Polêmicas do Carrefour: racismo, boicotes e outras controvérsias

Rede internacional de hipermercados, o Carrefour se envolveu em mais uma controvérsia no Brasil: a “crise das carnes.” De origem francesa, a empresa praticamente criou um incidente diplomático e precisou se retratar. O episódio, assim, aumentou a lista de polêmicas do Carrefour.

O caso envolvendo a compra de carnes do Brasil surgiu no contexto do acordo comercial que é costurado entre União Europeia e Mercosul e jogou luz a uma série de polêmicas do Carrefour no País.

Polêmicas do Carrefour: rede pediu desculpa

Polêmicas do Carrefour: crise com o Brasil contornada após pedido de desculpas | Foto: Grupo Carrefour / Divulgação

A rede de hipermercados, nos últimos anos, conviveu com casos de racismo, maus-tratos a animais, descasos com clientes e violações trabalhistas. O Carrefour boicote às carnes brasileiras é mais uma polêmica.

Polêmicas do Carrefour: racismo, boicotes e outras controvérsias

Boicote às carnes brasileiras: o que está por trás da decisão do Carrefour?

O caso que aumenta as polêmicas do Carrefour tem como pano de fundo um acordo de livre comércio que vem sendo costurado entre a União Europeia e o Mercosul. Na França, a Federação Nacional dos Sindicatos dos Agricultores tem realizado protestos contra o acordo.

Desde 1999, a União Europeia e o Mercosul vêm negociando sobre um possível acordo de livre comércio que significaria a isenção ou redução da cobrança de impostos de importação de bens e serviços produzidos nos dois blocos.

Neste contexto de proximidade do acordo comercial, a Federação Nacional dos Sindicatos dos Agricultores da França se levantou com uma voz contrária, apontando que a importação de carne bovina, frango, açúcar e milho do Brasil e da Argentina aumentaria. A organização até fez acusações de uso de pesticidas contra a produção brasileira e argentina.

Polêmicas do Carrefour: ‘crise das carnes’ entra na lista de controvérsias | Foto: Divulgação/Carrefour/ND

Na última quarta-feira (20), Alexandre Bompard, CEO do Carrefour Global, divulgou uma carta no X (antigo Twitter) à Federação Nacional dos Sindicatos dos Agricultores da França. Ele prometeu que o Carrefour não venderia no país europeu carnes produzidas pelo Mercosul.

No texto, Bompard apontou o “risco de o mercado francês ser inundado com carne que não atende às suas exigências e normas.” Foi o início de uma crise e boicote Carrefour Brasil. Produtores de carne do País deixaram de suprir os supermercados da rede francesa no Brasil. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Associação Brasileira de Frigoríficos (ABRAFRIGO) e Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgaram um manifesto, no último sábado (23), de repúdio à declaração do CEO do Carrefour.

O governo do Brasil também mostrou indignação com a carta divulgada pelo presidente do grupo pelo questionamento quanto à qualidade do produto brasileiro. O incidente diplomático envolvendo o boicote às carnes no Brasil foi contornado com um pedido de desculpas.

Nesta terça-feira (26), o Grupo Carrefour fez uma retratação da declaração do CEO Bompard e afirmou reconhecer a qualidade da carne do Brasil. O Ministério da Agricultura também informou que recebeu uma carta de Alexandre Bompard, na qual ele pede desculpa.

A rede explicou que a decisão de legitimar os agricultores franceses será mantida e que isso não afeta a relação comercial com o Brasil. Assim, o incidente, mais um para a lista de polêmicas do Carrefour, foi superado.

Casos de racismo envolvendo o Carrefour

As polêmicas do Carrefour no Brasil também envolvem casos de racismo e incidentes de discriminação em supermercados. Em 2020, João Alberto Silveira Freitas foi espancado e morto no estacionamento de um mercado da rede em Porto Alegre. O crime aconteceu no dia 19 de novembro.

Polêmicas do Carrefour: morte de João Alberto Silveira Freitas chocou o Brasil – Foto: Reprodução Internet

A Polícia Civil e o Ministério Público apontaram o racismo como motivo torpe no crime. Entretanto, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul afastou essa possibilidade. Assim, os réus respondem por homicídio duplamente qualificado.

Segundo a investigação do crime, após uma confusão no caixa do mercado, João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi contido por seguranças terceirizados do Carrefour. Ele, então, foi levado até o estacionamento e foi espancado até a morte. As agressões foram gravadas por testemunhas.

O Departamento Médico Legal apontou que a vítima morreu em função de asfixia. Dois seguranças terceirizados foram presos em flagrante, enquanto três funcionários do Carrefour e outro segurança terceirizados também foram acusados pelo crime. O processo está na fase de recursos.

O Carrefour, após o crime, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e se comprometeu a destinar R$ 115 milhões para políticas de combate ao racismo. A empresa responsável pelos seguranças terceirizados também firmou um TAC com ações de combate ao racismo.

Em 2009, o vigilante Januário Alves de Santana foi espancado no estacionamento do Carrefour de Osasco. Ele foi acusado de roubar o próprio carro. Januário foi torturado por seguranças do supermercado.

O delegado Léo Francisco Salem Ribeiro, do 9º Distrito Policial de Osasco, apontou que a “discriminação racial” motivou a ação dos seguranças. Januário fraturou a face, perdeu um dente e passou por cirurgia.

Segundo a investigação, o homem levou cabeçadas, coronhadas e socos, além de sofrer esganaduras, para que confessasse algo que não fez. O Carrefour afastou os funcionários envolvidos e indenizou o vigilante.

Outro episódio de racismo na lista de polêmicas do Carrefour aconteceu em outubro de 2018, em São Bernardo do Campo. Luís Carlos Gomes abriu uma lata de cerveja dentro do supermercado. Funcionários do supermercado questionaram o homem, que avisou que pagaria pelo produto.

Entretanto, Luís Carlos Gomes foi perseguido pelo gerente da unidade e um segurança. O homem foi encurralado e levou um mata-leão. Luís, que é deficiente físico, sofreu fraturas e teve de passar por cirurgia. Ele acusou o Carrefour de racismo e discriminação.

Os episódios do Carrefour retratam casos de racismo em redes de supermercados no Brasil e exigem mobilização para se combater a discriminação.

Polêmicas do Carrefour: revolta após morte de funcionário – Foto: Reprodução Twitter

Violações trabalhistas e retaliações

Além de casos de racismo no Carrefour, a lista de polêmicas do Carrefour também tem episódio de violação trabalhista. Em maio de 2019, a Justiça do Trabalho de São Paulo, após pedido de liminar realizado pelo Sindicato dos Comerciários de Osasco e Região, identificou condições degradantes para os trabalhadores após acusação de que o Carrefour controlava a ida dos funcionários ao banheiro.

Polêmicas do Carrefour: violações trabalhistas | Foto: Aloísio Maurício/ Estadão Conteúdo/ ND

Segundo o sindicato, operadores de atendimento e telemarketing do Carrefour das cidades de Barueri, Carapicuíba, Embu, Itapevi, Jandira, Osasco e Taboão da Serra eram obrigados a utilizar uma espécie de “fila eletrônica” para ir ao banheiro.

O funcionário, assim, devia manifestar a necessidade de ir ao banheiro e registrar o nome na fila eletrônica. Em caso de urgência, era preciso avisar ao supervisor da loja. Na decisão que concedeu a liminar, a juíza Ivana Meller Santana, da 5ª Vara do Trabalho de Osasco, apontou:

– Este tempo de espera pode acarretar prejuízos à saúde do trabalhador. Isto sem relatar o constrangimento de precisar explicar ao monitor/supervisor as suas necessidades fisiológicas, eventuais problemas intestinais ou estomacais, os relativos ao ciclo feminino – escreveu.

Já em 2017, a polêmica envolvendo funcionários se deu após uma reivindicação de remuneração de trabalho em feriados. Funcionários que participaram do movimento foram demitidos e acusaram o Carrefour de retaliação.

A empresa justificou como corte de gastos, enquanto funcionários demitidos apontaram retaliação. Em 2017, os trabalhadores receberam menos da metade do que recebiam por trabalhar em feriados.

As violações trabalhistas Carrefour, assim, compõem o cenário de polêmicas da rede de hipermercados no Brasil e levantam discussão sobre questões éticas no varejo brasileiro. A Justiça também registra histórico de ações trabalhistas contra o Carrefour.

Maus-tratos a animais: o caso Manchinha

Outro caso de impacto social das polêmicas do Carrefour aconteceu em 2018 e envolveu maus-tratos a animais Carrefour. O cachorro Manchinha, abandonado, fazia sucesso no supermercado em Osasco. Ele recebia alimentos e carinho de funcionários e clientes do estabelecimento. Entretanto, ele foi agredido e morreu no fim de novembro daquele ano.

Polêmicas do Carrefour: caso Manchinha gerou revolta

Polêmicas do Carrefour: Manchinha virou símbolo de luta pelos direitos dos animais – Foto: Reprodução Internet

Na época, a ONG Cão Leal acusou um segurança do Carrefour de matar o animal. A denúncia ganhou repercussão no Facebook. A Polícia Civil, após investigação, responsabilizou um segurança do estabelecimento.

Em depoimento à polícia, o segurança admitiu ter batido no animal com uma barra de ferro, mas não tinha a intenção de feri-lo. O homem respondeu em liberdade pelo crime de abuso e maus-tratos a animais.

Em 2021, Manchinha ganhou um monumento em Osasco, no Pet Parque. A ideia partiu do Instituto Manchinha, criado para acompanhar o caso que envolveu a agressão e a morte do cachorro. Manchinha virou um símbolo da luta pelos direitos dos animais e compõe a lista de polêmicas do Carrefour no Brasil.

Outros episódios de descaso e polêmicas

A rede foi duramente criticada também por um episódio ocorrido em 14 de agosto de 2020 em Recife e que está na lista de polêmicas do Carrefour. O promotor de vendas Moisés Santos, de 53 anos, faleceu enquanto trabalhava na unidade.

O corpo de Moisés, que ficou no local entre 8h e 12h, foi cercado por caixas e coberto com guarda-sóis para que o supermercado continuasse funcionando, até a chegada do Instituto Médico Legal (IML).

Após a repercussão do caso e as fortes críticas, o Carrefour se desculpou pela “forma inadequada que tratou o triste e inesperado falecimento do sr. Moisés, vítima de um ataque cardíaco” e reconheceu que deveria ter fechado a loja logo após o ocorrido.

No ano passado, Vinícius de Paula, marido de Fabiana Claudino, bicampeã olímpica de vôlei com o Brasil, denunciou o Carrefour. Ele afirmou que foi desprezado por uma atendente em Alphaville, em São Paulo. A funcionária deu preferência a uma mulher branca. A rede reconheceu que ele não foi atendido pela funcionária, mas não classificou o ato como racismo.

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