Sobrecarregada: Maternidade Carmela Dutra elenca prioridades para reformas emergenciais

Seja “mãe de primeira viagem” ou não, o nascimento de um filho deve ser um momento especial na vida da família e do bebê que está vindo ao mundo. E esta ocasião pode ser prejudicada por uma condição precária na estrutura da primeira maternidade pública de Santa Catarina, a Maternidade Carmela Dutra.

A instituição encerra a lista dos seis hospitais em situação “crítica” na Grande Florianópolis, alvo do decreto do governo do Estado da Saúde em março deste ano.

Maternidade Carmela Dutra, no Centro de Florianópolis, precisa de readequações urgentes na estrutura – Foto: Marcelo Feble/Reprodução NDTV

Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1960, 5 anos após a inauguração da maternidade, a população de Florianópolis era de 97.827.

Em 2020, a população saltou para 500.973, um aumento de mais de 400%. O órgão também fez uma estatística para 2050, com quase 900 mil nascidos na Capital, um aumento de 75% em 30 anos.

Esse ‘boom’ populacional no município impacta diretamente nas maternidades da Grande Florianópolis e pode justificar uma grande demanda no Carmela Dutra, um dos problemas mais graves apontados pela diretoria do hospital. Somente lá, nascem mais de 3.500 bebês por ano.

Além disso, um levantamento realizado pela secretaria revelou que, desde setembro de 2022, os atendimentos na unidade aumentaram.

Enquanto em agosto de 2022, foram realizados 1.555 atendimentos, no mês seguinte, o número chegou a 1.986 e, em dezembro, bateu 2.153. Já em março de 2023, os atendimentos chegaram a 2.449. Em valores percentuais significa um aumento de 57,5%.

Crescimento populacional de Florianópolis – Foto: Leandro Maciel/ND

“As grávidas se dividem entre o Hospital de Biguaçu e o Regional de São José, para quem é do continente, e a Maternidade Carmela Dutra, para quem é da Ilha. Mas recebemos também as grávidas que moram no continente, porque além de ser uma maternidade, não fica dentro de um hospital geral e também porque tem tradição”, explica Lissandra Mafra, Diretora Técnica da unidade.

Segundo o diretor da maternidade, Gilberto Seemann, outro fator que justifica este aumento de pacientes é o HU-UFSC (Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago) ter fechado as portas da maternidade.

O hospital já lida com problemas na rede de esgoto, mas obras na área externa deixaram buracos e água empoçada - Marcelo Feble/Reprodução NDTV
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O hospital já lida com problemas na rede de esgoto, mas obras na área externa deixaram buracos e água empoçada – Marcelo Feble/Reprodução NDTV

Paredes antigas começam a descascar e sofrer com a umidade - Marcelo Feble/Reprodução NDTV
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Paredes antigas começam a descascar e sofrer com a umidade – Marcelo Feble/Reprodução NDTV

Ele explica que a média dos últimos três meses, entre janeiro e março – cerca de 2.318 atendimentos – supera a média do exercício anterior, devido justamente ao fechamento da emergência da maternidade do HU.

“Isso significa que o HU só recebe as pacientes do pré-natal deles e pacientes encaminhadas de outros hospitais. Isso fez aumentar o nosso movimento nas emergências”, aponta Lissandra.

“Além de maternidade, somos também hospital da saúde da mulher, com centro cirúrgico, UTI e retaguarda, então trabalhamos sempre com alto número de pacientes”, complementa Seemann.

Em relação a espera, o diretor esclarece que na emergência os atendimentos são por livre demanda, com espaço físico quase sempre lotado. “Esse aumento de pacientes na unidade impacta diretamente na qualidade e tempo da assistência. A emergência em alguns momentos fica sobrecarregada”.

A equipe do ND testemunhou um espaço improvisado de espera fora do ambiente da maternidade. No entanto, Seemann afirma que a fila de espera não demora “além do preconizado na classificação de risco, salvo alguns casos mais específicos”.

Falta de espaço

O Carmela Dutra dispõe de mais de 100 leitos destinados ao atendimento obstétrico, ginecológico, oncológico e neonatal com importantes serviços como o aleitamento materno.

E mesmo assim, a grande demanda de pacientes leva a outro problema: a falta de espaço para acompanhantes na UTI Neonatal. Conforme o relatório da pasta, “a UTI Neonatal está sem espaço adequado para acompanhantes”. Os outros ambientes também não possuem um espaço adequado para acomodá-los.

Vale reforçar o direito da mulher de ter acompanhamento hospitalar em unidades de saúde públicas ou privadas, garantido pela Lei Federal nº 11.108, de 07 de abril de 2005.

Ela determina que os serviços de saúde do SUS, da rede própria ou conveniada, são obrigados a permitir à gestante o direito à presença de acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto.

Em caso de descumprimento por parte do hospital, as penalidades vão desde advertência até multas, que variam de R$1 mil até R$10 mil, podendo ser dobradas e quadruplicadas em caso de reincidência.

Para resolver isso, o diretor revela que a intenção é ampliar os leitos, tanto privativos quanto coletivos, para que haja a possibilidade de colocar uma poltrona para o acompanhante.

Números Maternidade Carmela Dutra – Foto: Leandro Maciel/ND

Referência em atendimento de gestante de alto risco

A maternidade é reconhecida pelo Ministério da Saúde como Centro de Referência Estadual em Saúde da Mulher e referência no tratamento de casos de alto risco.

A unidade funciona 24 horas por dia, sete dias na semana, para casos de urgências e emergências ginecológicas e obstétricas.

Dentre os outros problemas estruturais apontados no relatório da pasta, sob gestão de Carmen Zanotto, está o sistema elétrico da maternidade, que se encontra “precário e que coloca em risco pacientes, funcionários e os equipamentos”.

Para Seemann, as instalações precisam ser olhadas com cuidado. “O prédio possui 67 anos e, com a implementação de novos e vários equipamentos, isso acaba sobrecarregando a rede elétrica. Então, vamos precisar de um estudo desta natureza, para definir quais são os reparos e as manutenções que precisam ser feitas”.

Entretanto, Seemann afirma que, apesar deste sobrecarregamento, ainda não houve episódios que comprometeram os equipamentos dos hospitais. “O nosso pedido é para que a situação não chegue nesse nível e, por isso, precisamos nos precaver”, desabafa.

“Também queremos melhorar para poder conseguir colocar mais equipamentos”.

Humanização

Inaugurado na década de 50, o prédio está prestes a completar 68 anos em julho.

Com tantas características históricas, Seemann reforça a necessidade de recuperação de algumas ambiências para “torná-las mais humanizadas”.

Dentre outros apontamentos no relatório, está a substituição da rede de gases; a estrutura do sistema de abastecimento de gás GLP ruindo e acesso lateral do prédio encharcado com água, vindo das pias; a área externa da central de gás, que não possui mais a central de vácuo, além da estrutura do teto estar comprometidas; e telhas e calhas antigas quebradas, que acaba causando problemas de infiltração.

“Precisamos dessas melhoras para dar uma condição melhor para as mulheres que passam por aqui”, defende o diretor.

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