Como uma borboleta: a jornada de uma mãe solo adolescente em SC

O sorriso radiante e os sonhos da adolescência agora eram lançados em um vórtice de desafios e responsabilidades que moldariam sua vida para sempre. Caminhando com a amiga pelas ruas de Anitápolis, na Grande Florianópolis, em 1996, Vanessa encontrou uma sensitiva.

— Você está grávida — garantiu a médium com os olhos intrigantes.

— Nem pensar. Isso seria impossível — respondeu.

— Posso ver nas suas veias — rebateu.

Vanessa foi mãe solo adolescente.

Essa é a história da Vanessa; imagem dos dias atuais dela – Foto: Arquivo Pessoal/Cedido/ND

Alguns dias haviam se passado desde aquele momento em que, sem saber, ou não querendo acreditar, ela já não se encontrava mais sozinha. A menstruação já não vinha mais. Como uma forma de aliviar a agonia de ter um segredo que era só dela, decidiu compartilhar com uma amiga próxima, mas pedindo que a confidência fosse guardada a sete chaves.

Enquanto suas colegas seguiam aproveitando os momentos da juventude, a jovem de 16 anos, começava a enfrentar a sociedade ávida por julgamentos e o medo de contar aos pais que seria mãe solo.

Neste meio tempo, o pai da garota havia perdido uma importante eleição no município e decidiram se mudar. Com um segredo, que já se mexia há cinco meses, era hora de recomeçar. Nova cidade, nova escola e uma decisão importante para fazer: “Como contar?”.

Para Vanessa, “todos os dias eram o dia de contar, mas não tinha coragem”. Chorava quase que 24 horas por dia, mas quando achava que era o momento certo, a coragem fugia e não encontrava voz para revelar o que estava passando.

À medida que a barriga começava a crescer, buscou uma academia. Começou a camuflar a nova vida com roupas estratégicas para esconder a situação e, surpreendentemente, nem os colegas da escola desconfiavam.

Não foi chá de revelação, foi da verdade

Gradualmente, a mãe de Vanessa começava a desconfiar. Notou a ausência dos sintomas da TPM e a falta da compra de absorventes mensalmente. Só que, como a filha, também estava sem coragem de confrontar a verdade que, agora, já era visível aos cinco meses.

Ironicamente, foi em um domingo de Páscoa que um comentário da avó sobre a barriga da adolescente causou uma verdadeira ressurreição.

— Precisamos conversar com a Vanessa, porque sinto que ela está grávida — disse a mãe da jovem para o marido.

— Nunca. Você vai acabar ofendendo a nossa garotinha — respondeu incrédulo e sem acreditar nas palavras que acabava de ouvir.

Jogou um verde para colher maduro. A mãe disse para Vanessa que uma amiga havia contado. Ela tentou negar, disse que não queria o bebê e chorou em um misto de desespero e alívio. O pai da garota a abraçou em um silêncio que permaneceu por uma semana.

No dia seguinte, começaram os testes de gravidez. O de farmácia e de urina deram negativo.

— Então posso estar com um tumor enorme. Sinto até mexer — disse preocupada e, desta vez, torcendo para ser gravidez.

Mas foi no exame de sangue que a confirmação veio: estava esperando um bebê. Com o resultado oficial, o pai da garota quebrou o silêncio.

— A partir de agora essa criança é planejada. Ela terá tudo que posso dar e não se fala mais nisso. Você precisa seguir de cabeça erguida. Preferi ficar em silêncio antes, pois queria achar as palavras certas, pois uma vez que ditas, não voltam mais — explicou o patriarca da família.

Vanessa e seu “segredo”- Foto: Arquivo Pessoal/Cedido/ND

“Quando nasce uma filha, nasce uma mãe”

Vanessa começou o pré-natal com cinco meses de gestação. E por falar nisso, era uma menina! Tinha quatro meses para produzir o enxoval personalizado, com o tema dos Ursinhos Carinhosos, desenho que assistia até pouco tempo. A família ajudou em tudo, bordou e correu contra o relógio para deixar o quarto pronto para chegada da pequena.

“Achei que minha vida tinha acabado. Não só profissional, mas amorosa. Estava cheia de estrias, era jovem, teria que explicar toda vez e me readaptar. Mas quando nasce uma filha, nasce uma mãe. Quando nasceu, eu estava pronta”, relembra Vanessa.

A jovem terminou o ensino médio, passou no vestibular para Publicidade e Propaganda, fez faculdade e anos mais tarde conheceu o pai ideal para sua filha, que a adotou com quatro anos, assim que conheceu Vanessa. Cerca de seis anos depois, tiveram mais um filho e seguem casados até os dias atuais.

A jovem se formou em publicidade e propaganda - Arquivo Pessoal/Cedido/ND
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A jovem se formou em publicidade e propaganda – Arquivo Pessoal/Cedido/ND

Vanessa se casou com Emanuel - Arquivo Pessoal/Cedido/ND
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Vanessa se casou com Emanuel – Arquivo Pessoal/Cedido/ND

Da esquerda para a direita: Emanuel (marido da Vanessa), Guilherme (filho), Rafaella (filha), Eduardo (genro), Vanessa. - Arquivo Pessoal/Cedido/ND
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Da esquerda para a direita: Emanuel (marido da Vanessa), Guilherme (filho), Rafaella (filha), Eduardo (genro), Vanessa. – Arquivo Pessoal/Cedido/ND

Assim como o nome, Vanessa, quando a lagarta pensou que o mundo tinha acabado, virou borboleta.

Essa é a história do meu nascimento. No dia 04 de agosto de 1997, vinha ao mundo, eu, Rafaella, que carrego o significado do nome “Deus curou”, filha de Vanessa, que é como uma borboleta.

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