Como os ex-governadores de SC avaliam o governo de Jorginho Mello

Jorginho Mello (PL) chegou à metade do mandato como governador de Santa Catarina no início deste mês de janeiro. Para avaliar seu desempenho nesse período, consultei sete políticos catarinenses que passaram pelo desafio de governar o Estado.

Seis ex-governadores avaliam Jorginho Mello

Seis ex-governadores de Santa Catarina responderam à pergunta sobre os dois primeiros anos de mandato do governador Jorginho Mello  – Foto: Divulgação/ND

Apenas Jorge Bornhausen (PSD), governador entre 1979 e 1982, preferiu não responder ao pedido por um breve comentário sobre os dois primeiros anos do governo Jorginho Mello. Justificou a decisão pela presença do filho Paulo Bornhausen (PSD) no secretariado do governador no comando da pasta de Articulação Internacional e Projetos Estratégicos.

Assim, seis ex-governadores responderam ao pedido: Esperidião Amin (de 1983 a 1987 e de 1999 a 2002), Paulo Afonso Vieira (de 1995 a 1998), Eduardo Pinho Moreira (2006 e 2018) Leonel Pavan (2010), Raimundo Colombo (de 2011 a 2018) e Carlos Moisés (de 2019 a 2022).

Publico aqui a íntegra das respostas enviadas pelos ex-governadores, sem cortes.

Esperidião Amin avalia Jorginho Mello

Esperidião Amin diz que Jorginho como governador é “dedicado à missão que lhe foi atribuída” – Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado/Divulgação/ND

Com mandato no Senado até 2026, onde foi colega de Jorginho por quatro anos, Esperidião Amin (PP) foi um dos adversários do atual governador nas eleições de 2022. Elogiou a dedicação e a postura colaborativa do governador, mas preferiu ser breve na análise.

“Em apertada síntese, pode-se reconhecer que o governador Jorginho Mello tem sido muito dedicado à missão que lhe foi atribuída. Tem dado importância às necessidades do Estado e procurado a cooperação da nossa Bancada Federal no tocante a infraestrutura, Saúde, Educação e Defesa Civil. Estaremos colaborando para buscar tratamento justo por parte do Governo Federal.”

Paulo Afonso avalia Jorginho Mello

Paulo Afonso avalia Jorginho Mello

Paulo Afonso Vieira vê o governador cobrado mais pela posição ideológica do que pelas obras – Foto: Giovanni Kalabaide/Agência AL/Divulgação/ND

O ex-governador Paulo Afonso Vieira (MDB) avalia que a vinculação ideológica do governador Jorginho Mello com a direita e o eleitor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é fator fundamental de sua aprovação, mas aponta que esse também pode ser seu “calcanhar de Aquiles”.

“Penso que a avaliação do governo do governador Jorginho Mello não pode ser feita utilizando-se os parâmetros tradicionais com que avaliamos prefeitos e governadores, isto é, dados estatísticos referentes às realizações de governo: número de escolas e salas de aula, unidades de saúde e leitos hospitalares, quilômetros de estradas, alcance dos programas sociais, etc. Para o eleitorado que deu a vitória ao governador e que o apoia com entusiasmo, esses dados são praticamente irrelevantes. Para esses eleitores, que ao que parece, se constituem na maioria do eleitorado catarinense, o importante é manter fidelidade e agir conforme os preceitos defendidos pela direita e extrema direita. E isto o governador Jorginho Mello o faz com maestria, político competente que é. Nesta realidade, a nau do governador navega em mares tranquilos rumo a 2026, tenha ou não melhorado a educação ou pavimentado estradas.”

“Vejo uma única possibilidade que poderia levar esta postura ao insucesso, um calcanhar de Aquiles que faria naufragar a nave governamental: o aparecimento de um postulante com viés mais popular e que seja claramente identificado com os mesmo princípios conservadores e direitistas que são tão caros aos apoiadores do governador. Esta seria uma disputa impossível de prever o resultado.”

Eduardo Pinho Moreira avalia Jorginho Mello

Eduardo Pinho Moreira avalia Jorginho Mello

Eduardo Pinho Moreira exalta herança recebida pelo governador – Foto: Reprodução/NDTV

O ex-governador Eduardo Pinho Moreira (MDB) elogia a disposição do governador e mostra atenção ao programa Universidade Gratuita, mas aponta as heranças recebidas pela atual gestão e cobra conquistas perenas ao Estado.

“Como político experimentado e sem preguiça, Jorginho sabe que a figura do governador em eventos é sempre um fato, então ele usa bem e em vários aspectos, a estrutura do governo para mobilidade e visibilidade pessoal”

“Os índices sociais e econômicos frequentemente citados pelo governador Jorginho são heranças de governos anteriores e, em igual medida, características de nossa gente catarinense: ordeira, empreendedora, responsável e corajosa. Tanto é verdade que a partir de 2010 o Estado começou a se consolidar no topo do ranking de PIB per capita, devido ao crescimento de indústrias, infraestrutura (portos) e exportações. Ou seja, o desempenho atual é resultado de melhorias contínuas nas últimas duas décadas. Da mesma forma e em consequência, Santa Catarina há tempos, têm o menor desemprego do país, a menor inflação, o maior crescimento do PIB, a maior expectativa de vida, o Estado mais seguro, etc… Ah, Operação Verão também. Por isso, com relação ao governo não vejo ainda nada a comemorar. Por não haver oposição na Alesc, onde reverbera a política e por alta exposição na mídia, os fatos negativos são escamoteados.”

“Por enquanto não há algo que perenize, como a MP 130 de 2006 (transformada em lei em 2007) que criou o Pró- Emprego e possibilitou a expansão dos portos em SC e a criação dos portos de Navegantes e Itapoá, com reflexos positivos na receita estadual até hoje. Aguardemos, pois, os resultados do programa Universidade Gratuita e ainda há tempo de algo mais consistente e não só anúncios.”

Leonel Pavan avalia Jorginho Mello

Leonel Pavan avalia Jorginho Mello

Leonel Pavan voltou à política como prefeito de Camboriú. Foto: PSD/Divulgação/ND

De volta aos mandatos eletivos como prefeito de Camboriú, o ex-governador Leonel Pavan (PSD) avaliou os dois anos de Jorginho Mello nas duas condições – com recados claros de alguém que hoje está à oposição.

“Tendo a experiência de quem passou pela Casa d’Agronômica, entendo que o atual gestor estadual encontrou em 2023 um governo organizado, depois das reformas feitas por Carlos Moisés. Felizmente, surfou na popularidade de Jair Bolsonaro. É preciso mostrar mais resultado. A popularidade precisa se sustentar junto à população com entregas concretas. O governador tem promessas a cumprir e desafios a vencer.”

“Um exemplo é na relação com a Assembleia. Importante apoiar o deputado Júlio Garcia que é um forte líder do PSD para a presidência – para não se distanciar mais ainda precisa unir forças.”

“Enquanto prefeito de Camboriú, minha avaliação é de que Jorginho Mello precisa governar para todos os prefeitos, independente de partidos. A eleição de 2024 mostrou que os catarinenses estão preocupados com as pautas locais e regionais, os nossos problemas. O governador precisa estender a mão e promover o diálogo, deixar enfrentamentos e debates ideológicos para 2026. Se construir pontes terá sucesso em seus projetos – e desenvolverá o Estado. Se derrubar pontes ou erguer muros criará dificuldades desnecessárias que o isolarão. E politico isolado do povo – e da realidade -, paga o preço na urna.”

Raimundo Colombo avalia Jorginho Mello

Raimundo Colombo avalia Jorginho Mello

Raimundo Colombo vê “governo sem inspiração” – Foto: Filipe Scotti/Divulgação/ND

A avaliação do ex-governador Raimundo Colombo (PSD) sobre os dois anos de mandato de Jorginho Mello é crítica. Ele vê uma gestão “sem inspiração” e presa à “rotina”. Colombo e Jorginho estão afastados politicamente desde 2018, quando disputaram a vaga ao Senado – o atual governador foi eleito. Em 2022, o PSD de Colombo apoio Gean Loureiro (União Brasil) ao governo.

“Na minha visão, é um governo sem inspiração, sem liderança. Isso é muito ruim porque a tendência é a rotina tomar conta do governo e afastando os serviços públicos, a busca da sua eficiência, do seu aperfeiçoamento, da vida das pessoas. Essa rotina é muito perigosa e o governo entrou nessa rotina.”

“E a verdade é que a pergunta que cabe é o seguinte: quem serve a quem? Afinal de contas, a sociedade está trabalhando, ela está produzindo, o nosso Estado é um Estado extraordinário, é o melhor Estado do Brasil, tem o maior potencial do Brasil e é um governo de rotina que vai deixando as coisas se acomodarem e não tem liderança, não chama para si as grandes decisões. E no estratégico, não tem nenhuma ação de relevo, nenhuma ação importante. Eu acho que esse é o momento de tomar rumo ou realmente vai ser um governo medíocre.”

Carlos Moisés avalia Jorginho Mello

Carlos Moisés avalia Jorginho Mello

Carlos Moisés mantém postura de adversário do atual governador – Foto: NDTV/Reprodução

Adversário direto do atual governador em 2022, quando tentou a reeleição, Carlos Moisés (Republicanos) faz as críticas mais duras ao atual governo.

“Só piora! O atual governo não inovou e paralisou, por dois anos, obras importantes para Santa Catarina, perdendo a grande oportunidade de dar seguimento aos vários projetos e obras que iniciamos, tanto obras próprias como em parceria com os municípios. Agora, com os cofres cheios de dinheiro, fruto do nosso legado de boa gestão, vai correr para se fazer presente na vida dos catarinenses, olhando apenas para as próximas eleições. Muitos diretores e servidores de escolas e hospitais me relatam a incapacidade técnica do governo em realizar entregas, e a segurança pública segue valorizada apenas na propaganda. Escolhas e consequências.”

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