Mulheres e o uso de drogas: psiquiatra explica os impactos da dependência química na vida

A dependência química é um problema que afeta milhares de pessoas no país. Segundo a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), 4,9 milhões de brasileiros usaram algum tipo de substância ilícita em 2019. Desses, 1,5% correspondem a mulheres dependentes químicas.

A recepcionista Bianca, de 22 anos, faz parte desse percentual. Segundo reportagem do R7, a mulher abandonou a família para usar crack na região conhecida como Cracolândia, em São Paulo. Bianca chegou a gastar todo o salário do mês em cinco dias, cerca de R$ 1,8 mil, e está longe da filha, que não sabe da sua situação atual.

A dependência química é um problema que afeta milhares de pessoas no país. – Foto: Freepik/Divulgação/ND

Com passagem pela polícia por furto, formação de quadrilha e tráfico de drogas, Bianca conta que já teve delitos arquivados, mas que o último sua mãe pagou a fiança para que fosse liberada. “Ela já veio me buscar, eu recaí e vim de novo. A força da droga é maior“, comenta.

A jovem trabalha na empresa de seu pai e, recentemente, gastou todo o seu salário na Cracolândia, dividindo o valor entre hospedagem em uma pousada e a nova droga K9, que é mais conhecida como “crack do futuro” e aterroriza os moradores da região.

“Eu não tenho vergonha de falar. Tenho que ser a pessoa que sou, não preciso esconder nada de ninguém”, declarou.

Ela entrou para o mundo das drogas aos 16 anos, por influência de seu ex-marido, que também era usuário. Questionada sobre o efeito da substância em seu corpo, ela responde: “É uma brisa muito forte, alucinação louca”.

Impactos na vida

Segundo o médico psiquiatra Vagner Kuklik, os impactos da dependência química podem ser divididos em físico, psicológico e social.

“A parte física seria um aumento de frequência cardíaca,  pressão arterial e problemas cardiovasculares, como infarto e morte. Além de uma desnutrição e fraqueza, que pode dar pela inibição de apetite de algumas drogas como crack”, explica.

Dentro do campo social, as drogas costumam acabar com os laços afetivos e familiares. Para o psiquiatra, com o uso progressivo da substância, a pessoa pode perder o senso crítico e virar refém da marginalidade.

“Às vezes pode chegar a viver em condição de rua. Essa população sofre uma exclusão social e também e fica, consequentemente, mais variável e mais vulnerável. Então pode ficar mais suscetível a acidentes e abusos.  No caso de mulheres, abusos sexuais, gravidez indesejada e infecção sexualmente transmissível.”

De acordo com o especialista, houve um aumento significativo de mulheres dependentes químicas nos últimos anos. “Aumentou muito esse consumo entre as mulheres.  Tanto que tenho percebido que algumas campanhas contra as drogas e álcool estão sendo dirigidas ao público feminino”.

Tratamentos

A vontade do tratamento precisa partir do dependente químico. Entretanto, não são todos que conseguem pedir ajuda ou enxergar que necessitam de apoio.

“É claro que a família sempre quer, mas o dependente também tem que ter essa autocrítica para poder começar com o tratamento”, explica o doutor.

Além disso, o tratamento deve ser multiprofissional, ou seja, abordar diversas áreas da saúde para obter sucesso. A mudança de hábito também faz parte do processo: “mudar os hábitos que tinha, as pessoas com quem usava e os lugares onde usava”.

A recepcionista Bianca já esteve em clínicas de reabilitação, mas não demonstra o desejo de retornar ao tratamento. A moça também nega ser viciada e se diz no controle da situação. “A única coisa que eu não faço é beber, odeio”.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.