Especialistas reforçam que pais devem acompanhar uso de internet por crianças e adolescentes; veja dicas


Após ataques em escolas de SP e Blumenau, ações foram intensificadas para coibir cooptação de menores através de plataformas virtuais e disseminação de ódio na web. Jovem em frente ao computador
Sofia Mayer/g1
Após os ataques em escolas de São Paulo e Blumenau, nesta última cidade completando um mês nesta sexta-feira (5), foi reacendido o alerta sobre a disseminação de ódio e incentivo à violência, principalmente na internet.
Uma preocupação das autoridades é com a falta de supervisão dos adultos expõe crianças e adolescentes a conteúdos maliciosos.
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No dia do ataque a creche em Blumenau, quando quatro crianças foram mortas por um homem que pulou o muro da escola, o promotor de Justiça catarinense Júlio Fumo Fernandes destacou, durante coletiva sobre o caso, a prevenção, o “olhar para o nosso filho dentro de casa, onde ele está navegando, as plataformas que ele frequenta, os jogos que ele está jogando, porque ali existe muita comunicação criminosa que estimula e patrocina crime”.
Ele também falou sobre o Cybergaeco, uma força-tarefa com autoridades estaduais de Santa Catarina especializada em investigações e monitoramento de ambientes virtuais.
Monitoramentos dos filhos
Representante da Polícia Militar no Cybergaeco, o major Rodrigo Augusto Schmidt afirma que, além de fóruns e sites na internet, conteúdos criminosos aparecem também em aplicativos de mensagem, como Whatsapp e Telegram, e em redes sociais como Facebook, Twitter e Instagram.
“Assim como é dever do Estado a segurança, cabe também a todos nós, de qualquer forma, e principalmente aos pais monitorarem o que os seus filhos consomem em plataformas digitais”, diz.
O major traz uma orientação sobre usar recursos dos próprios aparelhos eletrônicos.
“A gente sabe que é uma árdua, uma difícil missão para os pais. Os pais não têm nem conhecimento tecnológico para fazer isso, mas hoje já existem aplicativos e o próprio celular traz algumas plataformas que possibilitam, de uma maneira um pouquinho mais eficaz, o controle parental”.
Essa medida pode dificultar ou mesmo restringir o acesso a aplicativos considerados indevidos pelos pais ou responsáveis. O Cybergaeco também recomenda que as crianças menores não tenham celular próprio.
“Vemos que hoje é cada vez mais frequente crianças ainda, que não atingiram a idade da adolescência, já portando celulares particulares, pessoais. Já recomendamos que não se coloque o filho para consumir conteúdo em dispositivos que os próprios filhos possuam a liberdade de usar quando quiserem”, afirma Schmidt.
A psicóloga e professora adjunta do departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Chrissie Carvalho fala em supervisão e troca de informações com crianças e adolescentes.
Psicóloga enumera orientações para pais monitorarem uso de internet dos filhos
“Realmente ter uma boa supervisão do uso dessas ferramentas, seja a internet, os jogos. É uma supervisão sem ser paranoico, tem um meio termo. A supervisão é você estar atento a quais são os principais sites que essa criança, esse adolescente costuma usar e por que ele está usando esses sites”, diz.
“Tem muitos locais que os jovens frequentam virtualmente que nós adultos não conhecemos, e está tudo bem. Mas a gente pode procurar saber. A gente pode pedir para esse jovem nos apresentar esses espaços virtuais, nos explicar. Essa ideia de fazer uma troca informativa, sem precisar ser intimidadora com o adolescente”, orienta a psicóloga.
Outra recomendação dela é a imposição de limites para o uso da internet.
“Precisa dizer ‘olha, esse é o momento de dormir, a gente precisa desligar tudo e não tem conversa, é o horário de dormir’. Não sendo o horário de dormir, vai ser um horário tal que é o horário de lazer. Mas o seu horário de lazer você vai usar todo na internet? Então precisa fazer essa negociação com o jovem”, diz Carvalho.
Por fim, o representante do Cybergaeco comenta que os pais ou responsáveis também podem conversar com os filhos sobre o uso da internet dentro da lei.
“É importante que os pais situem seus filhos que o que eles fazem na internet também gera responsabilidades. Não só para os filhos, que muitas vezes são menores, tem uma legislação específica, mas aos próprios pais que, de alguma forma, têm o dever de fazer esse monitoramento. Importante que os pais alertem, conversem com os filhos sobre essa responsabilização. O ambiente digital não é uma terra sem lei”, declara Schmidt.
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Quando se preocupar
Tanto o representante do Cybergaeco quanto a psicóloga enumeram comportamentos que os pais ou responsáveis devem ficar atentos, atitudes que podem demonstram que algo não está bem.
“É difícil precisar a característica que vai denotar essa ideação do jovem para praticar um ataque. Mas, de maneira geral, a gente tem recomendado como medida preventiva olhar sinais de isolamento da criança e do jovem, ver se ele não está muito trancado em alguns ambientes, como o seu próprio quarto, onde ele costuma se utilizar de aparelhos eletrônicos. Isso já é um sinal de alerta”, diz Schmidt.
Jovem em frente a tela de computador
Sofia Mayer/g1
A psicóloga complementa que a obsessão do jovem por apenas uma tarefa pode ser um sinal de atenção sobre a saúde mental dele.
“É importante a gente ver se esse jovem, essa criança, fica muito exclusivamente fazendo uma coisa só no mundo virtual. Se ele fica só nas redes sociais, só pesquisando um assunto. Essa questão do excessivo, muita fixação por uma temática só, sempre é preocupante”, declara a psicóloga.
“Por que esse jovem só quer ficar nas redes sociais? Ele poderia ficar nas redes sociais, fazer uma videochamada, podia jogar um jogo, mas ele só faz uma coisa. Por que esse jovem só assiste a um seriado específico? Qual o conteúdo desse seriado? Então a gente sempre ficar muito atento quando tem uma fixação no conteúdo”, complementa.
“E regular o uso das redes sociais porque hoje a gente sabe que o excesso de uso de redes sociais está associado a problemas de saúde mental”, acrescenta Carvalho.
O que fazer
Caso os pais ou responsáveis encontrem muitos obstáculos ou não saibam como ajudar o filho, Carvalho recomenda que eles procurem ajuda de um psicólogo.
“Sempre se tiver dúvida se aquele jovem está passando por algum momento que os pais não estão sabendo lidar, procurar a ajuda de um profissional. Às vezes os pais tentam, estão ali supervisionando, mas chega um momento que percebem que não conseguem mais, ou no diálogo ou se é um jovem que realmente está passando por uma questão de saúde mental mais importante e os pais não estão sabendo lidar, com certeza pedir ajuda”, resume.
Pessoa com capuz olhando tela de celular
Sofia Mayer/g1
O representante do Cybergaeco também passa orientações para caso os pais ou responsáveis desconfiem que o filho participa de algum fórum ou local virtual que promova crimes. A primeira ação é retirar do menor o acesso ao aparelho.
“Seja acessada ali a conversa e, principalmente, não deixar esse dispositivo eletrônico na mão de menores”, orienta.
Também é recomendado informar as forças de segurança.
“Recebendo qualquer tipo de informação que verifique que o filho está consumindo material relacionado a ideação para ataques ou até ser estimulado por terceiros, que entre em contato com uma força de segurança para que possa ser procedida a investigação sobre o maior, em via de regra, ou quem estiver tentando corromper o menor que está começando a fazer parte desse grupo criminoso”, explica o major.
“A gente recomenda que registre o boletim de ocorrência e, após registrar o boletim de ocorrência, que o pai, de fato, efetue um controle maior sobre com quem o filho interage em ambientes digitais e até mesmo com quem que o filho pode estar interagindo no ambiente físico, para ver se o filho já não tem um contato físico com esse tipo de criminoso”, complementa.
Vulnerabilidade
A psicóloga explica que crianças e adolescentes são mais vulneráveis na internet, em comparação com os adultos.
“Eles veem [a internet] diferente do adulto justamente porque eles ainda não estão completamente desenvolvidos. No sentido que as experiências que eles têm de vida não são as mesmas de um adulto. Então, por vezes eles estão muito mais vulneráveis, por essa falta de experiência, de vivência, com as questões, com o próprio lidar com o outro”, diz a psicóloga.
O quanto o menor estará vulnerável também depende do nível de maturidade da criança ou do adolescente, conforme Carvalho. “Quanto mais imatura essa criança, mais vulnerável ela vai estar”, resume.
“Vai depender muito dessa faixa etária e do quanto que essa criança ou esse adolescente conhece sobre esse universo e sobre os riscos que esse universo pode ter, em termos de stalker, de perseguições, de relações, que às vezes um adolescente, uma criança pode começar a conversar com alguém, achar que aquela pessoa é quem ela diz que é. Essa pessoa pode não ser exatamente quem ela está se apresentando no mundo virtual”, explica.
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