O que é botulismo? Entenda a doença que deixou brasileira tetraplégica após tomar sopa nos EUA

O caso da brasileira Cláudia de Albuquerque Celada, de 23 anos, ligou o sinal de alerta em relação a uma doença grave. Ao tomar uma sopa contaminada nos Estados Unidos, ela contraiu uma bactéria e desenvolveu botulismo. Cláudia perdeu os movimentos e está em recuperação. Mas o que é botulismo? Trata-se de uma doença neuroparalítica grave.

A bactéria causadora do botulismo produz uma toxina que pode provocar um envenenamento grave em questão de horas, como aconteceu com Cláudia nos Estados Unidos. O caso jogou luz sobre o que é botulismo.

O que é botulismo? Doença rara que deixou brasileira tetraplégica nos EUA

Essa doença rara está em evidência com a repercussão do episódio envolvendo Cláudia, que fazia um intercâmbio em Aspen, nos Estados Unidos. O botulismo pode levar à morte por paralisia da musculatura respiratória.

O que é botulismo e como ele ocorre?

Definição de botulismo e tipos de doença

O botulismo é uma doença neuroparalítica grave e rara. Não é contagiosa. A ação de uma potente toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum (C botulinum) gera a doença. Essa toxina entra no organismo, principalmente, com a ingestão de alimentos contaminados e por meio de ferimentos.

Segundo informações do Ministério da Saúde, no Brasil, a maioria dos casos notificados está relacionado à contaminação alimentar. Os casos de botulismo são considerados de emergência médica e de saúde pública. Todas as formas de botulismo podem levar à morte.

O que é botulismo: o que precisa saber sobre a doença

O que é botulismo: doença é considerada grave – Foto: Istock/ND

O que é botulismo: como se pega?

Os esporos da bactéria podem sobreviver em ambientes com pouco oxigênio, como em alimentos em conserva ou enlatados. Além disso, são amplamente distribuídos na natureza, em solos e sedimentos de lagos e mares.

Esses esporos também são encontrados em água não tratada e em produtos agrícolas, como legumes, vegetal e mel, em intestinos de mamíferos, peixes e vísceras de crustáceos.

As principais formas de transmissão e causas do botulismo são: botulismo alimentar, botulismo por ferimentos, botulismo intestinal e botulismo infantil. A primeira via é a que mais ocorre no Brasil: a principal incidência sobre o que é botulismo.

O botulismo alimentar se caracteriza pela ingestão de toxinas presentes em alimentos contaminados, produzidos ou conservados de maneira inapropriada. O período de incubação, entre o consumo do alimento e o início dos sintomas, varia de 2 horas a dez dias, com média de 12 a 36 horas.

No botulismo intestinal, os esporos presentes em alimentos contaminados se fixam e se multiplicam no intestino. Assim, ocorre a produção e a absorção da toxina. Cirurgias intestinais, Doença de Crohn e/ou uso de antibióticos por tempo prolongado, que levaria à alteração da microbiota intestinal, são fatores de risco para adultos. Como não é possível saber o momento da ingestão dos esporos, não se tem como estimar o período de incubação da doença nestes casos sobre o que é botulismo.

O botulismo por ferimentos é considerado uma forma mais rara de transmissão. Ocorre quando existe a contaminação de ferimentos com a bactéria C botulinum. O período de incubação pode variar de 4 a 21 dias, com média de sete dias. Úlceras crônicas com tecido necrótico, fissuras, esmagamento de membros, ferimentos em áreas profundas mal vascularizadas ou, ainda, aqueles produzidos por agulhas em usuários de drogas injetáveis e lesões nasais ou sinusais em usuários de drogas inalatórias são as principais portas de entrada para os esporos da bactéria.

Mais frequente em crianças com idade entre três semanas e 26 semanas, o botulismo infantil é uma forma de ocorrência intestinal, tendo como a principal causa o consumo de mel de abelhas nas primeiras semanas de vida. Embora com notificações pelo mundo, o cálculo da incidência da doença fica prejudicado porque frequentemente o botulismo não aparece como suspeita.

Quais alimentos causam botulismo?

Segundo as informações do Ministério da Saúde sobre o que é botulismo, os alimentos envolvidos com maior frequência na transmissão são de conservas vegetais (palmito, picles e pequi), produtos cárneos cozidos, curados e defumados de forma artesanal (salsicha, presunto, carne frita conservada em gordura e “carne de lata”), pescados defumados, salgados e fermentados, queijos e pasta de queijos e alimentos enlatados industrializados (mais raramente).

O que é botulismo: alimentos são causas da doença

O que é botulismo: alimentos contaminados podem provocar a doença Foto: Istock/ND

Fatores de risco e situações de contaminação

As condições de processamento e armazenamento inadequados favorecem a proliferação da bactéria, que resiste a ambientes de pouco oxigênio. Os esporos são altamente resistentes ao calor. Contudo, as toxinas são destruídas.

Além disso, as bactérias podem produzir toxinas em temperaturas baixas, como 3°C. Desta forma, a refrigeração não torna os alimentos totalmente seguros. O cozimento inadequado também não elimina o risco de contrair a bactéria.

Quais são os sintomas do botulismo?

O que é botulismo: sinais e sintomas iniciais

  • dores de cabeça
  • vertigem
  • tontura
  • visão turva
  • visão dupla
  • diarreia
  • náuseas
  • vômitos
  • dificuldade para respirar
  • paralisia descendente da musculatura respiratória, braços e pernas
  • comprometimento de nervos cranianos
  • prisão de ventre
  • infecções respiratórias

O que é botulismo: sintomas graves e complicações

Nos casos de botulismo alimentar, com intoxicação alimentar grave, os sintomas podem ser gastrointestinais (náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal) e/ou neurológicos (visão turva, queda da pálpebra, visão dupla, dificuldade de engolir e boca seca), com início rápido e progressivo. A evolução da doença pode resultar em um quadro no qual a fraqueza muscular pode atingir os músculos do tronco e membros, resultando em paralisia. Em casos mais graves, o tempo de recuperação pode durar de seis meses a um ano.

Em crianças, o botulismo intestinal pode levar à síndrome de morte súbita. Os casos graves apresentam sintomas de constipação e irritabilidade, seguidos por dificuldade de controle dos movimentos da cabeça, sucção fraca, choro fraco e paralisias bilaterais descendentes, que podem progredir para comprometimento respiratório.

Diagnóstico e tratamento do botulismo

Como o botulismo é diagnosticado?

O exame físico feito pelo médico geralmente inicia o processo de diagnóstico de botulismo no Brasil e no mundo. Exames neurológicos, de imagem e laboratoriais completam a investigação do quadro. O exame de sangue ajuda a identificar a toxina presente no organismo. O exame de fezes também pode detectar a presença da toxina.

Na observação médica, o profissional busca identificar os seguintes sintomas sobre o que é botulismo:

  • Ausência ou diminuição dos reflexos do tendão profundo
  • Ausência ou diminuição do reflexo faríngeo
  • Pálpebra caída
  • Perda da função/sensibilidade muscular
  • Intestino paralisado
  • Comprometimento da fala
  • Retenção urinária com possível incapacidade de urinar

Tratamento e cuidados para pacientes com botulismo

Segundo o Ministério da Saúde na cartilha sobre o que é botulismo, o tratamento para o botulismo deve ser realizado em unidade hospitalar que tenha unidade de terapia intensiva (UTI). O protocolo se divide em duas ações: o tratamento de suporte e o tratamento específico.

No primeiro, o foco é dar suporte e realizar a monitorização cardiorrespiratória. Já o tratamento específico tem como objetivo eliminar a toxina e a fonte de produção, que é a bactéria C. botulinum. Assim, o protocolo indica o uso do soro antibotulínico (SAB) e de antibióticos.

Se identificada e tratada de forma adequada, a doença tem cura e não deixa sequelas.

Como o botulismo pode matar?

Efeitos da toxina botulínica no corpo humano

As toxinas botulínicas prejudicam o funcionamento do sistema nervoso periférico. Elas podem paralisar os músculos por evitar a liberação de um mensageiro químico que estimula a contração muscular. Tal condição compõe o cenário mais crítico sobre o que é botulismo.

O comprometimento da musculatura respiratória pode levar a um quadro de asfixia ou de insuficiência respiratória. Assim, a doença pode levar à morte por paralisia da musculatura respiratória.

Prevenção do botulismo: como evitar a doença?

Cuidados com o preparo, o consumo, a distribuição e a comercialização de alimentos, bem como a higiene dos alimentos e das mãos, são os principais aliados na prevenção da doença.

O que é botulismo: atenção na hora de escolher e cuidar dos alimentos

O que é botulismo: cuidados com os alimentos para evitar a doença – Foto: Istock/ND

Medidas para prevenir o botulismo alimentar

O Ministério da Saúde aponta as principais formas de prevenção da doença:

  • Não consumir alimentos em conserva que estiverem em latas estufadas, vidros embaçados, embalagens danificadas, vencidas ou com alterações no cheiro e no aspecto
  • Produtos industrializados e conservas caseiras que não ofereçam segurança devem ser fervidos ou cozidos por pelo menos 15 minutos antes de serem consumidos. O aquecimento dos alimentos pode eliminar as toxinas do botulismo
  • Lave sempre as mãos
  • Não mantenha ou conserve alimentos a uma temperatura acima de 15ºC
  • O preparo de conservas caseiras deve obedecer rigorosamente aos cuidados de higiene e armazenamento
  • Certifique-se que essas medidas foram adotadas pelo estabelecimento/vendedor que preparou o alimento
  • O mel é um dos alimentos mais perigosos, especialmente, para crianças menores de 2 anos, pois há risco de conter esporos da bactéria do Botulismo conforme Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos, já que este público é que ainda está adaptando sua microbiota intestinal aos novos alimentos, podendo assim, desenvolver quadros graves da doença

Perguntas frequentes sobre botulismo

Como se pega botulismo?

Ao ingerir alimentos contaminados, que causam botulismo, ou quando a transmissão acontece via ferimentos.

O que é botulismo: quais alimentos causam a doença?

  • palmito
  • picles
  • pequi
  • salsicha
  • presunto
  • carne frita conservada em gordura
  • “carne de lata”
  • pescados defumados, salgados e fermentados
  • queijos e pasta de queijos
  • alimentos enlatados industrializados

Como o botulismo mata?

O Botulismo e paralisia muscular podem levar ao quadro de insuficiência respiratória. Esse distúrbio faz com que o nível de oxigênio no sangue fique baixo ou o nível de dióxido de carbono no sangue fique alto.

A insuficiência respiratória pode levar para um quadro em que o coração e o cérebro não funcionem corretamente. Além disso, pode provocar ritmos cardíacos anormais, como arritmias. As duas repercussões podem levar à morte.

O que é botulismo: qual é a prevenção?

Cuidado com os alimentos (consumo, preparo, distribuição, higiene) e higiene pessoal, das mãos.

O caso da brasileira tetraplégica: o que sabemos até agora?

Comerciária, Cláudia de Albuquerque Celada foi para Austin, nos Estados Unidos, realizar um intercâmbio. Contudo, em meados de fevereiro, ela tomou uma sopa industrializada que estava contaminada. Assim, contraiu a bactéria e desenvolveu botulismo. O caso de Cláudia colocou em evidência o que é botulismo.

O que é botulismo: caso de brasileira chama atenção

O que é botulismo: Cláudia contraiu bactéria nos Estados Unidos – Foto: Reprodução/Redes sociais

Ela apresentou sintomas de cansaço, tontura e visão turva. Antes do diagnóstico, ela precisou ser entubada. A comerciária ficou com o corpo totalmente paralisado, o que caracterizou uma tetraplegia por botulismo.

A família de Cláudia lidou com os custos da internação nos Estados Unidos (a estimativa é que a conta hospitalar chegou a 2 milhões de dólares, o equivalente a R$ 11,2 milhões). O seguro de saúde da brasileira era de 100 mil dólares (R$ 564,6 mil) e cobriu um valor insignificante da despesa.

Os familiares, então, criaram “vaquinhas” para ajudar no pagamento. A brasileira foi inscrita em um programa de ajuda do governo norte-americano. Assim, parte do valor da internação seria de responsabilidade do governo.

A família de Cláudia também montou a logística para trazê-la para o Brasil, o que aconteceu em maio. Ela, então, foi internada no Hospital São Luiz São Caetano do Sul, em São Paulo, ainda em quadro considerado grave. A comerciária estava no respirador artificial e se alimentava por sondas. Além disso, praticamente não conseguia se movimentar.

O tratamento de Cláudia também contou com o suporte de fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas e psicólogos. No dia 8 de julho, ainda com sonda de alimentação e andando poucos metros, ela ganhou a primeira alta hospitalar.

Cláudia voltou ao hospital dez dias depois, com um quadro de inchaço nas glândulas do pescoço. Ela ficou internada mais duas semanas, até receber alta em 1º de agosto, sem sonda e sem traqueostomia. O tratamento fisioterápico continua, com o objetivo de fortalecer a musculatura.

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