Como a acafe e as universidades comunitárias transformaram a história recente da educação em SC

Instituições comunitárias se fazem presentes em todas as regiões e respondem por cerca de 70% dos alunos matriculados no ensino superior no Estado – Foto: Luiza Buratto Paes/Unesc/Divulgação

Santa Catarina ocupa pouco mais de 1% do território nacional e responde por 3% do da população brasileira, mas sustenta números admiráveis em desenvolvimento econômico e social: sexta maior economia do país e o terceiro lugar no ranking de Índice de IDH (Desenvolvimento Humano) e segundo lugar em matrículas na educação superior. Este desempenho tem relação direta e histórica com a atuação do Sistema Acafe e suas universidades comunitárias na construção de um modelo de ensino que é referência internacional.

Para a presidente do Sistema Acafe, Luciane Ceretta, as universidades comunitárias são patrimônio dos catarinenses – Foto: Vicente Schmitt/Agência Al/Divulgação

Com cerca de 150 mil alunos matriculados (do ensino básico ao doutorado) em  14 instituições associadas, a Acafe responde por quase 70% dos estudantes universitários de Santa Catarina. A presença em todo o território catarinense é a marca de um sistema que se consolidou olhando para a sua sociedade e entendendo as demandas locais, na produção do conhecimento por meio do ensino, da pesquisa e da participação ativa nas comunidades, desenvolvendo de maneira específica cada região, explica a presidente da Acafe, Luciane Ceretta.

O que muitos ainda desconhecem é que esse sistema surgiu há mais de 50 anos justamente para suprir uma a grande demanda por oferta de cursos universitários na maior parte das regiões do Estado até então desassistidas. Há 60 anos, Santa Catarina dava os primeiros passos na era do planejamento público por meio do Plano de Metas do então governo de Celso Ramos, que consistia em uma série de ações e programas de investimentos em infraestrutura para impulsionar o crescimento social e econômico. Na mesma época surgem a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e, na sequência, a UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina).

O ensino público superior chega ao Estado já pressionado por uma forte demanda, especialmente na maior parte das regiões distantes de Florianópolis. A UFSC, até então, estava sediada na Capital, obrigando os estudantes de outras cidades a se deslocarem e fixarem residência na cidade.

Para muitos estudantes e famílias isso era inviável, seja pela distância, seja pelo alto custo para se manter em Florianópolis e pelo número limitado de vagas. “Havia uma demanda social e, diante dela, as comunidades se mobilizaram para garantir a oferta do ensino universitário. A iniciativa de prefeitos e comunidades levou ao surgimento das primeiras faculdades comunitárias e municipais. De origem pública, por ato institucional das prefeituras, essas fundações educacionais surgem para atender aos interesses e necessidades dos seus municípios”, explica a presidente da Acafe.

Acafe: patrimônio dos catarinenses

As décadas de 1960 e 1970 marcaram a forte mobilização comunitária em diversas regiões pela implementação do ensino superior, como em Chapecó, na região Oeste – Foto: Acervo Ceom/Divulgação

A Acafe foi criada em 1974, por iniciativa das 18 fundações educacionais comunitárias atuantes já naquela época. O sistema ganhou relevância e tração a partir do forte apoio governamental que viabilizou a estruturação dos campi das fundações nas microrregiões e consolidando o processo de interiorização e qualificação do ensino superior, bem como instituiu uma política de estado para concessão de bolsas de estudos (Artigo 170).

Desde então, o processo de desenvolvimento e participação do sistema na vida dos catarinenses se fez crescer nas mais diversas áreas. “As instituições se desenvolveram de maneira equânime em todo o Estado. A resultante é um ecossistema de educação que está na esteira de um Estado que representa 3% da população brasileira, mas responde pelo sexto melhor PIB (Produto Interno Bruto) e terceiro melhor IDH do país. A Acafe é patrimônio de Santa Catarina”, ressalta Ceretta.

Os números falam por si. No curso das últimas cinco décadas foram mais de 700 mil profissionais formados por meio do Sistema Acafe, que conta com mais de sete mil trabalhadores, mais de dez mil professores, sendo quase 80% com mestrado e doutorado, além de centros de pesquisa, tecnologia e inovação em todas as instituições. Ao lado de UFSC e UDESC, as universidades comunitárias catarinenses são responsáveis por ofertar formação e especialização para os profissionais da educação em Santa Catarina.

A participação ativa na comunidade (extensão) é outro alicerce da atuação do Sistema Acafe e suas instituições. Tudo o que elas recebem é revertido para as comunidades onde atuam, seja na forma do ensino, por meio de pesquisas e na prestação de serviços, muitos estimulados a partir das demandas locais. Cerca de 2,7 mil projetos de extensão estão em atividade no momento, o que representa mais de um milhão de atendimentos ao ano, da área da saúde à assistência jurídica, passando pela ambiental, psicológica, inovação, entre outras. Tudo gratuito.

Só na saúde são cerca de meio milhão de atendimentos, frutos desta conexão entre produção de conhecimento e a relação comunitária. Em Criciúma, a Unesc (Universidade do Extremo Sul Catarinense) mantém desde 2020 o Ambulatório de Atenção À Pessoa com Fibromialgia, que atende pacientes de 27 municípios da região Sul. Iniciativa pioneira no país que ganhou forma a partir de uma demanda levada pela própria população. Através da parceria entre a universidade, prefeitura e Câmara de Vereadores, a estrutura que fornece atendimento multidisciplinar garante o suporte gratuito para milhares de pacientes.

Sistema Acafe tem produção de conhecimento que ultrapassa fronteiras

Das 14 instituições associadas à Acafe, 12 se dedicam à formação de médicos e médicas em Santa Catarina – Foto: Marciano Bortolini/Unesc/Divulgação

A atuação da Acafe também projeta o Estado como referência na pesquisa científica em âmbito internacional. Atualmente, as universidades comunitárias fazem parte de 220 acordos internacionais, participando de grandes projetos em parceria com universidades e instituições de pesquisa em grandes centros mundiais – inclusive no grande esforço global para pesquisar a COVID-19.

São mais de 3,5 mil grupos nas 14 instituições envolvidas em pesquisas que vão impactar diretamente na vida das suas comunidades e do mundo. Como é o caso da Univille (Universidade da Região de Joinville), que integra um importante estudo internacional sobre a predisposição genética ao AVC. Amostras do biobanco criado da universidade foram importantes para determinar a associação ao AVC em pessoas da América Latina, já que, até então, só haviam estudos em populações com ascendência europeia.

O trabalho identificou 61 novas posições no genoma que têm relação com o acidente vascular cerebral. Ou seja, quem tem esse tipo de mutação genética tem grande propensão a desenvolver a doença.

Das 14 instituições que fazem parte do Sistema Acafe, 12 são responsáveis pela formação de médicos em Santa Catarina. “Esse é um modelo que é próprio de Santa Catarina, de universidades que são propriedades da população, da comunidade”, explica o deputado estadual Napoleão Bernardes, presidente do recém-criado Fórum Estadual em Defesa das Universidades Comunitárias.

Acafe em números

  • Fundada em 1974;
  • 14 Instituições comunitárias associadas;
  • Presença em todas as regiões;
  • Cerca de 70% dos estudantes matriculados no Ensino Superior em SC;
  • Cerca de 150 mil estudantes (do ensino básico, graduação, ao doutorado);
  • 10.522 professores (dos quais mais de 2.000 doutores);
  • Cerca de sete mil funcionários;
  •  710 cursos de graduação;
  • 606 cursos de pós-graduação (lato sensu);
  • 95 cursos de mestrado;
  • 41 cursos de doutorado;
  • 1.322 professores em Programas de Mestrado e Doutorado;
  • 939 grupos institucionais de pesquisa;
  • 2.735 alunos atuando em projetos de extensão com a comunidade;
  • Cerca de um milhão de atendimentos à comunidade;
  • Meio milhão de atendimentos em saúde;
  • Cerca de 100 mil atendimentos jurídicos;
  • Participação em 220 acordos comerciais.
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