Fome grave atinge 2 em cada 10 famílias da região Sul, diz pesquisa; veja dados

A fome é um problema que atinge duas a cada dez famílias da região Sul, de acordo com o II Vigisan (2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19) no Brasil.

Morador de Rua após se alimantar em Ong no centro do Rio de Janeiro de distribui alimentação gratuita – Foto: Tânia Rego/Agência Brasil/ND

Os dados, divulgados nesta segunda-feira (26), são referentes ao período entre novembro de 2021 e abril de 2022.

A segurança alimentar está em 51,8% das casas sulistas, região com maior percentual do país. Já a insegurança alimentar leve atinge 26,5% dos domicílios, a moderada 11,8% e a grave — a privação no consumo de alimentos — 9,9%.

Já em relação à área rural, a segurança alimentar na região Sul atinge 70%, enquanto a fome leve atinge 16% dos agricultores, a moderada 3,5% e a grave 10,3%.

A fome tem lugar

No país, 20,6% das famílias chefiadas por pessoas autodeclaradas pardas e pretas passam fome. Esse percentual é duas vezes maior quando comparado ao de famílias comandadas por pessoas brancas (10,6%).

No total, 33,1 milhões de pessoas foram impactadas pela fome no país. Aqueles que se enquadram em determinados recortes de raça e gênero estão mais vulneráveis. Os lares chefiados por mulheres negras representam 22% dos que sofrem com o problema, quase o dobro em relação aos liderados por mulheres brancas (13,5%).

“A situação de insegurança alimentar e de fome no Brasil ganha maior nitidez agora. Precisamos urgentemente reconhecer a interseção entre o racismo e o sexismo na formação estrutural da sociedade brasileira, implementar e qualificar as políticas públicas, tornando-as promotoras da equidade e do acesso amplo, irrestrito e igualitário à alimentação”, diz a professora Sandra Chaves, coordenadora da Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional).

O Vigisan é realizado pela Rede Penssan. Ele leva em conta dados registrados pelo Instituto Vox Populi, com apoio da Ação da Cidadania, ActionAid, Ford Foundation, Fundação Friedrich Ebert Brasil, Ibirapitanga, Oxfam Brasil e Sesc São Paulo.

Em dados gerais divulgados anteriormente, o estudo mostrou que quatro entre 10 famílias tinham acesso pleno a alimentos, ou seja, em condição de segurança alimentar. Por outro lado, 125,2 milhões estavam na condição de insegurança alimentar – leve, moderada ou grave. Os níveis foram medidos pela Ebia (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar), também usada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Escolaridade, emprego e filhos

Os recortes de raça e gênero também ficaram evidentes quando foram analisados outros dados como escolaridade, situação de emprego e renda e presença de crianças na família.

No caso dos lares chefiados por pessoas com oito anos ou mais de estudo, a falta de alimentos foi maior quando uma mulher negra estava à frente: 33%. Esse número foi menor no caso de homens negros (21,3%), mulheres brancas (17,8%) e homens brancos (9,8%).

Nas famílias com problemas de desemprego ou trabalho informal, a fome atingiu metade daquelas chefiadas por pessoas negras. Quando se trataram de pessoas brancas, um terço dos lares foi impactado. A insegurança alimentar grave foi mais freqüente em domicílios comandados por mulheres negras (39,5%) e homens negros (34,3%).

Nas situações em que a pessoa responsável tinha emprego formal, e a renda mensal familiar era maior do que um salário mínimo per capita (para cada indivíduo), a segurança alimentar estava presente em 80% dos lares chefiados por pessoas brancas e em 73% dos chefiados por pessoas negras.

A presença de crianças menores de 10 anos de idade nas famílias também foi um fator importante. Nesse contexto, a segurança alimentar era uma realidade em apenas 21,3% dos lares chefiados por mulheres negras, menos da metade dos chefiados por homens brancos (52,5%) e quase metade dos chefiados por mulheres brancas (39,5%).

*Com informações da Agência Brasil

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