O que é ludopatia, doença que acomete pessoas viciadas em jogos de azar

Pedir empréstimos, — até mesmo com agiotas, vender itens pessoais para juntar dinheiro ou gastar o último centavo que seria destinado a quitar contas; essa é a realidade enfrentada por pessoas viciadas em jogos de azar. A condição conhecida como “ludopatia” afeta aqueles que não conseguem parar de jogar e por vezes interrompem a rotina diária e carreira por conta da dependência.

Máquina caça níquel

Condição conhecida como “ludopatia” afeta aqueles que não conseguem parar de jogar – Foto: Divulgação/Freepik

O corpo do mecânico Marcos Roberto Machado, de 52 anos, foi achado em um carro, no Mato Grosso. Segundo relatos à polícia, a vítima supostamente teria uma dívida de R$ 200 mil com agiota por conta de apostas.

Vitória Damasceno Bitencourt, 23 anos, perdeu R$ 160 mil em jogos de azar, em 2023. Em relato divulgado na internet ela conta que começou apostando R$ 50 e teve um retorno de R$ 500. Depois de um tempo, passou a fazer empréstimos para continuar com as apostas.

Casos como estes tem se tornado cada vez mais comuns com a popularização do “jogo do tigrinho“, que consiste em uma plataforma com jogos de apostas e cassinos online – em sistema de jogo de azar.

A ferramenta funciona como uma máquina caça-níquel e para isso o usuário precisa adicionar um valor para participar.

A estrutura dos jogos é feita para beneficiar a casa ou o provedor, assegurando que a maioria dos jogadores perca dinheiro.

Além disso, o fator sorte em muitos jogos de azar impede que os jogadores controlem os resultados, o que pode resultar em sérios problemas financeiros e sociais, incluindo o vício.

O que é a ludopatia

A ludopatia é um transtorno reconhecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) que afeta pessoas incapazes de resistir ao impulso de jogar. Se tornando um comportamento prejudicial para uma pessoa ou família.

Mesmo em um cenário em que o indivíduo pague as dívidas de jogo, ainda é possível ter outros problemas relacionados à prática compulsiva.

“Essa é uma doença que sempre existiu. A partir da década de 80, ela foi incluída no DSM [Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais] que é a bíblia da psiquiatria”, explica a médica psiquiátrica Julia Trindade

Conforme Trindade, a ludopatia é mais associada a jogos de azar, mas a condição pode acometer pessoas que utilizam de jogos que não envolvem apostas.

“A gente considerava esses jogos de azar, bingo, cassino, mas agora já inclui também esses jogos de internet como transtorno para os jogos.”

“A característica principal, de não conseguir controlar o impulso, independe do jogo”, acrescenta Julia Trindade.

Quando o jogo está interferindo nos relacionamentos, no trabalho, na saúde mental ou física de um indivíduo ou em qualquer outra área da vida, é um comportamento problemático, alerta a psiquiatra.

Roleta de jogos de azar

Vício em jogo de azar é doença reconhecida pela OMS. – Foto: roleta-de-cassino

Sintomas da ludopatia

  • A pessoa não consegue parar e joga cada vez mais, perdendo ou ganhando;
  • Quando precisa diminuir o jogo começa a ficar inquieta, irritada, e não consegue controlar;
  • Se preocupa frequentemente com a questão do jogo, de poder jogar, acaba tendo um uso constante, abre mão de sair com a família, de fazer atividades, e às vezes até de trabalhar para ficar jogando
  • Mente e esconde para família que está jogando, pelo medo da avaliação negativa. Quando envolve dinheiro, tem problema financeiros graves, até não conseguir mais controlar.

Quanto a uma pré-disposição para o vício a médica afirma que há alguns fatores que os profissionais da saúde consideram de risco, como “o hábito de começar a jogar já na infância ou na adolescência”.

A genética também é importante. “Pais que têm uma relação mais fria com os filhos também têm maior risco de uso problemático. E até a questão ambiental, a convivência, a exposição”, continua Júlia.

Impacto na vida de quem sofre com o vício em jogos

“Há diversos impactos negativos. Primeiro que pode trazer tanto prejuízo para a pessoa quanto sofrimento”, comenta Trindade.

“A pessoa acaba perdendo grande quantidade de dinheiro, e isso atrapalha a vida pessoal. A pessoa também fica tão obcecada com o jogo, que só jogar e para de se relacionar”, continua a médica.

Outro problema está associado a mentira para poder ter dinheiro e continuar a apostar.

Julia Trindade também ressalta que a ludopatia pode contribuir para o desenvolvimento de transtornos mentais. “Ansiedade, depressão e risco de suicídio. E até a segurança, já que a pessoa acaba se colocando em situações de risco para poder jogar.

Tratamento

O psicólogo é um dos profissionais mais indicados para ajudar a tratar a ludopatia.

Através de sessões de terapia, é possível entender as causas do vício, trabalhar o autocontrole, e obter técnicas para deixar de jogar e não retomar a compulsão.

 

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