Moradores, pescadores, comerciantes e biólogo defendem obra da nova ponte na Lagoa da Conceição

Moradores, pescadores e comerciantes da Lagoa da Conceição, a Prefeitura de Florianópolis e até um biólogo são unânimes: a nova ponte da Lagoa vai agregar à mobilidade e ao meio ambiente no bairro e, quem sabe, devolver o prestígio perdido ao longo das últimas décadas.

Obra foi suspensa após três dias de trabalhos – Foto: Leo Munhoz/ND

Iniciada em 10 de abril, a obra que visa melhorar a ligação entre o centrinho da Lagoa e a avenida das Rendeiras foi suspensa no terceiro dia de trabalho, por decisão do juiz Marcelo Krás Borges, a pedido do MPF (Ministério Público Federal).

No entendimento do magistrado, uma ordem judicial do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) impede intervenções na área e a obra carece de autorizações.

A prefeitura, que executa a obra, recorreu e aguarda nova decisão. Quem mora e trabalha no bairro não entende porque uma obra que pode trazer benefício simplesmente parou.

Moradora e comerciante na Lagoa da Conceição há uma década, Julia Hoepers, 32 anos, acredita que a obra vai ajudar em três aspectos: “vai dar vida à lagoa em si, vai desafogar o trânsito e vai ajudar na aparência do bairro”, afirma. Desde que chegou ao bairro, Julia percebe muitas mudanças e para pior: “a infraestrutura está mais complicada e o comércio está decaindo”.

O pescador Osvaldo Martins, 70 anos, nasceu e cresceu na Lagoa: “Essa nova ponte é uma obrigação. A nossa está muito velha e sempre com engarrafamento. Sem contar que, quando passa ônibus ali, estremece tudo”. Dono do Furacão do Mar, ele quer navegar até a lagoa pequena com o barco, o que não é possível hoje. “Barco grande não passa debaixo daquela ponte, se tentar, encalha”, ressalta.

Osvaldo está indignado com o descaso com a sua querida lagoa – Foto: Leo Munhoz/ND

Domingos de Pinho, 62 anos, também pesca e mora na Lagoa. No bairro desde a década de 80, é mais um querendo a nova ponte. “A nossa ponte é antiga, está comprometida. Quem passa por baixo consegue ver as fissuras”, opina. “É uma obra vital para a Lagoa. É normal, uns querem fazer, outros embargar e, com isso, quem sofre é a comunidade”, reclama.

Romeu Marafon, 73 anos, está há 30 anos na Ilha. Atualmente, mora na Joaquina e vai com frequência para a Lagoa. Na visão dele, a obra é fundamental por causa do trânsito.

“Vai aliviar bastante. Tá muito ruim aqui. Tem dias que saio da Joaquina e levo uma hora para chegar ao centrinho da Lagoa”, explica Marafon. O trajeto, segundo ele, é de aproximadamente 1,5 quilômetros. No verão, gasta muito mais tempo.

Domingos acredita que a obra dará vida nova à lagoa – Foto: Leo Munhoz/ND

Presidente da Amolagoa (Associação de Moradores da Lagoa da Conceição), Kleber de Pinho afirma que, diariamente, a população pede o andamento da obra.

“É um prejuízo para a comunidade, porque esperamos pela obra há muito tempo e, quando a prefeitura se dispõe a começar, ela é embargada. Esse embargo vai trazer prejuízo financeiro, porque vai atrasar a conclusão”, critica.

Ele frisa que, além das melhorias na mobilidade e segurança do tráfego, o projeto promoverá a revitalização no centrinho da lagoa, nas proximidades da nova ponte, e para o meio ambiente.

“A lagoa está morrendo e precisamos, sim, preservar, mas certas ações de progresso vêm para contribuir. Não podemos deixar intocada uma lagoa poluída. A limitação do progresso destruiu um dos dez maiores cartões postais do Brasil”, desabafa Kleber.

O biólogo Emerilson Gil Emerim, 54 anos, que é professor universitário e voluntário do movimento Floripa Sustentável, trabalha com avaliação de risco e impacto ambiental há mais de 30 anos e ajuda a explicar o benefício ambiental da obra.

Ele lembra que a ponte atual diminuiu a troca de água da lagoa com a lagoa pequena que, antes da ponte, era totalmente aberta e aumentava ou diminuía conforme as chuvas.

Vão da atual ponte é pequeno e dificulta oxigenação da lagoa – Foto: Leo Munhoz/ND

“Com a fixação da ponte, temos uma diminuição do fluxo de água, razão pela qual começamos a notar a lagoa, em certos pontos, com falta de oxigênio dissolvido na água, que pode causar mortandade de peixes e outros desequilíbrios ecológicos. A nova ponte atende não só a questão de mobilidade, mas também de planejamento futuro da lagoa”, defende Emerim.

“A lagoa teve uma série de intervenções humanas e creio que, atualmente, são necessárias outras intervenções para corrigir as do passado. Proibir e não fazer nada é propiciar uma degradação sócio-ambiental da lagoa”, acrescenta o biólogo.

Comerciantes percebem forte queda no movimento

José Eduardo Bontempo, 48 anos, tem uma loja na Lagoa. Ele também é favorável à nova ponte, mas reclamou que a Lagoa ficou fechada por tapumes o verão inteiro e, agora, a obra está parada.

“Não adiantou nada. Só taparam o nosso visual, mas eu considero a obra benéfica”, salienta. A mulher dele, Gioconda Bontempo, 42 anos, cresceu na Lagoa e disse que falta informação em relação às licenças da obra. “Estando tudo correto, sou totalmente a favor da obra”, afirma.

Comerciantes reclamam que os tapumes apenas atrapalharam a vista no verão – Foto: Leo Munhoz/ND

Cleci de Almeida, 47 anos, mora há uma década no bairro e tem comércio há seis anos. “Nosso movimento caiu muito. Não sabemos se vai levar mais dez anos, como a obra na avenida das Rendeiras, que era pra ser um ano e se arrastou por três. Agora é a ponte que não sai. Sou favorável à obra, é uma melhoria para a Lagoa. Queria que estivesse pronta, mas vai demorar”, pondera a comerciante.

Luiz Carlos de Albuquerque tem um comércio há três anos e meio no bairro. Ele espera que o projeto desenvolva a região num todo e se surpreendeu com a suspensão. “Foi esquisito. A obra começou e, três dias depois, foi paralisada. Até onde sei, a prefeitura demonstrou as licenças necessárias e estranhamente uma obra que não foi anunciada da noite para o dia, teve que parar”.

Diretor regional da ACIF (Associação Empresarial de Florianópolis) na Lagoa da Conceição, Thiago de Araújo conta que a nova ponte gera grande expectativa no bairro.

Cleci é comerciante e mora na Lagoa da Conceição – Foto: Leo Munhoz/ND

“Esperamos há mais de dez anos. O grande problema é o trânsito caótico, porque são pequenas vias e poucos acessos. Para o comércio, a obra é bem vista porque vai valorizar a região e atrair mais turistas. Também pela revitalização na orla”, frisa o empresário. Segundo ele, o bairro sofre atualmente com o fechamento de comércios.

“A Lagoa era muito visitada e vem se degradando. Tem muito morador de rua, a violência aumentou, a segurança caiu, os aluguéis estão absurdamente caros e não tem mais um fluxo relevante. Deixou de ser um bairro onde as pessoas circulam e fazem compras. O comércio está saindo, porque o público só passa. A nova ponte vai resgatar a beleza da Lagoa e os comércios, por isso, é uma obra tão importante”, salienta.

Secretário de infraestrutura de Florianópolis, Rafael Hahne disse que, após o recurso feito pela procuradoria, a Justiça pediu manifestação do MPF (Ministério Público Federal) em 72 horas – prazo que acaba nesta terça-feira (25) – para decidir se libera o retorno da obra, ou mantém o embargo.

“Aguardamos ansiosamente a liberação. É uma obra extremamente importante para toda a cidade. Para nós, fica o sentimento de impotência, de não poder fazer nada, tendo todas as licenças e documentação em dia e não podendo executar”.

Conforme o secretário, até o momento, a empresa que trabalhava na obra não pediu aditivos por custos de desmobilização e remobilização, mas se o período se prolongar, esse prejuízo pode vir. “Infelizmente, a Justiça não autorizou a retomada rápido, mas continuo acreditando que vai tomar uma posição coerente e adequada. Todas as documentações foram entregues”, reforça o secretário.

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