Morte iminente: SC registra 3 casos de raiva em animais e especialistas falam sobre prevenção

O registro de um caso de raiva em um gato em Santa Catarina, em fevereiro deste ano, desperta alerta para cuidados de prevenção. A doença, que pode atingir animais e seres humanos, provoca a morte em até sete dias, já que não existe cura após a infecção.

Caso de raiva em morcego de SC foi confirmado na última semana – Foto: Pixabay/Divulgação/ND

Apenas em 2023, o Estado confirmou três casos no total. Além do gato doméstico em Orleans, no Sul do Estado, dois morcegos foram identificados com a doença, em Jaraguá do Sul e Chapecó. O último registro foi confirmado na última quinta-feira (6) e divulgado nesta segunda (10).

O último caso de morte por raiva em humanos no Estado foi em 2019. Na época, uma mulher de 58 anos contraiu a doença após ser mordida por um gato. Ela era moradora da área rural de Gravatal, no Sul do Estado. As informações foram confirmadas pela SES (Secretaria do Estado da Saúde).

O último caso de raiva registrado em um cão foi em 2016, em Jaborá, no Oeste catarinense. Já em 2006, um gato e um cachorro foram confirmados em Xanxerê, também no Oeste. No mesmo ano, Itajaí teve um caso em um cachorro. Apesar de o aparecimento da doença ser raro, os animais devem ser vacinados anualmente contra a raiva.

Casos próximos a humanos

O médico-veterinário com residência pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), Jaime Dias, explica que a chance de um animal doméstico desenvolver a doença e agredir outros é muito alta.

“O comportamento se torna agressivo e a forma de defesa desses animais é a mordida. Uma grande quantidade de vírus sai pela saliva e quando o dente perfura a pele, é como uma injeção de vírus para o organismo. Depois da mordida, se torna um paciente infectado”, diz.

Pela proximidade com o ser humano, identificar a raiva em um animal doméstico antes que ele infecte outros animais e seres humanos é de alta importância.

“O animal se torna mais responsivo, por mais que seja um animal manso, no momento em que você se aproxima, ele vai te morder e te infectar. Quanto mais próximo chega ao ser humano, indo para animais domesticos, maior é o risco de transmissão”, alerta.

O infectologista e professor do curso de Medicina da Univille, Tarcisio Crocomo, também pede atenção aos cuidados para evitar os morcegos, “mas que não devemos nem podemos acabar com morcegos, mas comunicar a vigilância epidemiológica para fazer a profilaxia”.

Cuidados e prevenção

Como a raiva é altamente letal, o veretinário reforça a necessidade de evitar contato com morcegos e, principalmente, vacinar animais domésticos.

Ele reforça que não se deve mexer em morcegos no chão, mesmo que aparentem estar mortos, já que a maioria dos acidentes acontecem desta forma.

“Qualquer remoção deverá ser feita com proteção. Uma vez o morcego identificado, a forma de coleta tem que ser a distância, com uma pá e uma vassoura para removê-lo. Em seguida, colocar dentro de uma caixa e tentar fechá-lo”, destacou. O animal deve ser enviado ao controle de zoonoses, que poderá identificar se houve contaminação por raiva.

A vacina antirrábica é oferecida para cães e gatos pela rede pública, além de ser também ofertada na rede particular. “É altamente eficaz e importante para a prevenção”, afirma o veterinário.

Caso seja mordido por um animal, o paciente deve imediatamente lavar o local com água corrente e sabão. Em seguida, deve-se procurar serviço de saúde rapidamente. “É a oportunidade de eliminar o vírus se houve o contato superficial”, afirma Dias.

Por que houve o aumento de zoonoses?

As zoonoses são doenças, ou infecções, transmitidas por animais vertebrados ao homem, e vice-versa. Os patógenos podem ser bactérias, vírus, ou parasitas.

Essas doenças são transmitidas por contato direto entre humanos e animais, por meio dos alimentos, ou por um vetor, como insetos, aranhas, ou ácaros. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde Animal), 60% das doenças infecciosas humanas são zoonóticas.

Além da raiva, outras zoonoses como a leptospirose e a Mpox também preocupam, explica o infectologista Tarcisio Crocomo. A primeira é uma infecção bacteriana que pode causar sintomas como febre alta e meningite.

“A Mpox é um vúrus da familia da varíola, transmitida em contato de pele com pele, que apresenta lesões em graus variados de manifestação, e também pode ser transmitido sexualmente”, diz o infectologista. Em relação à gravidade da evolução da doença, varia de acordo com a imunidade de cada paciente.

Mesmo que as as zoonoses tenham surgido há milhares de anos, elas multiplicaram apenas nas últimas duas, ou três, décadas. Uma explicação é a maior facilidade de viagem permite que se propaguem mais rapidamente.

Ao expandir sua presença, o ser humano contribui para perturbar o ecossistema e promover a transmissão de vírus variados. “A população invade os ambientes de vírus ou de doenças de seres que sobrevivem nesse ambiente, então é natural que a ocupação de maneira desordenada traga o risco dessas doenças aparecerem”, aponta Crocomo.

A intensificação da pecuária industrial, o comércio de animais silvestres e o desmatamento também aumentam o risco de contato entre os vírus e os seres humanos.

Devemos temer outra pandemia?

A mudança climática pode levar muitos animais a fugirem de seus ecossistemas para terras mais habitáveis, segundo um estudo publicado em 2022 na revista Nature. Por se misturarem mais, as espécies vão transmitir mais seus vírus, o que vai pode favorecer o surgimento de novas doenças potencialmente transmissíveis à população.

As pandemias “surgirão com mais frequência, vão se propagar mais rapidamente, matarão mais pessoas”, alertou o Painel de Especialistas em Biodiversidade da ONU, em outubro de 2020.

Segundo estimativas publicadas na revista Science em 2018, há 1,7 milhão de vírus desconhecidos em aves e mamíferos, e entre 540 mil e 850 mil deles “teriam a capacidade de infectar humanos”.

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