Quem foi padre Rohr, referência intelectual para a arqueologia de SC e do Brasil

Florianópolis é berço de muitas personalidades renomadas. Padre João Alfredo Rohr foi uma delas. “Pai da Arqueologia Catarinense”, como é conhecido, foi professor e arqueólogo e deixou um grande legado para a arqueologia catarinense. Responsável por desenvolver uma metodologia inovadora, ele também deixou admiradores dentro e fora do Brasil.

Padre João Alfredo Rohr é referência intelectual para arqueologia brasileira

O acervo de Padre Rohr também foi utilizado em muitas dissertações de mestrado, teses de doutorado e trabalhos de conclusão de curso – Foto: Divulgação/ND

A arqueóloga Luciane Zanenga Scherer, do MArquE/UFSC (Museu de Arqueologia e Etnologia Oswaldo Rodrigues Cabral da Universidade Federal de Santa Catarina), é uma delas e descreve o arqueólogo como uma grande referência profissional.

“Ele foi um defensor do patrimônio arqueológico. Defendia a preservação dos sítios, denunciava as destruições e muitas vezes fazia inimigos por conta disso”, afirma.

A frente do seu tempo

Luciane conta que outra arqueóloga do MarquE/UFSC, Teresa Fossari, o conheceu e descrevia o legado intelectual de padre Rohr como imensurável.

“Como Teresa falava, ele era muito a frente do tempo dele. Eu conheci muito mais a fundo o trabalho dele quando consegui uma bolsa de apoio técnico do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) com o padre Schmitz, também arqueólogo, que conheceu bem o padre Rohr e trabalhou com ele”, conta.

Durante a bolsa do CNPQ, Luciane trabalhava com a análise dos remanescentes ossos humanos e foi nesse momento que conheceu mais a fundo e se apaixonou por tudo que viu no Museu do Homem do Sambaqui. “Tenho um imenso carinho pelo museu e por tudo que ele representa na figura do padre Rohr”, revela.

Esqueleto de tradições Taquara e Itararé – Foto: Divulgação/Museu do Homem do Sambaqui/ND

Quando começou a mexer no material de pesquisa, grande parte dele ainda possuía sedimentos de campo. Luciane foi responsável por fazer a curadoria de boa parte da coleção de remanescentes ossos humanos do museu, que fica dentro do Colégio Catarinense.

Organização, inovação e cuidado

Nessa oportunidade de trabalho e estudo, a arqueóloga pôde ler os diários de campo do padre. Os documentos ainda estavam nas caixas junto aos esqueletos dos quais seriam realizadas as curadorias.

“As etiquetas e informações que ele colocava, o cuidado em contextualizar, as fotos dos sítios arqueológicos que ele tirava, tudo isso me chamou muito a atenção e fez com que eu me apaixonasse pelo trabalho dele e por tudo que ele ainda representa para a arqueologia catarinense”, ressalta a pesquisadora.

Padre João Alfredo Rohr desenvolveu a técnica de cimentação. Em um de seus documentos, datado de 1970, o arqueólogo relata a utilização do método: “Escavando o sítio arqueológico da Praia da Tapera, nos anos de 1962 a 1966, insistimos uma vez mais em trazer ao museu alguns esqueletos, junto com blocos testemunha. Para tanto, recorremos ao expediente de cimentar os sepultamentos. Este método, aperfeiçoado cada vez mais pela prática, finalmente, deu resultados de todo satisfatórios”. (ROHR, 1970, p.5).

Contribuição para o patrimônio cultural

Além disso, Rohr foi protagonista da descoberta e do cadastramento de diversos sítios arqueológicos em Florianópolis e Santa Catarina.

Vasilhames cerâmicos encontrados por padre Rohr – Foto: Divulgação/Museu do Homem do Sambaqui/ND

As arqueólogas Maria José Reis e Teresa Domitila Fossari descrevem no artigo ‘Arqueologia e preservação do patrimônio cultural: a contribuição do Pe. João Alfredo Rohr’:

“[…] a obra, constituída pelo levantamento sistemático de sítios arqueológicos em Santa Catarina, o mais extensivo ocorrido na arqueologia catarinense, totalizando cerca de 400 sítios registrados e devidamente cadastrados, e, pela análise de parte destes sítios, está em sintonia e se aproxima de uma arqueologia contemporânea no sentido de sua vinculação ao compromisso de realizar um verdadeiro trabalho de reconstrução da memória nacional”.

Luciane Zanenga Scherer considera único e de extrema importância o trabalho do padre, arqueólogo e professor.

“Muita coisa conhecemos hoje por causa dele, o trabalho dele é único. Todos os sítios que ele escavou, encontrou muitas coisas inéditas. As pesquisas atuais continuam utilizando o acervo dele, ou seja, ele continua contribuindo na atualidade”, reflete a arqueóloga, com imensa gratidão aos trabalhados desenvolvidos por padre Rohr.

Saiba mais sobre o padre João Alfredo Rohr na reportagem do Floripa 350:

Floripa 350

O projeto Floripa 350 é uma iniciativa do Grupo ND em comemoração ao aniversário de 350 anos de Florianópolis. Ao longo de dez meses, reportagens especiais sobre a cultura, o desenvolvimento e personalidades da cidade serão publicadas e exibidas no jornal ND, no portal ND+ e na NDTV RecordTV.

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