A paz nas escolas não se faz com armas

Há menos de uma semana, enquanto terminava a minha corrida matinal, fiquei sabendo do ataque à creche em Blumenau. Ao ler a primeira linha da notícia que informava que crianças estavam entre as vítimas, senti uma dor na alma e rapidamente fechei o celular. Para uma mãe que sofre de ansiedade, eu sabia que aquilo era um gatilho grande para despertar uma crise, ainda mais que minha filha estava na escola naquele mesmo horário.

Como mãe, não sinto que minha filha está mais segura em um ambiente cheio de armas, na verdade, fico insegura – Foto: Pexels/Divulgação/ND

Apesar do esforço em não acompanhar o desenrolar dos fatos —  no qual são noticiados detalhes por vezes desnecessários — foi praticamente impossível não pensar no que tinha acabado de acontecer, imaginar a cena de horror, o desespero dos professores, a dor das mães e parentes. As vidas ainda puras ceifadas e a inocência das crianças sendo absurdamente destruídas.

A vontade era de buscar a pequena e ficar grudada nela o dia todo, como sei de algumas mães que o fizeram. Apesar da quantidade desenfreada de fake news espalhadas minutos após o atentado que diziam haver mais ataques pelo Estado, respirei e chequei as informações em sites de notícias confiáveis. Entrei em contato com o grupo da escola no aplicativo de conversa e a diretora de prontidão nos respondeu que estava tudo ok.

Nos grupos de outras escolas, pais que até então não tinham sequer interagido nas conversas sobre reuniões, tarefas e demais assuntos escolares desde o início do ano letivo, repentinamente passaram a participar do debate. O assunto: contratar policiais para fazer a segurança no colégio, um dizia conhecer um policial do BOPE: “já vou falar com ele”. A sugestão veio seguida de outros comentários a favor vindos de outros pais (e mães também).

Como mãe, entendo a preocupação, nunca jamais queremos que esse pesadelo aconteça. E como medida emergencial, desejamos reforço na segurança dos lugares onde estão nossos pequenos até porque não está claro se outros ataques estão marcados. Esperamos que a Inteligência da polícia esteja investigando afinco esses grupos que supostamente lideram esses massacres.

Em Florianópolis, o prefeito anunciou uma medida temporária: a presença de guardas municipais nas escolas públicas, a partir desta segunda-feira (10). E realmente, dois deles estavam na escola da minha filha logo cedo. A sensação ao vê-los foi de alívio, sim, por ora. Mas será que fazer da escola uma fortaleza de proteção traz mais segurança ou medo?

A cada violência sofrida ou noticiada, a cada falta de resposta vinda de autoridades, vamos aumentando os muros, nos isolando em condomínios fechados, vivendo cercados de ferramentas de monitoramento. Nos sentimos cada vez mais acuados, ao mesmo tempo vigiados, ao mesmo tempo presos. Isso é liberdade ou prisão?

Enquanto isso na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC), uma deputada do PL protocolou um projeto de lei para que vigilantes, educadores e professores possam portar armas. Imagina a insegurança de uma professora que se formou apenas para pegar em lápis e educar crianças, tendo que pegar em armas? Sugiro que você pergunte aos professores de seus filhos o que eles acham desse PL.

Eu não sinto que minha filha estará mais segura em um ambiente cheio de armas, na verdade, fico super insegura. Como estar protegida próxima de artefatos mortais? Não precisa ir tão longe entender que o acesso a armas não traz segurança. Nos Estados Unidos, as mortes por armas de fogo atingiram o nível mais alto em quase 30 anos em 2022. E o número de massacres em escolas norte-americanas? Só no ano passado foram 320. Se isso é visto como seguro, eu não sei o que é segurança mais…

Parece clichê, mas não tem quem me faça achar o contrário: violência gera violência e medo gera mais medo ainda. A pergunta que fica é: quem lucra com esse medo? Porque perder, eu quem são… Nós, cidadãos comuns. Queremos apenas que nossos filhos fiquem vivos, livres e em paz.

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