Ignorando pressão por cessar-fogo, explosões abalam capital do Sudão

Várias explosões abalaram Cartum, a capital do Sudão, nesta terça-feira (18). O país segue imerso no caos após quatro dias de combates e apesar dos crescentes apelos internacionais para cessar as hostilidades que já deixaram quase 200 mortos.

Combates no Sudão já duram 4 dias e deixaram quase 200 mortos – Foto: AFP

No céu de Cartum, os aviões do general Abdel Fatah al Burhan, líder de fato do país desde o golpe de 2021, tentam conter o fogo de veículos blindados paramilitares liderados por seu número dois, o general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como “Hemedti”.

Reunidos no Japão, os ministros das Relações Exteriores do G7 exortaram em sua declaração final “a parar imediatamente a violência (…) e devolver o poder civil ao Sudão”.

Seu apelo se junta aos da ONU e dos Estados Unidos para acabar com as hostilidades, mas os combates continuam.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, enfatizou em conversas com os dois generais em conflito “a urgência de alcançar um cessar-fogo”.

O general Daglo anunciou no Twitter que havia aprovado “um cessar-fogo de 24 horas”, mas o exército negou no Facebook, alegando que era “uma declaração da rebelião destinada a esconder sua derrota iminente”.

Abastecimento no limite

Os habitantes permanecem em suas casas, sem eletricidade e água encanada, e suas reservas de alimentos estão perto do fim. Os poucos mercados que estão abertos avisaram que não vão conseguir prosseguir com as atividades por muito tempo sem abastecimento.

O esgotamento ameaça os habitantes da capital. “Não dormimos há quatro dias”, disse Dallia Mohamed Abdelmoniem, de 37 anos, à AFP.

Ela disse que permaneceu “trancada” com sua família por medo dos constantes bombardeios e confrontos de rua que deixaram mais de 185 mortos desde sábado (15), segundo a ONU.

Hospitais em apuros

Pelo menos dois hospitais da capital foram evacuados “enquanto foguetes e balas atingiam suas paredes”, alertaram os médicos, que afirmam ter ficado sem bolsas de sangue e suprimentos médicos.

Além disso, inúmeras ONGs e agências da ONU suspenderam suas atividades devido aos saques e “violações graves” que ocorreram contra seus funcionários.

Na segunda-feira (17), um comboio diplomático dos Estados Unidos foi alvejado e o embaixador da União Europeia foi atacado em sua residência em Cartum.

Três funcionários do Programa Mundial de Alimentos foram mortos e estoques de ajuda foram saqueados em Darfur (oeste).

A ONU contabiliza 1.800 feridos, embora muitas pessoas tenham dificuldade em chegar aos hospitais por medo de balas perdidas ou de bombardeios militares e paramilitares em áreas residenciais.

A Cruz Vermelha e a OMS (Organização Mundial da Saúde) pediram nesta terça-feira às partes em guerra no Sudão que garantam o acesso à ajuda humanitária para as pessoas necessitadas.

“Milhares de voluntários estão prontos, aptos e treinados para prestar serviços humanitários. Infelizmente, devido à situação atual, eles não estão em condições de se deslocar”, disse o chefe da delegação da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, Farid Aiywar, a jornalistas em Genebra por videoconferência em Nairóbi.

“Temos ambulâncias, pessoas capazes de prestar primeiros socorros e apoio psicossocial, mas isso não será possível até que os corredores humanitários sejam garantidos por todas as partes”, insistiu, sublinhando que “as organizações humanitárias sentem-se muito frustradas” por não poderem fazer o seu trabalho.

Em Darfur, reduto do general Daglo, a organização Médicos Sem Fronteiras disse que em três dias recebeu 183 feridos em seu último hospital funcional. “A maioria era civil, muitos deles crianças”, segundo a ONG.

Médicos e organizações humanitárias alertaram que em algumas áreas de Cartum a eletricidade e a água estão cortadas e que há apagões nas salas de cirurgia.

Os pacientes e suas famílias “não têm comida nem água”, declarou uma rede pró-democrática de médicos.

“Burhan está bombardeando civis, vamos caçá-lo e levá-lo à justiça”, afirmou o general Daglo no Twitter, em inglês. Já o exército afirmou no Facebook que se aproxima o momento da vitória final.

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