Como funciona a produção e a extração do camarão catarinense

O controle de temperatura da água permite criar o camarão o ano inteiro livre de conservantes e com exclusão de carga viral – Foto: Divulgação

Você sabia que Santa Catarina já esteve entre os cinco maiores produtores de camarão do Brasil? Há duas décadas tivemos um problema, uma doença viral chamada mancha branca e, desde então, temos nos destacado cada vez mais no setor de pesquisa – mesmo mantendo a extração e a produção.

Laguna, cidade que fica a 120 km da Capital e às margens da bacia hidrográfica do Rio Tubarão e Complexo Lagunar Sul, abrange as Lagoas Santo Antônio dos Anjos Mirim e Imaruí. É nelas que está o que nos interessa: o camarão de Laguna, crustáceo que ganhou fama no país e que é fonte de sustento de mais de 1900 pescadores artesanais.

Um deles é Romoaldo Estevão Rosa, que mora em frente a um trapiche e, todos os dias, por volta das três da tarde, exerce sua função. Instala as redes conhecidas como “aviãozinho”, por conta do formato, e as baterias para as lâmpadas atraírem os camarões.  Ele faz isso há pelo menos 30 anos.

“- Me criei na pesca junto com o meu pai, desde os sete anos pescando e aprendendo com ele. E a gente começou com a tarrafa de camarão, na antiguidade. Aí depois passamos para a rede de aviãozinho e eu me mantenho nela até hoje, que é a minha sobrevivência” – conta Romoaldo.

Essa, porém, é uma rotina que já não atrai mais tantos pescadores como antes. Hoje, menos de 20% do camarão que consumimos vem da pesca artesanal, modo de vida e subsistência dessas famílias – inclusive tema de pesquisas da Universidade Estadual de Santa Catarina. Um dos professores que coordenam esse trabalho é o Jorge Luiz Rodrigues Filho, diretor de pesquisa da Udesc.

Ele explica que a Udesc vem articulando ações como objeto de estudo para que seja possível pegar essa vocação científica e aplicar na região, que hoje existe uma demanda global por informação e a ciência precisa estar balizada em questões teóricas globais, mas que é muito importante a regionalização.

“ – No meu caso a gente estuda as populações de camarão, a pescaria de camarão, para entender padrões e processos ecológicos associadas a ela e entender como possíveis ações de gestão podem melhorar as pescarias. Hoje em dia estamos com um projeto muito interessante que articula essas pescarias do camarão com o boto de laguna, o biguá, com nossos seres humanos. E a gente consegue magnificar como uma espécie influencia na outra e entender a importância de cada uma delas e como influenciam no nosso ecossistema” – Completa Jorge.

Bárbara Heck Schallenberger, uma de suas orientandas, analisa a cada 15 dias as amostras que recebe diretamente dos pescadores. Ela pesa, mede e identifica espécies e tamanhos. Seu estudo é para embasar cientificamente possíveis mudanças na legislação referente à época de defeso e quantidade de pesca.

Camarão do futuro

Para quem gosta de qualidade e quantidade, há um sistema de produção que tem atraído o interesse de muitos países do mundo, um modelo mais moderno, produtivo, sustentável, mais caro e menos explorado.

Do outro lado da lagoa de Imaruí a pesca artesanal também está presente, mas esconde o modo de produção que vem ganhando cada vez mais terreno e ocupando menos espaço. O sistema intensivo é bem diferente do modelo tradicional, estamos perto da lagoa, mas não necessariamente precisamos dela. Outro ponto que chama bastante atenção é a área e a produtividade – é o camarão do futuro.

Mariana Heimy Kano, engenheira civil paulista, que largou a cidade grande para comandar um projeto iniciado por amigos na região, conta que veio para o Estado para investir em um negócio que tivesse a ver com sua linha de pensamento, que conta com questões de tecnologia e sustentabilidade. Ela mantém apenas três tanques, e a quantidade de camarões por metro quadrado chega a ser 30 vezes maior que nos viveiros convencionais.

“- A gente sabe que no futuro vão existir preocupações em relação à produção de comida em pequenas áreas, em áreas urbanas. Então existem esses estudos e essa tecnologia que é exemplo no cultivo superintensivo. A gente consegue colocar 200 Camarões por metro quadrado, enquanto que em um viveiro comum, aberto, a gente coloca 10 a 20 Camarões por metro quadrado. Então esse é um grande diferencial” – completa Mariana.

A carcinicultora também conta que existem outras fazendas no interior que trabalham com 100% de água doce salinizada artificial. E que há muitos estudos sobre esse tipo de produção mais sustentável e contínua. Em seu negócio é usado um pouco da água da lagoa, sem descarte, apenas repondo a água de evaporação a cada ciclo, a cada limpeza.

Como a área é pequena, todo o processo é acompanhado em detalhes. Bactérias auxiliam na manutenção da qualidade da água, o que estimula a produção de bioflocos microbianos, que também servem de alimento para o camarão.

Outra diferença é o valor investido, assim como a produtividade: 30 vezes mais. Calcula-se por volta de 2 milhões e meio a três por hectares tornar um sistema cada vez mais viável e ainda mais sustentável.

O controle de temperatura da água permite criar o camarão o ano inteiro livre de conservantes e com exclusão de carga viral. as pesquisas têm financiamento local através da fapesc. Mas o modelo é tão promissor, que vem chamando a atenção também de outros países do mundo, como Noruega, Suécia, Portugal e Espanha.

Saímos do centro de Laguna para chegar até a fazenda do Zeno, no distrito de Ribeirão Pequeno, dentro do Complexo Lagunar Sul. Nela ele cria um pouco de gado, de ovelha, mas agora os olhos estão voltados para um projeto pioneiro no Sul do país: a criação de camarão orgânico em tanques que repetem o ambiente da lagoa.

Zeno Alano Vieira, produtor de camarão, explica que eles se alimentam naturalmente do zooplâncton e do fitoplâncton que nascem por lá. O ambiente é riquíssimo em biodiversidade marinha, por ser uma zona de transição entre o ecossistema costeiro e marinho.

“- Nós somos certificados pela Ecocert e nós temos uma certificação de camarão e orgânico. Não temos agrotóxicos, adubos. A fertilização é natural, do próprio terreno, então por isso que não é qualquer fazenda que pode ser orgânica, ela tem que ter uma condição de solo ideal. É como um terroir do vinho, nós temos que ter um terroir para produzir esse camarão” – conta o produtor que mantém 30 hectares de lâmina d’água divididos em seis tanques.

Laguna era a principal região produtora do Sul e Sudeste do Brasil. Era o berço da produção de camarões marinhos até surgir uma doença viral muito severa, a síndrome da mancha branca. Na época a produção foi dizimada e, desde então, os produtores têm se reinventado e contado com o amparo de muitas pesquisas e responsabilidade.

Saboroso e um grande aliado da saúde

Além de gostoso, o camarão possui diversas propriedades benéficas para o organismo. A nutricionista Mariella Roinol, conta que o camarão é um alimento com muitas vitaminas do Complexo B, que ajuda no metabolismo e a prevenir doenças neurológicas. Ele também é rico em Ômega 3, que ajuda também nas doenças cardiovasculares e, principalmente, ajuda a reduzir os níveis de triglicerídeos.

A salada de camarão, o camarão ao bafo ou grelhado, são ótimas opções para o dia a dia, além de serem menos calóricas. E a nutricionista também conta que pode comer a cabeça do camarão, quando ele for menor, já que ela também conta com muitos nutrientes. Quando o camarão for grande, o ideal é fazer um caldo com elas, para usar em um risoto, por exemplo.

Para saber mais sobre a produção de camarões no Estado e as pesquisas realizadas por aqui, confira a matéria realizada pelo programa Agro, Saúde e Cooperação, na íntegra. É só clicar no link e conferir mais um episódio desse projeto importante, que conta com a parceria da Ocesc e da Aurora.

Aproveite também para ficar de olho no Programa Agro, Saúde e Cooperação, que vai ao ar todo domingo, às 9h, na NDTV e conta com a parceria da Ocesc e da Aurora.

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