Considerada ilegal pela Justiça, greve dos servidores de Florianópolis teve baixa adesão

Considerada ilegal pela Justiça, após decisão do desembargador Sérgio Roberto Baasch Luz, a greve dos servidores públicos de Florianópolis afetou postos de saúde, policlínicas, escolas e creches, mas teve baixa adesão, nesta quarta-feira (31), no primeiro dia de paralisação.

Escola na Costeira terá Festa Junina no sábado (3) e funciona normal até sexta-feira (2) – Foto: Leo Munhoz/ND

Das 39 escolas municipais, 36 funcionaram com atendimento parcial ou total e apenas três não atenderam. No caso das 85 creches, 81 ficaram em atendimento total ou parcial e quatro sem atendimento.

Na saúde, 15,93% dos profissionais efetivos aderiram à greve e o serviço foi afetado em 37 postos de saúde, dois CAPS (Centro de Atenção Psicossocial e três policlínicas. Nas três UPAs o atendimento não foi afetado.

Auxiliar de creche numa unidade particular, a moradora da Trindade Maria Eduarda Lopes de Abreu, 19 anos, foi ao posto de saúde do bairro e constatou que o atendimento demorou um pouco mais que o normal e estava desorganizado.

Demorou, mas Maria foi atendida no posto de saúde da Trindade – Foto: Leo Munhoz/ND

“Tinha menos gente e tive que pular de sala em sala. Normalmente, uma pessoa só atende e encaminha para a farmácia. Senti o serviço prejudicado”, relatou Maria.

“É uma situação muito ruim, porque é a nossa saúde que está em jogo, mas não tem o que fazer”, lamentou Maria, que buscou a unidade de saúde por causa de uma infecção.

A aposentada Rita Gonçalves Nunes, 54, também procurou o posto da Trindade porque tinha horário na dentista. Por causa da greve, ela pediu para o marido checar se o posto estava aberto e também mandou mensagem para saber se seria ou não atendida.

Rita saiu feliz pela manutenção do seu atendimento – Foto: Leo Munhoz/ND

Como o posto tem poucos profissionais em greve e foi atendida, Rita saiu com um sorriso no rosto: “Para mim, tudo certo. Na semana anterior também atenderam. Um atendimento muito bom da dentista. A doutora é ótima. Não tenho reclamações”, frisou.

Preocupação com os pequenos

Diretora de educação fundamental da secretaria de Educação de Florianópolis, Karla Christine Hermans disse que a secretaria ainda está avaliando a adesão à greve e que a preocupação principal é o atendimento aos estudantes.

“Passamos por um período de ensino remoto, depois híbrido, a pandemia deixou uma lacuna e precisamos trabalhar na recomposição da aprendizagem. Acabamos de fazer a avaliação diagnóstica dos estudantes e finalizamos o primeiro trimestre de ensino na semana passada”, ponderou Karla.

Na visão dela, as crianças menores são as mais prejudicadas. “Temos um desafio na rede, que é a alfabetização dos estudantes, tanto na idade certa quanto a alfabetização tardia. Temos uma série de projetos nas 39 unidades, contratamos mais de 250 professores para trabalhar no apoio pedagógico e nos projetos que as unidades elaboraram. Agora, esses projetos precisam andar”, ressaltou Karla.

Conforme a secretaria, o anúncio do prefeito na terça-feira, quando os trabalhadores iniciaram a greve, de antecipar férias, será levado adiante somente “se for mantida greve ilegal por servidores em algumas unidades”.

Diretora da EBM (Escola Básica Municipal) Adotiva Liberato Valentim, Daiana Alflen, disse que a unidade, que fica na Costeira e tem cerca de 550 alunos, atenderá de forma integral pelo menos até sexta-feira. Isso porque, há um mês a escola vem preparando uma festa junina, que ocorre na tarde de sábado.

Daiana Alflen e Karla Hermans, da educação de Florianópolis – Foto: Leo Munhoz/ND

Segundo ela, dos 64 profissionais, 18 vão aderir à greve na unidade. A principal preocupação da diretora é com a comunidade escolar.

“O desemprego e a fome estão aí. Muitos usam a escola para ter comida. Isso está me atormentando. Vejo a vulnerabilidade social aqui na Costeira e a escola não pode fechar os olhos nem fechar a porta para essas crianças”, afirmou Daiana.

Prefeito de Florianópolis, Topázio Neto (PSD) disse que um dos principais motivos que levaram os trabalhadores à greve foi o anúncio da prefeitura de trazer organizações sociais para uma gestão híbrida das UPAs.

“Vamos garantir a todos os nossos servidores que trabalham nas UPAs continuar trabalhando e traremos uma OS para administrar prédio, limpeza, segurança e para complementar os serviços de saúde quando for preciso”, explicou o prefeito.

“O discurso do sindicato de que estou querendo terceirizar a saúde é falacioso e político. A maioria dos nossos servidores tiveram consciência e não paralisaram”, celebrou o prefeito.

Topázio Neto, o prefeito da Capital – Foto: Leo Munhoz/ND

Na Justiça, além da ilegalidade da greve, o desembargador Baasch determinou o restabelecimento dos serviços afetados, que o sindicato não tumultue a regularidade dos serviços públicos e não constranja outros trabalhadores a aderir ao movimento.

Também determinou que os grevistas respeitem a distância de 200 metros dos imóveis públicos, o desconto salarial aos servidores públicos que pararam e multa diária de R$ 100 mil, caso as determinações não sejam cumpridas.

A fim de garantir a prestação dos serviços à população, o MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) também monitora a greve. A 30ª promotoria de Justiça da Capital instaurou uma notícia de fato e requisitou informações ao prefeito, à Procuradoria-Geral do Município e às secretarias municipais de Saúde e de Educação.

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