Um mês após ataque a creche em Blumenau, mãe desabafa: ‘o luto é uma montanha-russa’

Era uma manhã de quarta-feira normal. Moradores de Blumenau, no Vale do Itajaí, se preparavam para começar mais um dia. Entretendo, aquele dia 5 de abril estará para sempre na memória da população da cidade. O ataque a creche Cantinho Bom Pastor, no bairro Velha, chocou o mundo e deixou marcas profundas nas vidas de quatro famílias.

Creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau, – Foto: Eduardo Valente/Secom/Divulgação/ND

A cidade ainda se recupera do ataque que, nesta sexta-feira (5), completa um mês. A tragédia tirou a vida de quatro crianças e outras cinco ficaram feridas.

A mãe de uma das crianças que morreu no ataque, afirma que, um mês após a perda do único filho, ela e a família buscam forças para lidar com o luto e aguardam por Justiça.

“Está sendo bem difícil lidar com o luto. Quanto mais o tempo passa, mais a saudade aumenta. É como se a gente tivesse uma pata de elefante no peito o tempo todo, falta ar. A gente sente muita falta da presença física e da rotina. Ele era uma criança muito amorosa, então ele acabava dando muito amor pra gente. Na minha casa o amor era incondicional”.

Ela conta que ela e o marido ainda não conseguiram voltar para o apartamento e que estão morando na casa da mãe. “O luto é uma montanha-russa, tem horas que leva pra baixo, tem horas que tu sai desesperada. Durante o dia do nada me vem um vazio muito grande, dá uma vontade de chorar, da dor, falta de ar. A gente ainda não voltou pro nosso apartamento. Continuamos na casa dos meu pais. Ontem (3) a gente foi até o apartamento, mas ainda é muito difícil. A minha casa respirava ele [a criança], então voltar pra casa ainda está muito difícil”, afirmou.

Segundo ela, os pais das outras crianças estão mantendo contato e juntos, eles se unem para dar força um ao outro. “A gente também tem tido bastante auxilio, ajuda do município com atendimento psicológico”.

Encontro em Brasília

Para a mãe da criança de apenas 4 anos, a visita em Brasília, acompanhada pelo prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt, deixou todos muito esperançosos. “O deputado Jorge Goetten entregou o nosso abaixo-assinado que pedia justamente Leis mais rígidas do que a gente tem atualmente e que também fosse revisado a punição para esses crimes hediondos, principalmente envolvendo crianças e adolescentes. Além disso, que não tivesse progressão de pena para crimes como esse. A gente foi atrás querendo que fosse verificado também em relação a prisão perpetua. Entregamos a minuta que foi feita pela Câmara de Deputados com mais de 26 projetos e também pelo magistrados aqui de Blumenau. Agora a gente está aguardando ir para o plenário e seguir o processo da parte legislativa”.

“Lá em Brasília a gente teve muito apoio da deputada Caroline De Toni e também do Jorge Goetten, que abraçaram a causa e estão trabalhando bastante. Estão formando uma comissão para tratar sobre esse projeto para colocar no plenário”, completou.

Medidas de segurança

Após o ataque, Blumenau e outros município de Santa Catarina anunciaram medidas de segurança nas escolas e creches. A mãe do menino acredita que muitos pais ainda estão inseguros. “Pra mim não é o suficiente diante do pouco que se aumentou e da gravidade desses crimes envolvendo crianças e adolescentes. Tinha que ser levado mais a sério. Quanto as mudanças, agora a gente tá aguardando. O país tem muita burocracia e a gente sabe que existe um protocolo pra tudo. Então a gente gostaria que isso fosse mais ágil”.

A mãe e os outros pais seguem acompanhando todos os detalhes que envolvem a prisão e condenação do autor. “Eu particularmente confesso que me revoltei sabendo que ele mudou de penitenciária, estou bem revoltada. Por que se o caso vai ser julgado em Blumenau, por que transferiram ele lá pro Oeste. (…) É uma inversão de valores que me revolta muito”, disse.

“Não terceirizem o amor”

Ela reforça que nenhum pai está preparado para perder seu filho (a). Ela ainda afirma que depois da tragédia, começou a perceber que muitos pais mudaram seus comportamentos. “Geralmente pensamos que a gente vai antes de um filho. E na realidade, comigo aconteceu diferente. É preciso que a gente diga mais ‘eu te amo’, que esteja presente na vida escolar de um filho, que leve pro parque, brinque, que cante, que a gente dê atenção. Em meio a rotina, as vezes a gente acaba priorizando o que deduzimos que seja melhor para os nossos filhos”.

Por fim, deixa uma mensagem para todos os pais: “não terceirizem o amor”. “Por muito tempo eu trabalhei em dois empregos pra dar o melhor pro meu filho e o que valeu a pena? O tempo que eu estava em casa, ficava inteiramente com o meu filho. Eu não guardo culpa nenhuma por que eu fui a melhor mãe que eu podia ser. Eu sempre tive presente na vida do meu filho. Essa paz eu carrego, mas a gente sabe que tem muito pai que as vezes acaba priorizando o trabalho e esquece que o importante pra criança é você estar com ela. A mensagem que eu deixo é que realmente os pais não terceirizem o amor, que eles vivam o dia como se fosse o último com seus filhos”, finaliza.

Relembre o caso

No dia 5 de abril, a Creche Cantinho Bom Pastor, no bairro da Velha, foi alvo de um ataque que matou quatro crianças e deixou outras cinco feridas.

Um homem de 25 anos pulou o muro da instituição e tirou a vida das crianças ao agredi-las com uma machadinha. Em coletiva, o governo do Estado confirmou que o homem tinha outras quatro passagens pela polícia, entre elas por tentar esfaquear o padrasto. Ele se entregou à polícia logo após cometer o crime.

ND+ não irá publicar os nomes do autor e das vítimas do ataque, assim como imagens explícitas do crime. A decisão editorial foi feita em respeito às famílias e ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), também para não compactuar com o protagonismo de criminosos.

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