Diversidade diminui em desfiles de moda, mas marca de catarinense se destaca por inclusão

A moda reflete tendências comportamentais, econômicas e políticas —  além de influenciar milhões de jovens — por isso é tão preocupante constatar a queda de diversidade de corpos nas principais semanas de moda do mundo.

Designer catarinense Karoline Vitto destaca corpos com tamannhos a partir do 42 em suas produções – Foto: @karolinevitto/Reprodução/ND

Segundo um relatório da Vogue Business, os looks plus-size representaram apenas 0,6% de todos os 9.137 looks desfilados nos 219 shows em Nova York, Londres, Milão e Paris na temporada de AW23.

Nas passarelas, a recession core, ou estética da recessão, foi a tendência da vez, como foi apelidada pelos “caçadores de tendências” nas redes sociais. Ou seja, ficou de lado o maximalismo, com cores fortes e acessórios grandes, e entrou o minimalismo, com tons neutros e roupas discretas.

O que também ficou de fora das passarelas foram os corpos gordos. Não se sabe se há uma relação entre o uso da recession core e a diminuição da diversidade, mas há perigos quando a magreza extrema passa a imperar.

Catarinense se destaca por diversidade

Quem inverteu a lógica de destacar as modelos de tamanho 36 foi a catarinense Karoline Vitto, cuja grife desfilou apenas com modelos mid e plus-size.

A designer, natural de Caçador, no Oeste catarinense, conta que sua marca sempre foi inclusiva.

“Nunca considerei fazer de outra forma. A marca já nasceu com o corpo muito presente no processo de design e nunca trabalhamos com tamanhos pequenos, como 36 e 38”, conta.

 

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Em 2010, ela se formou em moda pela Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), em Florianópolis, e se mudou para Londres em 2016, onde cursou mestrado em moda no Royal College of Art, para entender como o corpo influencia no processo criativo. Depois, a marca surgiu naturalmente.

“Nós somos uma marca pequena. Sempre pensamos em dar oportunidade para essas mulheres se verem, já que não tinham se visto com muito frequência até então”, diz Karoline.

“Se a gente tem 12 looks, eu prefiro colocar 12 tamanhos que não estamos acostumadas a ver. O objetivo sempre foi trazaer mais representividade para esse espaço”, completa.

Os perigos da distorção de imagem

A psicóloga, Vanessa Cardoso, afirma que um dos pilares para a autoestima é ter uma relação positiva com a própria imagem, que também se desenvolve a partir do olhar e do significado que outra pessoa atribiu.

“Nesse sentido, não se reconhecer nas passarelas me desapropria de olhar para a minha singularidade. Ou seja, se tem na passarela um modelo pronto, um adolescente que está em transição do prórpio corpo, para ele se sentir pertencendo, vai tentar se encaixar em modelos que estão ali”, explica.

Com isso, a necessidade de se encaixar nesses padrões pode gerar uma distorção da imagem, que leva a doenças, como transtornos alimentares, as quais são a anorexia e a bulimia. “São graves, transtornos psiquiátricos que levam à depressão, à ansiedade e que são tratamentos dificílimos”.

Caso a pessoa tenha uma autoestima fragilizada e seja exposta constantemente a padrões de beleza “inalcançáveis” acaba adoecendo.

“No Brasil, temos uma multiplicidade de corpos, de características que trazem o contorno da beleza. Então é importante a gente trazer ideias a respeito do belo, da sensibilidade, da particularidade, da harmonia dos corpos, das peles, das cores, em um padrão que se torne saudável”, completa.

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