Descubra como a maçã catarinense virou destaque nacional

O Estado é destaque na atividade não só pelo volume de produção, mas também pela qualidade das frutas – Foto: Divulgação

Que Santa Catarina tem terras diferenciadas, isso nós sabemos. São muitos os fatores que contribuem para o desenvolvimento de uma das frutas mais saborosas apreciadas pela humanidade: a maçã. Não à toa, hoje o Estado é o maior produtor e responsável por mais da metade da safra nacional do alimento.

Maurício Montebeller, secretário executivo da AMAPE, conta que não existe nenhum lugar no mundo tão favorável quanto o que Santa Catarina tem para a plantação de maçã. Ele conta que nosso diferencial é o clima: frio e calor nas horas certas; além da altitude. A maçã fuji, por exemplo, precisa estar acima de 1.100 metros e é por isso que nós temos a melhor maçã do Brasil.

Foi na região serrana do Estado que a fruta chegou, lá na década de 1960 e prosperou. Hoje são mais de 15 mil hectares de pomares de maçã, distribuídos em cerca de 30 municípios. O líder, responsável por mais da metade, é São Joaquim, o que não tira o mérito de Fraiburgo, Bom Jardim da Serra, Urubici, Urupema e muitos outros – cada um com sua produção e contribuição.

Uma história marcada por desafios

Lages foi muito importante no combate a uma das maiores ameaças a pomicultura mundial, uma praga que apareceu em 1993 na cidade e poderia ter prejudicado toda a produção catarinense.

Paulo de Borba, agrônomo da Cidasc Lages, explica que a cydia pomonella, também conhecida como traça da maçã, apareceu na cidade por conta de outros países com fruto importado, por importadores da região. No momento de fazer a seleção e o descarte desses frutos que não estavam aptos para o comércio, o inseto acabou eclodindo, encontrando um ambiente favorável para se multiplicar.

Santa Catarina faz parte da única região do mundo a erradicar a cydia pomonella, o inseto que surgiu na zona urbana de Lages, precisou de muita cooperação da cidade para que não chegasse ao campo.

O combate foi feito por uma série de armadilhas posicionadas estrategicamente em diversos pontos da cidade. Desde 2013 nenhum inseto é encontrado por aqui, o que faz do Estado uma referência internacional em sanidade vegetal. Mesmo na época de superpopulação na cidade, no campo o inseto nunca mais foi detectado.

O Estado é destaque na atividade não só pelo volume de produção, mas também pela qualidade das frutas. Como são equilibradas nutricionalmente, elas têm sabor, têm textura e acidez adequada. E esse clima, além da condição fitossanitária, faz com que a região tenha frutos de excelente qualidade.

Excelência como resultado de anos de pesquisa

Foram muitos anos de estudos e muita cooperação entre órgãos de pesquisa e produtores para Santa Catarina chegar ao patamar de excelência quando o assunto é maçã. É daqui a maior cooperativa do segmento e a cidade que mais reúne produtores do país.

Doce, crocante e suculenta, o catarinense tem mesmo muita sorte de ter uma fruta tão gostosa e especial por perto. Esse resultado, na gôndola do supermercado, tem a ver com pesquisa e ciência, no campo e no laboratório – no controle de pragas e no uso consciente e equilibrado de inseticidas.

Cristiano Arioli, entomologista da Epagri, explica que eles trabalham com ferramentas que vão desde armadilhas até produtos, para entender se é necessário fazer uma aplicação ou não. Como a gama de produtos registrados para maçã é grande, é muito importante fazer essa análise para recomendar ao produtor ou ao técnico, ao agrônomo, a melhor ferramenta para o melhor momento.

“-Tem que ser uma fruta limpa, né? Então não só limpa de inseto, de praga, mas também de resíduo de defensivo. Então a gente também trabalha nessa linha, para que ele colha uma fruta limpa e ela chegue tranquila para o consumidor apreciar” – completa.

Para isso existe também o auxílio da tecnologia, com aplicativos que orientam e conectam produtores e pesquisadores, além de melhoramento genético, para desenvolver cultivares cada vez mais resistentes à doenças.

“- A ideia é gerar ao produtor um material que se desenvolva mais fácil e que, ao mesmo tempo, tenha aceitação comercial, que seja de fácil manejo e que o produtor acabe gastando menos com insumos que são necessários pro cultivo tradicional. O importante é termos essa variação porque com ela, a gente consegue desenvolver materiais melhores” – explica Felipe Pinto, gerente da Epagri de São Joaquim.

Um bom exemplo do nosso sucesso é uma cooperativa em São Joaquim, a maior do setor no país. Dos quase 3 mil produtores catarinenses, cerca de 2 mil estão na cidade. A produção do município é caracterizada pela Agricultura Familiar e a presença da cooperativa faz toda a diferença: 90% da produção fica no país e os outros 10% ganham diferentes partes do mundo, como a Inglaterra e o Oriente Médio.

Quando atingimos um padrão de excelência de um produto, como é o caso da maçã, toda uma cadeia produtiva ganha com isso. É geração de empregos e renda para moradores e quem vive do turismo. Se a gastronomia atrai paladares exigentes, é a experiência rural que aguça os outros sentidos.

Mais da metade da maçã que abastece todo o Brasil sai de Santa Catarina e a safra deste ano não pretende decepcionar. É uma cadeia produtiva que chega a entregar diretamente só na colheita cerca de 75 mil pessoas, isso sem contar nos empreendedores, comerciantes e trade de turismo em Fraiburgo.

Laiza Barcelos, agrônoma do projeto Acolhida na Colônia, explica que a ideia é que as famílias usem as estruturas que elas têm para começarem a receber os visitantes do meio urbano e, assim, fazer com que eles conheçam um pouco mais da produção.

Para saber mais sobre a plantação de maçã no Estado, aproveite e confira a edição do programa Agro, Saúde e Cooperação na íntegra que, inclusive, conta com a receita de um risoto de maçã delicioso. Lembrando que a iniciativa é uma parceria do Grupo ND com a Ocesc e da Aurora.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.