Mulheres na música: 85% das artistas já foram alvo de discriminação na área fonográfica

Os depoimentos de 256 mulheres do meio musical confirmam o resultado da pesquisa digital Por Elas Que Fazem a Música 2023, feita pela UBC (União Brasileira de Compositores), entre os dias 16 e 29 de março deste ano, que mostra que 85% das mulheres na música já sofreram discriminação de gênero em algum momento de sua carreira. O levantamento inclui autoras, cantoras, produtoras, intérpretes e profissionais do setor da música do país.

“Sou uma mulher negra e empresária, mas sou constantemente confundida com dançarina ou familiares dos artistas que represento”, disse Ana Paula Paulino.

Seguindo as classificações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maioria das participantes da pesquisa se identificou como branca (67%), seguidas de pardas (18%) e pretas (13%). Participaram também mulheres indígenas (1,5%) e amarelas (0,5%) – Foto: Divulgação/Pexels/ND

Segundo a pesquisa, 76% das profissionais de música afirmaram já terem sido vítimas de assédio no ambiente de trabalho. Na avaliação da coordenadora de Comunicação e Marketing da entidade, Mila Ventura, o levantamento é um recorte da nossa sociedade como um todo.

“Neste momento, no meio do entretenimento, tem algumas coisas aparecendo. No mercado da música, não é diferente”, afirmou, em entrevista à Agência Brasil.

“Uma vez subi no palco para tocar, sou DJ e, mesmo com meus aparatos em mãos, fui bruscamente puxada pelo braço pelo dono do clube, pois ele achou que eu era uma frequentadora que estava invadindo a cabine para tietar o artista anterior a mim”,  afirmou Rafaella De Vuono.

A presidente da UBC, Paula Lima, autora e cantora, considerou os resultados do estudo libertadores, no sentido de revelar que outras mulheres também sofreram assédio e violência no meio da música.

“Isso liberta no sentido de você falar que isso é errado, não vou deixar acontecer”, disse Paula à Agência Brasil. Para ela, as porcentagens apuradas são altas, no sentido negativo.

“Acho que através do diálogo e da conversa a gente muda. Fiquei muito emocionada, impressionada e bem feliz, de forma geral, com esse entendimento”. A UBC vai continuar fazendo essas pesquisas. “Estamos em um processo de evolução e de transformação”.

Paula disse que a UBC tem o comprometimento de fazer com que haja equidade, respeito e igualdade com as mulheres. “A gente abre mais portas para profissionais femininas, para mais mulheres na sociedade também.

Agindo dessa forma aqui dentro, no nosso núcleo, isso também se espalha e acaba sendo aquela árvore do bem, com mil ramificações. A gente sempre acredita na diversidade, na inclusão, na igualdade e, obviamente, nas mulheres”.

Identificação com outras mulheres

Para a gerente de Comunicação e Marketing da UBC, Mila Ventura, toda mulher que trabalha no meio musical se identifica com alguma coisa em algum momento. “Nossa intenção, como associação, foi conseguir gerar dados para que esses temas pudessem ser discutidos de forma mais clara com a sociedade. Muitas mulheres da indústria agradeceram pela iniciativa, justamente porque era o momento de serem ouvidas.”

Assédio e discriminação foram o foco central do novo levantamento da UBC. “Porque a gente sabe que isso é muito importantes, muitas mulheres passam por isso todos os dias e não tínhamos dados para fomentar uma discussão mais clara”, ressaltou.

A ideia é, a partir do momento em que há disponibilização de dados concretos, tentar criar um novo modelo de pensamento no universo masculino sobre isso. “É importante rever esse pensamento, essa atitude, essa forma de operar no universo masculino diante disso tudo”, sinalizou Mila Ventura.

Ela acredita que homens de bom senso vão se reconhecer em alguma atitude e vão, no mínimo, repensar e fazer parte do movimento de criar uma nova forma de pensar e de agir com as mulheres, chamar a atenção de um amigo que ele percebe que está fazendo uma brincadeira inconveniente, que a mulher vive constantemente. Comentou ainda que no meio da música, por ser um ambiente prioritariamente masculino durante muitos anos, é cada vez mais difícil.

Mila chamou a atenção para o fato de que, no mercado da música, existe especialmente a questão da noite, do entretenimento, da bebida. Então, de alguma forma, aquele espaço traça uma linha muito tênue de se entender que a mulher está ali porque se encontra trabalhando, com uma postura profissional e não está disponível. Para ela, que já viajou com músicos, em equipes com 35 homens, e somente ela de mulher, encontrar esse lugar de respeito é desgastante, cansativo e constante. Na sua visão, assédio e discriminação no ambiente da música não são mais toleráveis nem aceitáveis.

O que dizem os dados

Seguindo as classificações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maioria das participantes da pesquisa se identificou como branca (67%), seguidas de pardas (18%) e pretas (13%). Participaram também mulheres indígenas (1,5%) e amarelas (0,5%).

A maioria das respondentes tem entre 31 e 40 anos (36%), mas há também um número expressivo de mulheres na faixa entre 41 e 50 anos (24%). As idosas foram minoria (2%). Nenhuma menor de idade respondeu à pesquisa. A maior parte das respondentes é solteira (51%) e a grande maioria (63%) não tem filhos.

O levantamento aponta, em contrapartida, avanços relacionados à aceitação da diversidade de gênero. Quase a totalidade das respostas foi dada por mulheres cisgênero, sendo a maioria delas heterossexuais (65%), seguidas de bissexuais (21%) e homossexuais (10%). As mulheres transgênero representaram 2% das respostas, sendo 1,5% delas bissexuais e 0,5% heterossexuais.

Outros depoimentos de mulheres

Anônimos ou não os relatos foram também autorizados por suas autoras e revelam momentos de assédio vivenciados no meio musical.

“O cara me chamou para cantar em um evento superimportante e, depois de eu ser confirmada, ele começou a dar em cima de mim. Porém, eu não dei bola e, quando chegou o dia do evento, ele tirou minha participação”, disse Isabella Letícia Bom Soares.

Seguindo as classificações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a maioria das participantes da pesquisa se identificou como branca (67%), seguidas de pardas (18%) e pretas (13%). Participaram também mulheres indígenas (1,5%) e amarelas (0,5%).

“Já passei por todo tipo de assédio e situações desagradáveis. Aos 13 anos, eu já trabalhava como cantora. E sofri um estupro, viajando a trabalho. Realmente já passei por muita coisa. Desde “brincadeiras” inconvenientes, tentativas de contato físico à força, até propostas do tipo “eu te ajudo você me ajuda”, tratando-se de favores sexuais em troca de patrocínio. (Melissa da Maia Koslouski)

A maioria das respondentes tem entre 31 e 40 anos (36%), mas há também um número expressivo de mulheres na faixa entre 41 e 50 anos (24%). As idosas foram minoria (2%). Nenhuma menor de idade respondeu à pesquisa. A maior parte das respondentes é solteira (51%) e a grande maioria (63%) não tem filhos.

“Cheguei ao ponto de bloquear homens que acham que podem tudo. Pessoalmente, em ‘shows’ passados, já ouvi de donos de bares e casas de ‘show’ que o cachê seria maior caso usasse menos roupa ou se rolasse um after party (depois da festa) particular.(Fabiana Bellentani Cabral de Oliveira)

O levantamento aponta, em contrapartida, avanços relacionados à aceitação da diversidade de gênero. Quase a totalidade das respostas foi dada por mulheres cisgênero, sendo a maioria delas heterossexuais (65%), seguidas de bissexuais (21%) e homossexuais (10%). As mulheres transgênero representaram 2% das respostas, sendo 1,5% delas bissexuais e 0,5% heterossexuais.

 

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