‘Ele é meu herói’: pai fala sobre a recuperação do filho ferido em ataque a creche de Blumenau

O ataque a creche Cantinho Bom Pastor marcou para sempre a cidade de Blumenau, no Vale do Itajaí. Um mês após a tragédia, o pai de uma das crianças feridas comentou sobre a recuperação do filho e a volta da família para a rotina. O psicológico dos familiares continua abalado, mas eles seguem lutando para se reestabelecer.

‘Ele é meu herói’: pai fala sobre a recuperação do filho ferido em ataque a creche de Blumenau – Foto: Vinicius Bretzke/Eduardo Fronza/Reprodução/ND

O pai do pequeno, que tem cinco anos de idade, conta que retornou para ao trabalho no início desta semana, e que não esperava ser tão difícil voltar para a rotina. “Confesso que eu achei que ia ser mais fácil. Eu não consigo me concentrar muito no trabalho, o nosso psicológico está muito abalado, isso que já passou um mês. A gente tenta lutar de todo jeito para se reestabelecer porque, até então, a gente estava ocupado com o tratamento dele, a cirurgia que ele estava fazendo, estava ocupando a nossa mente só com ele”.

A criança foi atingida no maxilar e precisou passar por uma cirurgia. Inicialmente, seria utilizada uma placa de titânio, mas a médica responsável pelo procedimento esteve no Congresso Nacional dois dias antes e ganhou uma placa absorvível. “O próprio corpo absorve essa placa e não precisa retirar depois, como é o caso da placa de titânio, que é retirada após seis meses de cirurgia. Deram todo o material que precisavam para ele e a cirurgia foi um sucesso”, explicou o pai.

De volta para a rotina

Voltar para a rotina após o ataque a unidade educacional tem sido difícil para a família. A mãe do menino está com ele em casa, pois conseguiu pegar mais alguns dias de atestado do trabalho. Para a criança, no entanto, o processo de voltar para as aulas está sendo mais complexo.

“Na segunda-feira ele vai para uma creche, mas a gente levou ele no Cantinho Bom Pastor e ele não reagiu bem. Ele ficou quietinho, brincava um pouco, mas depois ficava quietinho olhando para o nada. Ele não quis descer do nosso colo onde era o parquinho antes, e quando a gente chegou dentro do carro ele falou ‘papai, mamãe, eu quero ir para outra escolinha, não quero mais vir nessa escolinha’. A gente viu que mente dele ainda sabe o que aconteceu ali, porque ele é muito forte, resistente, ele consegue lembrar. Quando a gente toca no assunto ‘ah, vamos na escolinha Bom Pastor’, ele muda de assunto totalmente”, comentou.

A tragédia ficará para sempre marcada na vida dos envolvidos, principalmente nas crianças atingidas, que carregam cicatrizes do ataque. “Nós estamos lutando para voltar para a rotina. Esquecer não vai, é uma cicatriz que está no meio da nossa cidade e também sobre a nossa vida, sobre a minha, da minha família e dos que foram feridos, que vão olhar para as cicatrizes e sempre lembrar. Nós vamos olhar para o nosso menino e lembrar disso, vamos olhar o rosto dele e ver as marcas”.

O pai do menino comenta que o filho segue reagindo, mas que ainda reluta com algumas coisas. Ele ainda fala que conseguiu uma vaga para o filho em outra unidade de ensino, e acredita que esse retorno vai ser bom para o pequeno, pois ele brincará com outas crianças. “Meu filho é muito de brincar, de falar alto, gosta de dançar e gritar de brincadeira. Ele é meu herói, porque passou por um cenário de guerra. Eu fico emocionado, porque o que ele viu, o que ele contou e o que ele passou são cenas de guerra, e a gente está tentando lutar contra esses traumas”.

Endurecimento da Lei

Para o pai da criança, é preciso reformular as penas para crimes como o ocorrido em Blumenau. Ele questiona se os políticos estão trabalhando nisso, pois considera a lei brasileira frágil.

“Alguém colocou um projeto de lei quanto a isso? Os ataques vão continuar. A nossa lei é frágil, nós estamos tentando lutar contra isso. Nós temos que botar, em casos como terrorismo e ataque a escola, penas altas que o cara vai ter que cumprir, ir para a cadeia e ficar lá, porque nós vemos que no nosso país não tem pena de morte, e eu não sou a favor disso, mas acho que, pelo menos, o cara tem que passar o resto da vida dele na cadeia. A gente tem que lutar para que isso mude, porque nossa lei é frágil”, enfatizou.

Relembre o caso

No dia 5 de abril, a Creche Cantinho Bom Pastor, no bairro Velha, foi alvo de um ataque que matou quatro crianças e deixou outras cinco feridas.

Um homem de 25 anos pulou o muro da instituição e tirou a vida das crianças ao agredi-las com uma machadinha. Em coletiva, o governo do Estado confirmou que o homem tinha outras quatro passagens pela polícia, entre elas por tentar esfaquear o padrasto. Ele se entregou à polícia logo após cometer o crime.

ND+ não irá publicar os nomes do autor e das vítimas do ataque, assim como imagens explícitas do crime. A decisão editorial foi feita em respeito às famílias e ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), também para não compactuar com o protagonismo de criminosos.

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