Endereços do crime: onde estão as ruas mais perigosas de Florianópolis? Veja lista inédita

Em meio a passos apressados e bolsas coladas ao corpo, três ruas do Centro de Florianópolis estão entre as cinco com mais furtos e roubos na capital em 2022 e 2023. Um levantamento exclusivo, obtido pelo ND Mais via LAI (Lei de Acesso à Informação), apontou quais bairros e quais ruas mais perigosas de Florianópolis em relação a esses tipos de crimes nos últimos dois anos.

Centro registrou o maior número de furtos e roubos nos últimos dois anos e tem 3 das ruas mais perigosas de Florianópolis

Centro registrou o maior número de furtos e roubos nos últimos dois anos e tem 3 das ruas mais perigosas de Florianópolis – Foto: Germano Rotato/ND

Os dados compreendem todos os tipos de furtos e roubos ao longo de 2023 e 2023 registrados por órgãos da SSP (Secretaria de Segurança Pública) de Santa Catarina.

Com 510 ocorrências em dois anos, a Paulo Fontes, paralela ao Ticen (Terminal de Integração do Centro), é a segunda rua de Florianópolis com mais furtos e roubos registrados em 2022 e 2023. É nessa passagem para pedestres que Maria Conceição Nascimento Costa, de 59 anos, trabalha.

Maria faz parte do segundo grupo que mais sofreu esse tipo de crime em Florianópolis, com 1,8 mil registros: os autônomos. De sua tenda onde vende bonecas pretas de pano nas terças e quintas, a trabalhadora — que está no local há quatro anos — afirma que nunca foi roubada, mas que já presenciou diversos furtos e roubos na rua.

“Eu sou calma, mas numa hora assim, eu acho que eu reajo. O que a gente tem a gente consegue com o nosso trabalho. Daí vai uma pessoa para levar o que tu tem? Eu acho que reagiria”, reflete.

As maiores vítimas de roubos e furtos de Florianópolis

As cinco ocupações que mais sofreram roubos e furtos em 2022 e 2023, em Florianópolis. Fonte: SSP-SC – Foto: Gil Jesus/Arte/ND

Andar sozinho se torna perigoso no Centro

Segundo dados do Consórcio Fênix, empresa terceirizada responsável pelo transporte público municipal, repassados à Secretaria Municipal de Segurança Pública, todos os dias, cerca de 150 mil pessoas passam pelo Ticen para transitar na Ilha de Santa Catarina.

Uma delas é a técnica de enfermagem Emily Kossan, de 34 anos, que atravessa diariamente a Paulo Fontes para pegar o ônibus que a leva ao trabalho, em São José, na Grande Florianópolis. Segundo ela, furtos e roubos podem acontecer quando criminosos abordam tentando conversar com a vítima.

“Quando eu passo por aqui de noite, geralmente eu tô em um grupo, então não tem esse perigo [ser roubada], mas quando eu estou sozinha eu tenho um pouco mais receio. Eu dou uma corrida, procuro não ficar olhando muito para os lados e não dar muita intimidade”, afirmou.

O mesmo é dito por Maria, que de noite, opta por andar em mais de uma pessoa para inibir ameaças.

Maria Conceição trabalha na Paulo Fontes - Germano Rotato/ND

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Maria Conceição trabalha na Paulo Fontes – Germano Rotato/ND

Emily Kossan passa todos os dias pela Paulo Fontes para ir trabalhar - Germano Rotato/ND

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Emily Kossan passa todos os dias pela Paulo Fontes para ir trabalhar – Germano Rotato/ND

Paulo Fontes é a segunda rodovia com o maior registro de roubos e furtos - Germano Rotato/ND

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Paulo Fontes é a segunda rodovia com o maior registro de roubos e furtos – Germano Rotato/ND

Apesar dos cuidados reforçados para se passar no local, por volta das 15h da tarde de uma quinta-feira, o público que passava pela Paulo Fontes se dividia entre pessoas que passavam apressadas, sem olhar para os lados, com a bolsa agarrada na frente do corpo, e os que, com tranquilidade, andavam pela rodovia com o celular na mão e pertences à mostra.

Noites de violência na Praça VX

Em nove minutos a pé, a cerca de 650 metros, fica localizado o local que, segundo o levantamento, tem o quinto maior número de roubos e furtos: a Praça XV. Não é preciso andar muito para encontrar testemunhas de alguns dos 385 roubos e furtos registrados no local em 2022 e 2023.

Anonimamente, taxistas contaram qual é a sensação de segurança que possuem trabalhando todos os dias no local.

“É uma vergonha. Depois das 19h, você não consegue mais passar sozinha ali”, disse um deles.

“Às vezes são uns três, quatro abordando uma senhora. A noite a praça fica uma penumbra, essa luz amarela aqui não fica bem iluminada, deveria ser luz de led”, opina outro, apontando para os postes de luz.

“Teve uma menina que teve o celular roubado. Estava ela e umas três amigas, saíram as amigas correndo atrás e os dois que abordaram ela levaram o telefone. Ela saiu correndo para cima de uma viatura. O policial simplesmente falou para ela que não tinha nada que pudesse fazer. Isso no centro da cidade”, lembrou mais um.

Praça XV é 5º local com maior número de ocorrências – Foto: Germano Rotato/ND

Os ‘pickpockets’ da Victor Meirelles

A 120 metros de distância, fica a Victor Meirelles, uma das ruas que centraliza a vida noturna no Centro Leste de Florianópolis. O logradouro também é a quarta rua com mais roubos e furtos, com 416 ocorrências no período analisado.

“Você tem o vou usar a expressão que tá na moda aí na internet o pickpockets, o chamado batedor de carteira. Ali tem uma massa de pessoas bem próximas umas das outras se esbarrando. A atenção baixa é tanto porque é um local de entretenimento, como pelo uso do álcool. Então a cada quatro, cinco que esbarram, tem alguém que de repente puxa um celular”, exemplifica o secretário municipal de Segurança Pública, coronel Araújo Gomes.

A rua deserta durante o dia pouco mostra o quanto enche de pessoas que, de noite, se divertem nos bares da via. Andando pelo calçamento, o flanelinha Marcelo Veiga sinaliza para os motoristas o melhor local para estacionar. Ele afirma que, embora a via esteja entre as ruas mais perigosas de Florianópolis, o cenário já foi pior.

“Essa rua é a rua mais movimentada do Centro de Floripa. Ela já foi muito perigosa, mas hoje em dia a gente está mudando o sistema. Tem muitas pessoas que a gente tentou dar oportunidade e ajudavam o crime. Roubavam o pendrive de carro, quebravam o vidro, roubavam a toca-fita, essas coisas. Então isso não existe mais hoje”, diz.

Localização das ruas mais perigosas do Centro de Florianópolis

Ruas mais perigosas do Centro de Florianópolis considerando roubos e furtos em 2022 e 2023. Fonte: SSP-SC – Foto: Gil Jesus/Arte/ND

Segurança a pé ou em viatura?

Enquanto conversava com a reportagem, a autônoma Maria Conceição apontou para uma viatura da GMF (Guarda Municipal de Florianópolis) que passava pela via de pedestres em monitoramento.

“Eu acho que falta muito policiamento a pé. Pode ver eles passando de viatura. Não adianta ter um segurança dentro do carro. As pessoas sendo roubadas aqui, eles não vem lá correndo para ver, as vezes nem estão vendo”, ressaltou.

Populares afirmam que policiamento existe, mas que sentem falta de monitoramento de policiais a pé para evitar roubos e furtos- Foto: Germano Rotato/ND

Questionado, o secretário municipal explicou o uso da viatura é mais efetivo.

“O policial na viatura cobre uma área geográfica maior, responde mais rapidamente aos incidentes, leva com ele uma quantidade maior de armamento de equipamentos […] Ele pode ver as câmeras da região, tem acesso a pesquisa de placas roubadas e recebe os alertas das câmeras que tem inteligência”.

Segundo ele, por uma questão de efetivo, a prefeitura optou por outra solução para tentar passar para os cidadãos a sensação de maior segurança.

“Nós contratamos agentes que são auxiliares de fiscalização e ordem pública. São aqueles que utilizam aquele colete amarelo escrito ‘ordem pública’. Eles não são policiais, não usam arma, mas eles fazem essa âncora da presença do estado protetor e regulador do Estado policial”, afirmou o secretário, que explicou que esses agentes atuam em casos de prevenção antes do crime, conflitos, ambulantes irregulares e descarte de lixo incorreto.

Segundo o coronel da Polícia Militar de Florianópolis, André Rodrigo Serafim, as viaturas utilizadas são uma estratégia para gerenciar o efetivo.

“Entre você colocar dois policiais de viatura para conseguirem atingir uma grande região com agilidade e disponibilizá-los a pé, é melhor a viatura. Se a gente tivesse um grande efetivo, que possibilitasse eu colocar todos na viatura e a pé, eu colocaria”, disse.

‘A oportunidade faz o ladrão’

A avenida Paulo Fontes, a Praça XV e a Victor Meirelles fazem parte das cinco ruas com mais furtos e roubos e estão localizadas no bairro que reuniu o maior número dessas ocorrências, o Centro de Florianópolis.

Araújo Gomes afirmou que o resultado é consequência de três pilares: o suspeito — apto e disposto a cometer a infração —, a vítima — vulnerável ou interessante o suficiente — e a oportunidade — formada pelas circunstâncias do momento e local.

“A oportunidade faz o ladrão e nós atuamos na redução dessas oportunidades. Seja melhorando o ambiente para ser mais seguro, educando, informando as possíveis vítimas para que tenham comportamentos de auto proteção ou atuando de forma repressiva sobre os possíveis infratores”, garantiu.

De acordo com o secretário, mesmo que o Centro concentre a maior parte das ocorrências, é comum ver os mesmos rostos por trás da autoria desses crimes. No entanto, ele afirma que autores de furtos, crimes classificados como não violentos, geralmente são soltos em audiência de custódia.

“Tem um cara que a especialidade dele é furtar equipamentos ligados de ar-condicionado. Quando ele está solto chega a roubar cinco ou seis por semana. Ele tem essa habilidade de escalar as paredes, chega no segundo e no terceiro andar e rouba as máquinas”, pontua.

O ponto de vista é reforçado pelo coronel da Polícia Militar de Florianópolis, André Rodrigo Serafim. Ele que afirma que outras circunstâncias do Centro da cidade fazem com que o problema de segurança pública seja muito maior do que o setor policial do município.

“É muito mais do que simplesmente a falta de policiamento. A polícia prende o tempo todo as mesmas pessoas pelos mesmos atos. Tem sujeito com 80 ou 90 prisões e continua na rua”, fala.

Qual a rua com mais furtos e roubos da cidade?

Mesmo com o Centro ocupando o 1º lugar entre os bairros com maior número de ocorrências, é a rua Avenida Mauricio Siroski Sobrinho, que conecta a SC-401 ao bairro Jurerê e ao bairro Daniela, que concentrou o maior número de furtos e roubos em 2022 e 2023. Ao todo, foram 620 ocorrências registradas na rua, que é deserta.

Ruas mais perigosas de Florianópolis considerando roubos e furtos em 2022 e 2023. Fonte: SSP-SC – Foto: Gil Jesus/Arte/ND

O número foi recebido com surpresa pelo 21º Batalhão de Polícia Militar, que monitora a região. Eles explicaram a possível causa para o local.

“A rodovia em questão não é uma área residencial. Mas na rodovia fica umas das principais casas de shows da capital. Infelizmente ocorrem ações de oportunistas que cometem furtos, se aproveitando do grande número de pessoas, a exemplo do que acontece em festas de grande porte”, afirmou o batalhão em nota.

O batalhão também ressaltou que não tem “ocorrências geradas à PM nesta localidade sobre essa quantidade expressiva de furtos”, isso porque, segundo a PM, a maior parte dos boletins de ocorrências são feitos de maneira online, ou seja, muito depois da consumação do crime.

Ruas mais perigosas de Florianópolis: digite o seu endereço e descubra os registros de roubos e furtos na via

 

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