Processo de tratamento de água de companhia em saneamento se assemelha a filtros de barro

Muita gente não sabe, mas o filtro de barro, aquele que lembra a infância na casa dos avós, é uma Invenção brasileira e, apesar de ter sido criado há mais de um século, ainda hoje é considerado um dos melhores sistemas para a filtração de água no mundo.

De acordo com o pesquisador estadunidense Colin Ingram, entre seus benefícios estão a filtragem de chumbo e de parasitas causadores de diarreia e infecções intestinais. Ele é autor do estudo publicado no livro “The Drinking Water Book”, que em tradução livre para o português significa “O Livro da Água Potável”.

Esse tipo de filtração também é similar aos modelos criados para a filtração do líquido nas ETAs (estações de tratamento de água). O filtro de areia é hoje o tipo mais comum utilizado nestas estruturas, apesar de existirem ainda filtros de carvão ativado, membranas, entre outros, para que o líquido bruto seja purificado e transformado em água potável.

Bruno Kossatz, engenheiro sanitarista e ambiental e chefe da Divisão de Políticas Operacionais de Água da Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento), explica que o filtro de barro purificação a água através de uma cerâmica porosa, onde a água passa pelo recipiente e, como os poros são muito pequenos, ele consegue reter bactérias, vírus, impurezas, sólidos, a sujeira da água.

“O filtro de areia que usamos nas estações de tratamento de água, no entanto, tem uma permeabilidade muito maior do que a da cerâmica do filtro de barro. Para isso a gente compensa na altura. Desta forma, nas estações de tratamento, é implantado um filtro entre 30 e 80 centímetros de camada de areia, ou até maior dependendo do filtro. Alguns chegam a medir um metro, um metro e meio. Assim, é possível garantir a remoção de partículas sólidas”, explica.

De acordo com o especialista, esses filtros de areia são capazes de reter mais de 99% das impurezas, da sujeira mesmo presente na água.

Kossatz esclarece que os filtros geralmente têm um fluxo descendente, no qual a água que sai de um decantador ou até a água bruta mesmo, entra no filtro por cima e desce pelo equipamento, que vai retirando as impurezas, assim como ocorre no solo, nas regiões onde há aquíferos, por exemplo.  “Geralmente a água é filtrada até chegar no patamar do aquífero, então fazemos isso de forma otimizada em uma unidade de tratamento. Criamos filtros, os enchemos de areia, que vai filtrando, retendo as partículas impurezas, principalmente sólidos, sedimentáveis, além de uma parte microbiológica também, bactérias e vírus”, acrescenta o engenheiro.

Ele ressalta que o filtro é utilizado em todas as estações de tratamento, o que muda são as suas características: alguns são mais espessos, outros utilizam areia, carvão ou ainda membranas de osmose ou de ultrafiltração, mas o processo em si, que é a remoção física por meio de barreiras, como a areia ou a cerâmica de barro, permite a remoção destas impurezas.

A escolha do filtro e do processo, nestes casos, ocorre em função da qualidade da água. “Quando a água tem muita interferência da chuva, por exemplo, e se tem uma água mais suja devido às matas ciliares terem sido prejudicadas, com muitas variações de qualidade, a gente usa um sistema completo de tratamento, que envolve o processo de coagulação, floculação, decantação/sedimentação e filtro. Já quando a água é mais limpa, de mais qualidade, conseguimos utilizar diretamente o filtro, não são necessárias as etapas anteriores de clarificação”, afirma o chefe da Divisão de Políticas Operacionais de Água da Casan.

Filtros contra turbidez em Rio do Sul

Para manter a regularidade e a qualidade da produção de água em Rio do Sul, município que amarga problema recorrente de alta turbidez do Rio Itajaí do Sul em dias de intensa pluviometria, a Casan instala quatro novas unidades de filtração na ETA do município. O investimento é de aproximadamente R$ 2 milhões.

Segundo a empresa, na região do Alto Vale, chuvas torrenciais prejudicam o fornecimento de água tratada para o sistema integrado que atende Rio do Sul, Laurentino, Lontras, Agronômica, Aurora e a localidade de Serra São Miguel, em Ibirama.

A obra é executada ao mesmo tempo em que a Casan trabalha com o projeto de construção de uma nova estação de tratamento de água de grande porte, em Rio do Sul. Com os filtros e com a nova ETA em operação, a cidade será beneficiada com uma maior constância no tratamento e abastecimento, além da melhoria na qualidade da água.

Confira como funciona a filtração em uma Estação de Tratamento de Água

Filtração em uma Estação de Tratamento de Água – Foto: Casan/Divulgação

Processo lento e mais eficaz

O filtro de barro surgiu no Brasil no final do século 19. Naquela época, empresas de cerâmica comandadas por imigrantes italianos e portugueses se espalharam no estado de São Paulo. Foi um dos primeiros bens de consumo criados pela indústria nacional. O uso da cerâmica também é uma tradição iniciada pelos indígenas há séculos.

Esses filtros funcionam de forma simples e devagar. A água adicionada no filtro também age de acordo com a ação da gravidade, desce devagar e passa pelos poros do filtro de cerâmica, que são bem pequenos e conseguem reter as impurezas, desde bactérias até compostos químicos como o cloro e pesticidas, que geralmente não conseguem ser removidos nos filtros comuns porque a água passa por eles muito rapidamente.

Depois a água fica armazenada no interior do filtro, pronta para ser consumida. Alguns filtros de barro contam ainda com uma camada de prata no seu interior para prevenir o nascimento de algas e outros microorganismos.

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