Dos alpes franceses a Lagoa: ‘Alemão’ é parte da história do parapente em Florianópolis

Quando a palavra parapente ainda não constava nos dicionários de língua portuguesa, um praticante de voo livre nascido em Canoas (RS) começou a inserir o esporte na rotina de muitas pessoas – e, de quebra, inaugurou uma carreira empresarial que já passa de três décadas.

Carlos Alberto Dal Molin Silva, conhecido como Alemão, ostenta números e façanhas dignas de um vitorioso. Já voou nos alpes franceses e no monte Fuji, no Japão, conheceu vários países carregando um parapente nas costas e ensinou cerca de 5 mil jovens e adultos a usar o aparelho, como aprendizes ou diletantes que apreciam ver o mundo de cima.

Parapente traz nova perspectiva das belezas naturais de Florianópolis

‘Alemão’ é parte da história do parapente em Florianópolis – Foto: Carlos Alberto Dal Molin Silva/Arquivo Pessoal/ND

Hoje, Carlos Alemão administra a Parapente Sul, uma bem-sucedida empresa e escola na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, que conta com quatro pilotos que treinam novos alunos e uma estrutura capaz de fabricar e consertar parapentes, além de vender unidades novas e usadas.

Nessa lida, conta com a parceria da mulher e sócia Márcia, que o acompanha nessa caminhada desde quando eram namorados, e dos dois filhos (Jade, 24 anos, e Luan, 20), também apaixonados pela arte de voar.

Parapente faz parte da vida da família do empresário apaixonado pela arte de voar

Parapente também é paixão dos dois filhos de Carlos ‘Alemão’ – Foto: Carlos Alberto Dal Molin Silva/Arquivo Pessoal/ND

A Parapente Sul é referência no Estado e usa as belezas e recursos da Grande Florianópolis para manter – enquanto a exploração imobiliária permitir – a aposta numa prática que, mesmo dando um frio na espinha, é o sonho de pelo menos cinco entre dez turistas que visitam a região.

O voo duplo, para os leigos que querem planar com segurança e ter uma experiência diferenciada, é uma das opções de aventura para quem chega à cidade. “É a adrenalina para a vida”, diz Alemão, resumindo a sensação de se lançar sobre as águas da Lagoa. “E aqui temos condições meteorológicas inacreditáveis”, complementa.

Pela rampa da Lagoa da Conceição, perfeita especialmente pelo visual espetacular que oferece, já passaram donos de títulos mundiais de parapente, aviadores renomados e até um piloto americano do avião de caça F21. “Franceses, australianos e americanos voaram com a gente”, informa Alemão.

Uma inspiração que veio da Espanha

A origem de tudo, para Alemão, foi como praticante de asa-delta no Rio Grande do Sul, em 1982, quando ainda não existiam parapentes no Brasil. Dois anos depois, já em Florianópolis, ele abriu seu negócio, realizando o sonho de praticar voos de asa-delta na Ilha, começando pela Praia Mole.

Formou-se em educação física pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e em 1989 fez uma viagem à Espanha, onde queria se aperfeiçoar na arte da capoeira, que também praticava. Lá, foi atraído por uma competição de voadores de parapente – o suficiente para virar a chave e investir nos potenciais desse esporte no Brasil.

Escola de parapente existe desde 1991 e a rampa da Lagoa foi o local escolhido para o início das atividades – Foto: Carlos Alberto Dal Molin Silva/Arquivo Pessoal/ND

A escola existe desde 1991 e a rampa da Lagoa foi o local escolhido para o início das atividades. Ao contrário de muitos outros lugares, ali não há tantas variações de vento e temperatura, o que facilita os voos.

A vocação turística da cidade ajudou a alavancar a empresa/escola, e os próprios clientes se esmeram em dizer que a Ilha é um dos lugares mais bonitos do mundo. Há outras escolas, mas a Parapente Sul é a única empresa oficialmente constituída que oferece toda a estrutura necessária para o ensino e a prática de voos de parapente na Capital.

Entre as vantagens do parapente em relação à asa-delta está o peso do equipamento. Uma mochila de 35 quilos, aproximadamente, que pode ser levada de moto, bicicleta e até a pé, resolve a situação de quem sobe até a rampa carregando um parapente.

A embalagem da asa-delta é três vezes mais pesada e muito mais comprida, requerendo um veículo potente e de maior envergadura para chegar ao destino.

Outra diferença é que uma asa-delta pede maior espaço para pousar – e espaço disponível é o que existe cada vez menos na Ilha. “É como fazer uma comparação entre a área necessária para a aterrissagem de um avião e de um helicóptero”, diz Alemão.

Esporte ameaçado pela expansão urbana

Um problema que ameaça as diferentes modalidades de voo livre em Florianópolis é a crescente escassez de locais de pouso. Carlos Alemão lembra de quando o Morro da Cruz, no Centro, tinha espaço para os praticantes de asa-delta se lançarem sobre a cidade – isso ficou para trás.

“A asa-delta vai acabar na Ilha”, prevê o empresário. E o parapente também corre o risco de se inviabilizar, por causa de um empreendimento em fase de estudos na Lagoa.

Parapente na Lagoa corre riscos

Parapente também corre o risco de se inviabilizar, por causa de um empreendimento em fase de estudos na Lagoa – Foto: Carlos Alberto Dal Molin Silva/Arquivo Pessoal/ND

Os praticantes – e também a Parapente Sul – têm optado por voar em Santo Amaro da Imperatriz, onde a prefeitura preservou os locais de pouso e decolagem e vê a prática como mais uma forma de atrair os adeptos dos esportes radicais.

Alemão considera um contrassenso desprezar um esporte que traz receitas para a cidade. Ele cita o Rio de Janeiro como outro exemplo de lugar que criou e manteve as melhores condições para o voo livre, em suas distintas modalidades.

Aqui, já houve tentativas de diálogo com autoridades, incluindo governadores e prefeitos, mas a iminência de acabarem os pontos de pouso (como vem acontecendo com a asa-delta) é real. “Este é um esporte muito lindo para ser negligenciado”, afirma o empresário.

Segundo revistas estrangeiras especializadas, quem voa de parapente gasta em média 8 mil euros para participar de uma competição e 16 mil euros com viagens para os locais onde elas acontecem. Há países em que os campeonatos ocorrem em diferentes épocas do ano, garantindo um bom movimento na economia local.

Sobre a empresa e a escola

– Carlos Alemão foi o precursor do parapente na Ilha, mas quase na mesma época começaram com ele um pioneiro em Balneário Camboriú e outro em Jaraguá do Sul. As duas cidades também são privilegiadas por rampas especiais, montanhas e belas paisagens;

– O empresário chegou a ter um quadro na NDTV RecordTV, em Florianópolis, e por algum tempo manteve uma coluna no jornal ND chamada “Nas asas do Alemão”;

– Márcia, a mulher de Alemão, voou enquanto esperava os dois filhos, até o sexto mês de gravidez. Hoje, ambos praticam e trabalham na empresa da família;

Márcia e a filha Jade – Foto: Carlos Alberto Dal Molin Silva/Arquivo Pessoal/ND

– As características da Parapente Sul e o fato de todos voarem na família de Alemão chamou a atenção do jornal londrino “Metro”, que publicou uma reportagem sobre o tema em 2009;

– O curso oferecido pela empresa custa R$ 6 mil, e um voo duplo sai por R$ 400. Um equipamento novo pode chegar a R$ 25 mil, e um usado varia de R$ 10 mil a R$ 12 mil. As aulas teóricas antecedem o treinamento prático, feito nas dunas da Lagoa da Conceição;

– Uma dica dada por Alemão para evitar sustos e acidentes com parapentes e asas-deltas é nunca se julgar infalível. “Todo esporte tem riscos”, adverte. “É preciso sempre conhecer a geografia e as condições meteorológicas do lugar onde se voa. É arriscado pensar que já se sabe tudo. Para ter longevidade, é bom agir como eternos aprendizes”.

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