Mães elevam autoestima ao se dedicarem a projetos pessoais com apoio dos filhos

Se antigamente as mães eram mulheres totalmente devotas à família, à casa e aos filhos, hoje elas buscam conciliar a maternidade com o desejo de transformar os seus sonhos profissionais em realidade. Com o passar das décadas, cada vez mais as mães foram se permitindo abraçar as suas múltiplas facetas, e com o apoio uma das outras criaram um novo modo de viver a maternidade.

Emanuele Jacques com a filha Olívia e o filho Henrique – Foto: Arquivo pessoal/ND

A estilista Emanuele Jacques, 40, é neta de dona Laurita, 93, empreendedora e costureira que na década de 1980 começou a produzir roupas em casa e depois expandiu o seu negócio para uma fábrica de malharia. “Minha avó é minha referência, uma mulher visionária.

Lembro-me de na infância brincar embaixo das máquinas de costura dela”, recorda. E somando a esse exemplo de vida, Emanuele também traz na bagagem mais de uma formação. Além de ser graduada em moda, ela concluiu o curso de administração, que é a área de atuação da sua mãe, Sandra, 72.

Desde cedo, a estilista queria ter a sua própria marca e por isso seguiu os passos das mulheres de sua família. Emanuele é mãe da Olívia, 9, e do Henrique, 5, e por ver sua mãe e sua avó trabalharem nunca se intimidou em conciliar a maternidade com o sonho de ser estilista. “Acho importante que meus filhos vejam a mãe batalhando e se realizando profissionalmente”, pontua.

Ela conta que seus filhos a acompanham diariamente no processo de produção das peças e participam dos eventos de moda junto com ela. A estilista explica que Olívia tem mais proximidade com o universo da moda e que o nome e o apelido da menina deram nomes a peças.

“O primeiro vestido lançado na minha coleção foi intitulado ‘Sandra’, que é o nome da minha mãe. Depois comecei a denominar todas as outras coleções com os nomes das mulheres fortes que amo e admiro”, pontua.

Emanuele relata que, assim como ela, existem muitas mães que se tornaram empreendedoras para ser donas do seu próprio tempo e estar mais perto dos filhos. “Atualmente são muitas mães catarinenses que empreendem no ramo da moda e que em diversas situações se veem sozinhas no seu dia a dia”, afirma.

Analisando o cenário, a estilista e outras amigas do segmento lançaram no ano passado o evento Inspira Moda SC, em homenagem ao Dia das Mães.

Por incentivo dos filhos, Ceres reencontrou uma nova profissão

Natural de Porto Alegre, Ceres Azevedo, 60, mora há 30 anos em Florianópolis. Publicitária de formação, a gaúcha também trabalhou dez anos com moda e quase 20 como chefe de cozinha, preparando coquetéis e jantares especiais.

A mãe de Leonardo Soares, 31, que trabalha com marketing digital, e de Bernardo Soares, 29, influenciador digital, aponta as dificuldades que enfrentou e que a levaram a se reinventar para ultrapassar uma doença que a impediu de continuar realizando a sua atividade profissional.

Ceres Azevedo com os filhos – Foto: Arquivo pessoal/ND

Ceres conta que com quase 60 anos e devido a um grave problema de saúde precisou abandonar a gastronomia. “Fiquei sem rumo e sem perspectiva do que fazer da vida e de como seguir em frente. Mas aos poucos fui me reerguendo psicologicamente. Por influência dos meus filhos, vi uma luz no fim do túnel e acabei entrando no mundo digital”, explica.

O primogênito incentivou Ceres a fazer um blog de gastronomia e a transformar o livro físico dela em um e-book. Desde então, ela foi aprendendo a lidar com as redes sociais e lançou, em parceria com seus filhos, um curso online de gastronomia que ensina a fazer tortas.

“A maternidade me mostrou o caminho para me transformar em um ser humano mais evoluído. Ser mãe é um aprendizado e uma troca constante de dar e receber. Tenho com meus filhos uma relação de muito afeto e admiração mútua”, emociona-se.

Para a mãe de Leonardo e Bernardo, reinventar-se aos quase 60 anos a fizeram enxergar que “podemos sim dar a volta, sair do fundo do poço e seguir em frente sempre, independentemente da idade”.Ela aponta que muitas mulheres entre 50 e 60 anos sofrem da “síndrome do ninho vazio”, sentindo-se perdidas sem o dia a dia com os filhos.

“Eu não senti isso porque, para mim, se eles estão felizes e seguindo os seus caminhos, estou feliz por eles. E isso me dá a liberdade de ser também eu por mim, de ter mais tempo para mim e de me cuidar mais”, avalia satisfeita com o seu estilo de vida atual.

Ela deixa um recado para as mães: “Abram os braços e a alma para o seu novo momento, pois este pode ser o começo de uma nova e bela etapa da sua história de vida. Cuide de si, assim você será mais feliz e, consequentemente, os seus filhos também”.

Terapeuta integrativa auxilia mães a viverem mais leve e com menos culpa

Maria Inês Curcio Moura, 65, formada em letras e pedagogia, nasceu e viveu em São Paulo toda a vida, até que a sua filha Thaís, 41, advogada e empreendedora, veio morar em Florianópolis e em 2018 convidou a mãe para administrar o seu coworking terapêutico.

Maria Inês Curcio Moura e a filha Thaís – Foto: Arquivo pessoal/ND

“Desde que a minha filha veio morar aqui eu desejava vir também, mas achava um sonho distante. Contudo, ao receber o convite para trabalhar no comando do seu negócio, também vi como uma possibilidade de me assumir terapeuta em período integral e, sem dúvida, este foi o empurrão que precisava”.

Maria Inês é mãe também de Felipe, 39, terapeuta, e de Renato, 37, empresário na área de TI e que, assim como a irmã, decidiu apostar na capital catarinense.

Sobre o fato de trabalhar junto com a filha, afirma: “É muito bom trabalhar com a Thais, ela é muito inteligente e objetiva, e tem um dinamismo admirável que me faz crescer”.

A pedagoga conta que por muitos anos não se sentia bem morando em São Paulo, onde era proprietária de uma escola. “Vivia um conflito desnecessário. Não me amava. Cuidava de tudo e de todos, menos de mim. Essa situação conflitante me levou a buscar conhecimento e a melhorar o meu estado interno”.

Por isso, já no final dos anos 1990, Maria Inês começou a se aprofundar e a se especializar em terapias integrativas. Ela destaca que as clientes que mais buscam o seu atendimento são as mães. “Somos educadas para nos preocupar com os filhos como forma de demonstrar amor, e por isso nos doamos em demasiado, ficamos esgotadas, deixamos de lado a nossa autoestima e o autocuidado”, explica.

Segundo a terapeuta, os maiores medos de uma mãe são errar com os filhos, causar-lhes danos e fazê-los sofrer. “Ao liberarmos a raiz do medo através de processos terapêuticos, temos ações para que o caminho neural mude do medo para o autocuidado, por exemplo”.

Sobre o fato de ter se mudado para Florianópolis aos 60 anos a convite da filha, ela afirma: “Está sendo uma experiência grandiosa. Trabalho no que amo e vivo só por hoje, no presente, livre do passado”. E declara: “Os filhos nos movem e nos fazem crescer. A partir deles me atualizei, deixei para trás medos e preconceitos. Aprendo a aceitar cada um como de fato é”.

De babá a chefe de cozinha e pesquisadora celebrada

A chefe de cozinha Maria Garcia, 40, é natural de Tarauacá (AC), e mãe de Larissa, 6, e de Sofia, 2. Maria conta que em 2001 veio junto com a família do Norte do país, onde era babá, para Florianópolis. Lá ela tinha o hábito de assistir a programas de culinária na TV para aprender novas receitas e cozinhar para a família. Por sugestão de sua patroa, começou a fazer um curso de gastronomia. “Nesse momento, eu percebi que poderia trabalhar com cozinha criativa, que é o que mais gosto de fazer”, pontua.

Maria Garcia com as filhas Sofia e Larissa – Foto: Leo Munhoz/ND

E desde que começou a estudar não parou mais de se capacitar na área gastronômica: formou-se bacharel em gastronomia, fez pós em gestão de qualidade na gastronomia e muitos outros cursos de aperfeiçoamento, os quais pouco a pouco foram revelando todo o talento e a dedicação de Maria Garcia como chefe de cozinha. “Trabalho com gastronomia desde 2006. Em 2011, perdi uma filha com 34 semanas, o que foi muito triste, e também não tive o apoio do pai dela”.

Antes desse episódio, Maria afirma que não se imaginava mãe. “Após a perda da minha filha, todo o meu eu gritava para ser mãe. Foi quando conheci o meu atual marido, Fabrício Borges Hayet. Em seu pedido de casamento, perguntei a ele: ‘Queres ter filhos’”? E assim, depois de quatro anos, o casal teve a sua primeira filha.

Ela revela que decidiu gestar outra criança somente quando pudesse dar o seu melhor a esse bebê e que seu marido lhe desse apoio para que ela continuasse trabalhando. “Sempre fui muito independente, e minhas filhas acham isso o máximo. Elas dizem que sou a melhor chefe do mundo”, revela feliz.

Maria é a chefe do restaurante Jardín Del Mar, no Cacupé, e alguns dias da semana também ministra aulas nas faculdades de gastronomia do Senac e da Estácio de Sá. Além disso, a chef pontua que está muito feliz por fazer parte do projeto Kappaphycus alvarezii – uma espécie de microalga cujo cultivo está presente em mais de 20 países –, realizado entre o Senac Santa Catarina e a Epagri.

Atualmente, Maria Garcia é referência nessa pesquisa e se diz profundamente feliz por isso. Ela explica que entrou no projeto por meio do Enchefs de Santa Catarina, em 2022, quando fez um prato com a microalga e ganhou em primeiro lugar, tendo sido indicada ao prêmio Dólmã, que é o Oscar da gastronomia brasileira.

“Foi sensacional ver as minhas filhas me aplaudindo em um concurso tão disputado”, recorda. E complementa: “Ser chefe de cozinha é sempre um desafio, agora ser chefe de cozinha mulher é ainda mais desafiante”.

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