“Olho gordo?”

Caro (a) leitor (a)

Redes sociais são uma coisa muito louca, né? Você já reparou como, hoje em dia, todo mundo posta conquistas, viagens, relacionamentos perfeitos e momentos felizes? Mas será que essa exposição toda tem um preço?

Lembro de uma amiga que viajou de férias, postou uma foto linda na praia e, minutos depois, foi picada por um bicho. Eu mesma já passei por isso: compartilhei um momento especial de uma viagem – porque, confesso, não sou das mais adeptas a relatar meus passos – e, no dia seguinte, acordei com a pior gripe da minha vida.

superstição e o olho gordo

A superstição e o olho gordo caminham lado a lado, como primos próximos dentro do universo das crenças populares. – Foto: Getty Images/ND

Desde pequena, convivo com superstições. Meu pai, por exemplo, se recusa a escrever com caneta preta ou vermelha. Você pode até tentar enganá-lo – na adolescência, eu me divertia com isso –, mas ele sempre faz um pequeno teste antes de escrever. Superstição!

A superstição e o olho gordo caminham lado a lado, como primos próximos dentro do universo das crenças populares. Ambos nascem do mesmo princípio: a ideia de que forças invisíveis podem interferir na nossa vida, para o bem ou para o mal.

A verdade é que a exposição excessiva pode, sim, atrair olhares de admiração e de julgamento. Vivemos tempos em que compartilhar virou quase uma obrigação – o prato do almoço, a viagem, a promoção no trabalho –, mas nem sempre o público do outro lado da tela torce por nós.

A música Reza, de Maria Rita, ilustra bem esse sentimento de proteção contra o que não podemos ver:

“Sai, sai, sai

Deixa eu viver em paz

Eu vou te benzê, te afastar de mim

Eu mando reza forte pra te ver cair.”

Essa letra tem uma força incrível. É quase um mantra para afastar más energias. É como se dissesse: não adianta torcer contra, porque eu sigo em frente.

E isso nos leva a outra reflexão: até que ponto as crenças nos protegem ou apenas nos confortam? Pense na superstição como um escudo e no olho gordo como uma flecha. O olho gordo representa a inveja ou a energia negativa que alguém pode direcionar para você, consciente ou inconscientemente. Já a superstição é o mecanismo de defesa – o amuleto no pulso, a arruda atrás da orelha, o pé direito ao entrar em um novo lugar.

Assim como evitamos passar debaixo de escadas ou batemos na madeira três vezes para afastar o azar, muitos preferem não contar seus planos antes de se concretizarem. No fundo, tanto a superstição quanto a crença no olho gordo são tentativas de controlar o incontrolável – de dar um pouco mais de segurança para aquilo que não podemos prever.

E há ainda um outro fator: quanto mais expomos nossas vitórias, mais suscetíveis ficamos às expectativas externas. Será que estamos postando por nós mesmos ou pelo desejo de validação? A linha entre compartilhar e se expor demais é tênue. No mundo das redes sociais, onde tudo é exibido em tempo real, talvez o novo “pé de coelho” seja o botão de privacidade e a nova reza seja a discrição. Afinal, nunca sabemos quem está assistindo – e com quais intenções.

Mas uma coisa é certa: no fim das contas, quem caminha com verdade e leveza não se abala com quem torce contra. Então, sai pra lá, olho gordo!

 

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