os Nets jogadores que, apesar de não terem o destaque e o protagonismo – por inúmeras vezes negativo – de Kyrie, são consistentes, contribuem com o coletivo e, principalmente, davam o mínimo de equilíbrio defensivo ao time.

Dinwiddie e Finney-Smith não são grandes estrelas, mas fazem o trabalho que precisam fazer, especialmente em um time que já tinha um jogador incomparável, Luka Doncic. O esloveno, aliás, não é conhecido, exatamente, por ser um exímio defensor.

Que ofensivamente o time se tornaria uma potência, era algo “certo”, mas o ditado não erra: ataques ganham jogos, defesas ganham campeonatos e, no caso do Mavs, nem muitas vitórias foram.

A estreia de Kyrie foi com vitória, é bem verdade, e uma boa vitória. Sem Doncic, o Dallas venceu o Clippers em Los Angeles no dia 8 de fevereiro. Apesar disso, a campanha da equipe após a chegada do armador terminou de maneira vexatória.

Os dois estiveram juntos em quadra em apenas 16 jogos – Foto: NBA/Divulgação

Se lá no dia 10 de fevereiro o Mavs tinha 96% de chance de ir aos playoffs, dois meses depois, ao fim da temporada regular, o quase impossível aconteceu. Nove vitórias e 18 derrotas depois, a equipe terminou em 11º, ficando fora até mesmo do play-in e o ataque, suposto grande trunfo, também não engrenou. O Dallas terminou com o 16º melhor ataque, com uma média de 114,2 pontos por jogo e, por ironia, o equilíbrio até veio, o time cedeu 114,1 pontos em média aos adversários.

A frustração e o término melancólico e precoce da temporada acendeu a luz vermelha nos torcedores que temem a saída de Doncic. Apesar de admitir que “muita coisa precisa mudar”, o esloveno não vê motivo para preocupação.

“Eu estou feliz em Dallas, então não há nenhum motivo para preocupação. Nunca disse nada sobre sair. Esse negócio chega a ser engraçado porque não sabia que poderia pedir para ser negociado. Vocês sabem mais sobre isso, aliás, do que eu. Não gostei de algumas decisões tomadas no fim da temporada, mas nada além disso. Alguma coisa precisa mudar, certamente. Não faz um ano, afinal, que estávamos disputando uma final de conferência. Era divertido jogar com aquele elenco, pois tínhamos um entrosamento e conexão. Foi ótimo, então vamos ver se é possível resgatar aquilo. Eu não quero detalhar isso para vocês, mas nós precisamos de mudanças”, falou em sua última entrevista coletiva.

O Dallas, inclusive, está sendo investigado pela NBA após poupar vários jogadores nos últimos jogos. A medida teria como objetivo garantir a décima escolha no draft, uma vez que o time não tinha mais chance de avançar aos playoffs.

“A NBA iniciou uma investigação hoje sobre os fatos e circunstâncias que cercam as decisões do elenco do Dallas Mavericks e a conduta do jogo em relação ao jogo Chicago Bulls-Mavericks da noite passada, incluindo as motivações por trás dessas ações” disse um porta-voz da Liga. No jogo contra o Chicago Bulls, penúltimo da temporada, Doncic esteve em quadra por menos de 13 minutos.

E a turbulência deve continuar, isso porque Kyrie Irving, que é agente livre nesta offseason, deve testar o mercado. Com apenas 16 jogos ao lado de Doncic, o armador estaria disposto a entrar na agência livre a fim de garantir o melhor contrato possível e, embora Dallas queira mantê-lo, a próxima temporada no Texas depende da vontade de Kyrie que, nos últimos anos, tem sido instável.

Fato é que, em dois meses, o Dallas Mavericks saiu de um time praticamente classificado àquele que antecipou as férias e, isso sim, precisa ser sinal de alerta, não apenas por Kyrie Irving que, nos últimos anos, tem deixado rastros de destruição por onde passa, mas, acima de tudo, pela organização que depois de acertar na troca que levou Doncic até lá, tem entrada em um túnel de más escolhas para o time. As questões internas, deixamos para outro momento.

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