Antes da Mensageiro, Versa analisava investida em MT com ajuda de ex-secretário investigado

Em 21 de fevereiro de 2022, dez meses antes da Operação Mensageiro ser deflagrada tendo como principal alvo a Serrana Engenharia, hoje chamada Versa, a empresa mantinha contatos em Mato Grosso avaliando uma possível expansão de suas atividades para aquele Estado.

Documentos do MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) obtidos pelo Grupo ND mostram relatórios de André Luis Torres Baby, ex-secretário de Meio Ambiente do Mato Grosso, que detalha possibilidades de contratos nas áreas de saneamento, resíduos sólidos e iluminação pública na capital Cuiabá e nas cidades de Cáceres, Barra dos Bugres, Sinop e Sorriso.

Serrana Engenharia Ltda tem contratos contestados – Foto: Divulgação/ND

Em cada um dos municípios, Baby, acusado pelo MPMT (Ministério Público do Mato Grosso) de chefiar em esquema de fraudes em cadastros rurais desde 2018, quando foi preso na quarta fase da Operação Polygonum, repassa para a Versa qual era o seu “nível de relacionamento político institucional” com prefeitos, secretários e assessores municipais.

Em meio às investigações da Operação Mensageiro, a companhia apontada pelo MPSC como centro do esquema de corrupção mudou de nome, passando de Serrana Engenharia para Versa, e mantém diversos contratos com prefeituras catarinenses, como já noticiou o Grupo ND.

Nos dados enviados para à Versa, Baby informa que fez contatos com uma  “aproximação discreta” sem citar o nome da empresa catarinense aos representantes das cidades que sondou, mas sempre “baseado nos pilares estratégicos de trabalho do Grupo Serrana”.

O ex-secretário também aponta que “num primeiro momento” a ideia era criar um “ambiente negocial” para “aproximação e apresentação” da empresa.

Documento da Operação Mensageiro mostra contato da Versa em Mato Grosso. – Foto: Reprodução/MPSC/ND

Baby e Versa negam acordo para mapeamento

O grupo Serrana tem uma filial em Mato Grosso, no município de Tangará da Serra. Pelo menos desde 2014, mantém contratos com a administração da cidade para “operação, monitoramento geotécnico e ambiental do aterro sanitário”.

O Grupo ND pediu esclarecimentos à prefeitura de Tangará da Serra sobre estes contratos e a manutenção dos serviços prestados pela Versa, especialmente após a Operação Mensageiro, mas não recebeu retorno.

Baby afirma que nunca prestou serviço e nem foi contratado pela empresa Serrana, hoje Versa, e que entregou as informações a um engenheiro no Rio de Janeiro, que lhe “pediu auxílio sobre relatório de prospecção onde ele poderia atuar na provável expansão dos seus negócios em Mato Grosso”. O engenheiro foi localizado pela reportagem do Grupo ND, porém não retornou os contatos para comentar a versão de Baby.

“Todavia, apenas compartilhei informações técnicas, legais e de relações institucionais, não chegando a atuar e dispensando qualquer tratativa sobre o assunto”, alega o ex-secretário do Meio Ambiente de MT.

Baby também informa ainda que encerrou os contatos com este engenheiro em abril de 2022.

A Versa Engenharia disse por meio de nota não tem ou teve nenhum contato com Baby ou o engenheiro citado pelo ex-secretário. E que os contratos em Mato Grosso estão mantidos pela empresa mesmo após a operação do MPSC.

Em junho de 2022, o ex-secretário André Luis Torres Baby se tornou réu da Justiça por suposta inserção de dados falsos no sistema do Cadastro Ambiental Rural (CAR) em uma das setes ações ajuizada contra ele no âmbito da Operação Polygonum, aberta em 2018 pelo MPMT.

Segundo promotores do Mato Grosso, um esquema dentro da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT) legitimava desmatamento criminoso em áreas rurais. Para o MPMT, com o uso de meios fraudulentos, áreas para o uso alternativo eram ampliadas. A organização fraudava o Sistema Mato-grossense dos Cadastros Ambientais Rurais (Simcar). Baby é apontado como um dos chefes do esquema.

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