Sobrecarregadas, 66% das mães dizem não vacinar seus filhos por falta de tempo e apoio

A falta de tempo, de uma rede de apoio, da perda da carteirinha ou dificuldades para lembrar das datas das doses são empecilhos para 66% das mães na hora de vacinar seus filhos, conforme uma pesquisa do Instituto Locomotiva, encomendada pela Pfizer.

Pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva a pedido da Pfizer ouviu duas mil mães e todo o país – Foto: Andre Velozo/Divulgação/ND

O levantamento “Escola: Uma aliada na vacinação infantil”, divulgado nesta quarta-feira (19) em São Paulo, ouviu duas mil mães de crianças e adolescentes de até 15 anos, de todas as regiões do país. Além das barreiras, o estudo apontou como a escola pode ser uma das soluções e se tornar uma aliada na imunização.

“A taxa de vacinação infantil no Brasil vem sofrendo uma queda importante nos últimos anos, deixando a população mais exposta a doenças que antes estavam sob controle, como o sarampo”, afirma a diretora médica da Pfizer, Adriana Ribeiro.

“Sabemos que essa questão foi agravada pela pandemia, mas estamos falando de um problema mulfifatorial, complexo, influenciado por vários elementos, sejam eles sociais, econômicos, comportamentais ou de informação”, destaca.

A dificuldade de lembrar a data das doses foi apontada como fator de impedimento por 50% das entrevistadas, seguida pela falta de tempo (38%), e a distância de um posto imunização (35%). A pesquisa ocorreu de 10 de janeiro a 8 de fevereiro de 2023.

Sobrecarga das mães afeta imunização

Ao lado da desinformação sobre o calendário vacinal, a sobrecarga materna desponta como um fator que impede a correta imunização pediátrica. A pesquisa mostra que 56% das entrevistadas esquece as datas de vacinação dos filhos devido à demandas diárias.

Os impactos à própria saúde também são agravados pela falta de uma rede de apoio e a vida agitada, já que 27% das mães afirma que sua vacinação está desatualizada.

Por falta de lembrança, 49% das participantes declaram ter dificuldades para gerenciar a carteirinha dos filhos, sendo que 79% delas diz que gostaria de ajuda para lembrar quando é preciso realizar ou reforçar a vacinação dos filhos.

Esse porcentual sobe para 83% entre as mulheres mais jovens, de 18 a 29 anos, e também é de 83% para o grupo das classes D/E.

Por que a cobertura vacinal diminuiu?

O pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), aponta que houve uma diminuição da cobertura vacinal a partir de 2015, o que piorou com a pandemia de Covid-19.

“A percepção de risco é um grande fator desmotivador da vacinação. Elas eliminam doenças e as pessoas começam a se questionar ‘as vacinas podem dar reações, vão deixar meu bebê enjoadinho’. O próprio sucesso da vacinas desmotiva a vacinação”, alerta.

Levantamento aponta sobrecarga das mães e como escola pode ser aliada na imunização das crianças – Foto: Andre Velozo/Divulgação/ND

O especialista destaca que a desinformação leva à desconfiança e que há diferenças entre a percepção entre as classes altas e baixas.

“As coberturas são baixas de uma maneira geral, mas os motivos que levam as classes menos favorecidas a não vacinarem não são os mesmos que fazem as classes mais favorecidas não se vacinarem”, avalia.

Para ele, a falta recurso, acesso, dinheiro para o transporte são impedidivos das famílias mais vulneráveis, enquanto as classes com maior renda têm falta de confiança, informação e percepção de risco. “A conveniência bate mais forte nas menos favorecidas e a complacência bate mais forte nas mais favorecidas.”

Como a escola pode ser uma aliada

As mães foram escolhidas para responder a pesquisa porque são elas que estão, em grande maioria, no papel de cuidadoras, explicou o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles.

Ao identificá-las como as principais cuidadoras, a escola foi percebida como uma alternativa que pode beneficiá-las no cuidado dos filhos em relação à imunização.

Entre as entrevistadas, 85% delas acreditam que imunizar as crianças na própia escola colaboraria para aumentar a cobertura vacinal do país como um todo. Caso essa medida fosse implementada, 77% das mães responderam que não atrasariam as vacinas das crianças.

O fator de confiança no ambiente escolar também chamou atenção no levantamento, já que 81% das mães dizem que se sentiriam seguras com a imunização nas escolas com profissionais de saúde qualificados. Assim, 91% das entrevistadas afirmam que provavelmente autorizariam os filhos a receber as doses na escola – dessas, 73% dizem que a decisão independeria, inclusive, do tipo de vacina ministrada.

Meirelles destacou que a pesquisa mostrou que “as mães precisam de ajuda para imunizar seus filhos” e que a escola pode se tornar uma aliada importante nesse processo.

“Esses resultados mostram a importância de investir em estratégias que facilitem o acesso à vacinação e reduzam as barreiras que muitas vezes impedem que as crianças recebam todas as doses necessárias. As mães brasileiras acreditam que essa parceria entre escolas e autoridades de saúde pode fazer a diferença na vida de muitas crianças, ajudando a prevenir doenças e promovendo a saúde pública”, comenta o presidente do Locomotiva.

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