Conheça Dias Velho, fundador de Florianópolis que morreu assassinado por piratas

A reportagem especial do Floripa 350 desta semana faz uma imersão na história de Florianópolis para descobrir quem foi Francisco Dias Velho (1622 — 1687). O fundador da Capital hoje dá nome a lugares importantes como o Parque Metropolitano, que fica no aterro da baía Sul, e a um dos edifícios comerciais mais movimentados no Centro. A cidade também homenageia Dias Velho com um monumento na avenida Beira-Mar Norte.

Estátua e elevado Francisco Dias Velho, na entrada de Florianópolis – Foto: Flavio Tin/Arquivo/ND

Mas quem foi Dias Velho?

Francisco Dias Velho foi um importante bandeirante paulista que, em 1673, desembarcou na Ilha de Santa Catarina com a esposa, filhos e, acreditem, 500 indígenas “tidos como domesticados”. O desafio do colonizador era encontrar o melhor local na costa catarinense, no qual pudesse dar início a um povoado em busca de ouro, pedras preciosas e mão de obra indígena.

“A gente chama de bandeirante aquele personagem que saía de suas terras em direção ao interior com a missão de procurar metais nobres ou expandir o território que, no nosso caso, pertencia ao rei de Portugal”, explica o presidente da FCC (Fundação Catarinense de Cultura), filósofo e historiador, Rafael Nogueira.

Presidente da Fundação Catarinense de Cultura, Rafael Nogueira, fala da trajetória de Dias Velho – Foto: Reprodução/NDTV RecordTV/ND

O presidente da FCC destaca que Dias Velho foi um representante tardio desse processo, “porque ele chega aqui em 1673 e essa forma de exploração começou a partir de 1640, quando Portugal retoma sua independência e faz um esforço para aumentar suas pertenças e combater a ocupação espanhola”.

Em que lugar da Ilha Dias Velho morou?

O local escolhido para dar início ao povoado foi onde hoje está a Catedral Metropolitana de Florianópolis. Segundo registros históricos, foi ali que Dias Velho construiu sua casa e uma capela que depois deu origem à Catedral. Assim, onde hoje está a praça 15 de Novembro, surgiu Nossa Senhora do Desterro. O nome do povoado foi escolha do bandeirante.

Rafael Nogueira lembra que o colonizador nasceu na vila de São Vicente, se casou na Vila de São Paulo e viveu em Santos.

Foi Dias Velho quem criou a capela que hoje se transformou na Capital Metropolitana de Florianópolis – Foto: Leo Munhoz/ND

“Naquela época, Santos era uma cidade com apenas 13 ruas. Lá tinha uma igreja chamada de Nossa Senhora do Desterro. A padroeira desta capela era Santa Catarina de Alexandria. Sebastião Caboto – cartógrafo e explorador inglês – chegou aqui bem antes de Dias Velho e, nos relatos de suas expedições, nomeia o local como Ilha de Santa Catarina. Aí há duas vertentes: uma de que ele era devoto da santa; e outra de que ele quis homenagear sua filha. Tempo depois, Dias Velho, sabendo disso, confirmou os nomes em referência à igreja paulista”, detalha Nogueira.

Dias Velho: mocinho ou vilão?

Mas a história da fundação de Florianópolis não foi tão poética assim. Houve muita luta armada entre os indígenas que habitavam a ilha e até mesmo outros povos que tentavam conquistar a terra. O presidente da FCC destaca o contexto daquela época.

“Era um mundo muito violento, de muitas dificuldades. Coisas horríveis foram feitas por Dias Velho e contra ele. Assim como os demais bandeirantes, ele lidava com os indígenas de forma bélica. Esses povos já guerreavam muito entre si. O pai de Dias Velho, também bandeirante, Francisco Dias, ficou conhecido por escravizar indígenas contrários a ele, como os Tupis”, explica o historiador.

Se não bastasse, a violência vinha muitas vezes pelo mar, devido à ações de piratas que tentavam saquear a ilha. “As invasões eram frequentes, praticamente a cada cinco anos. E o grupo de Dias Velho precisava lutar para se defender. Eram dois tipos de piratas, os corsários que tinham autorização de determinado reino invadir, explorar e tomar territórios e os piratas ‘freelance’, que agiam por conta própria”, descreve Nogueira.

É verdade que Dias Velho foi morto por piratas?

Foi em uma das ações violentas que Dias Velho e boa parte de quem morava em Nossa Senhora do Desterro morreram assassinados e o povoado da ilha acabou dizimado. Tudo por conta da ação de um grupo de piratas, na calada da noite.

O presidente da FCC explica: “As lutas entre os povos e os piratas eram constantes. Em 1686, Dias Velho consegue interceptar um grupo de piratas ingleses que traziam prata do Peru”. Os piratas aportaram no Norte da Ilha, pensando que ela era deserta e desembarcaram parte do carregamento na praia.

História da fundação de Nossa Senhora do Desterro e de Dias Velho está registrada em obras disponíveis na Biblioteca Pública de Santa Catarina – Foto: Reprodução/NDTV RecordTV/ND

Dias Velho ficou sabendo armou seus homens e, na surdina, atacou os saqueadores. Parte dos piratas foram mortos, outra presa e alguns conseguiram fugir, deixando para trás a carga valiosa de prata. O metal teria sido confiscado por Dias Velho e enviado para Santos.

Um ano depois, parte dos piratas escapou e decidiu se vingar. Um navio aportou na ilha, onde hoje é a avenida Beira-Mar Norte e tentou atacar o povoado. Dias Velho, mais uma vez revidou. Armados com mosquetes e flechas os moradores da ilha afugentaram os invasores.

Entretanto, horas mais tarde, já na calada da noite, os piratas conseguiram invadir o povoado. “Eles então capturam Dias Velho e o levaram até a capela de Nossa Senhora do Desterro, onde o bandeirante foi executado com um tiro na cabeça. As filhas de dias Velho foram violentadas e muita gente foi morta. O povoado ficou completamente destruído”, revela o historiador.

Pintura que retrata Dias Velho faz parte do acervo da Câmara Municipal de Florianópolis – Foto: Édio Hélio Ramos/CMF/Divulgação/ND

Morto, Dias Velho foi enterrado ao lado da capela que construiu. Com a cidade dizimada, parte dos que sobrevieram deixaram o povoado, muitos migraram para São Vicente ou acompanharam o filho de Dias Velho, José Pires Monteiro à cidade de Laguna.

Qual foi o legado de Dias Velho para Florianópolis?

O presidente da FCC finaliza lembrando que a missão de Dias Velho, enquanto bandeirante, era encontrar o melhor lugar possível construir uma vila próspera portuguesa ao Sul do Brasil.

“Ele conseguiu. Encontrou o melhor lugar para isso em Florianópolis, um local paradisíaco, com muita beleza natural e uma grande potência de futuro. Hoje a gente pensa isso da cidade, mas na época o pensamento era o mesmo”, completa.

Artefatos do barco pirata confiscado por Dias Velho seguem conservados no Museu do Naufrágio nos Ingleses – Foto: Leo Munhoz/Arquivo/ND

Onde posso saber mais sobre piratas e Dias Velho em Florianópolis?

Se você ficou interessado em conhecer mais sobre a história dos piratas que guerreavam contra Dias Velho não pode deixar de visitar o Museu do Naufrágio, que fica no bairro Ingleses, próximo às dunas. Lá você encontra parte da embarcação apreendida por Dias Velho, no Norte da Ilha. O espaço abre de terça à sábado da 14h30 às 20h. No domingo, o expediente é das 8h às 12h.

A equipe da NDTV RecordTV visitou o local e contou mais sobre a história do fundador da Capital. Confira:

Floripa 350

O projeto Floripa 350 é uma iniciativa do Grupo ND em comemoração ao aniversário de 350 anos de Florianópolis. Ao longo de dez meses, reportagens especiais sobre a cultura, o desenvolvimento e personalidades da cidade serão publicadas e exibidas no jornal ND, no portal ND+ e na NDTV RecordTV.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.