Galheta é referência internacional LGBTQIA+ e abriga negócio familiar há 30 anos

A Praia da Galheta, no Leste de Florianópolis, é referência internacional de turismo LGBTQIA+. A informação foi inclusive publicada no site português “Dezanove”, que chama o destino de indispensáveis para viajantes que visitam o Brasil.

“Essa é a irmã da agitada e também gay Praia Mole, que fica à sua esquerda. É um lugar para relaxar e tomar sol de forma tranquila”, escreve o site.

Praia da Galheta é referência no turismo LGBTQIA+ – Foto: Leo Munhoz/ND

Maik, de 32 anos, que preferiu não ter o nome completo divulgado, é um frequentador do local há cerca de dois anos e meio, e conta que costuma visitar a praia até mesmo no intervalo do trabalho.

“Moro na Fortaleza da Barra, aqui atrás do Morro da Galheta, então vou à praia com frequência. Trabalho de casa então posso vir no intervalo do almoço ou no final do dia. Vim pela primeira vez numas férias e foi a Galheta um dos principais motivos pelo qual me apaixonei pela ilha e acabei me mudando pra cá um ano depois”, conta.

Segundo Maik, o Leste da Ilha tem virado o polo LGBTQIA+ por causa da Galheta. Para ele, a maioria dos que moram ou visitam a Ilha tentam se hospedar nos bairros próximos, como a Lagoa da Conceição e a Barra da Lagoa.

“Na Fortaleza da Barra é lindo ver no Carnaval e no Réveillon casais gays andando pelo bairro. A população gay aumenta nessas datas. A Galheta é uma referência no Brasil inteiro e nos países do Mercosul”, diz.

O frequentador do local conta ainda que viajando pelo Brasil e Argentina já falou com algumas pessoas que levaram boas lembranças da Galheta.

“A Galheta não é qualquer coisa. A mata atlântica desce até a praia dos morros lá em cima, o efeito produzido por esse verdor é incomparável. Ela é impactante”, fala com olhar apaixonado.

Praia da Galheta é cercada por vegetação – Foto: Leo Munhoz/ND

Para ele, o nudismo não é um problema, isso porque “existe uma cumplicidade de que aqui estamos nós pelados enquanto na outra praia do lado todo mundo roupa. Você sorri para o outro tipo parabenizando por ter se permitido”.

Maik diz se sentir mais ele mesmo ao frequentar a Galheta, se sente parte do ambiente, da natureza, e se liberta das suas amarras.

“Em várias ocasiões já vi pessoas transexuais entrando no mar pelados com uma alegria no rosto que não tem descrição. Aquilo chega no coração”, encerra.

O bar

O Bar do Deca, no costão esquerdo, próximo à trilha que leva à Galheta, é conhecido desde os anos 80 como um ponto de encontro para pessoas LGBTQIA+. O bar é simples, uma típica cabana que serve almoço com frutos do mar, lanches rápidos e muita bebida. No carnaval há um aumento do número de frequentadores, e durante o ano não perde a clientela.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2010 para o curso de pós-graduação em antropologia social da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), chamado “Se manque: uma etnografia do carnaval no pedaço GLS da Ilha de Santa Catarina”, a história é antiga.

De acordo com o autor Marco Aurélio da Silva, em 1998 duas atrações marcaram as tardes de carnaval no local: um grupo de instrutores de afroaeróbica e a presença das drags Paulita Mouse, de Curitiba, e Tina Túnel, de Balneário Camboriú. Foi realizado um concurso que contou também com a participação de uma outra “montada”, que não era profissional como Paulita e Tina, mas se destacava por sua fantasia alusiva à personagem Mônica das histórias em quadrinho, com um coelho gigante que ela girava e jogava na plateia.

Foi assim, há muitos anos, que o turismo LGBTQIA+ ganhou força na região.

Uma história de 30 anos

Silvio Laureano Ferreira, de 42 anos, trabalha há 25 anos no único quiosque da praia da Galheta, de pé há pelo menos 30 anos. Para ele, “não há lugar melhor no mundo”.

“Para mim é normal ver as pessoas nuas porque fui criado aqui. Claro, quando algum parente nos visita acaba sendo diferente, mas há muita pluralidade nessa praia, gente do mundo inteiro”, diz.

Estabelecimento conta com uma bandeira LGBTQIA+ – Foto: Leo Munhoz/ND

O estabelecimento conta com água gelada, açaí, salgados e uma enorme bandeira LGBTQIA+, indicando que o local é considerado LGBTQIA+ friendly.

“É importante falarmos isso, somos referência em turismo LGBTQIA+, eles frequentam aqui e se sentem bem. Temos não só um ambiente bacana e de respeito, mas uma beleza natural incrível”, fala.

Ferreira conta que o local é calmo, e que vive sua melhor fase. No verão a praia lota, com brasileiros e turistas de todas as partes do país e do mundo. Com um sorriso no rosto Ferreira encerra a entrevista dizendo: “aqui, somos como crianças, que andam nuas e não veem maldade”.

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