Agenda da Água 2025 debate desafios e soluções para a gestão dos recursos hídricos em SC

Suprimento, qualidade, falta e excesso de água. Esses são os quatro pilares que fundamentam a Agenda da Água, que teve a edição de 2025 lançada na manhã da última sexta-feira (6), na sede da Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina), em Florianópolis.

Egídio Martorano na apresentação de Ações do GEDCLIMA sobre recursos hídricos na FIESC

Egídio Martorano na apresentação de Ações do GEDCLIMA sobre recursos hídricos na FIESC – Foto: Cristiano Andujar/MPSC/ND

Durante um seminário, a instituição destacou a importância desse documento propositivo, que aborda temas cruciais, como saneamento, suprimento de água e mudanças climáticas, apontando desafios e sugerindo soluções. Entidades como MPSC (Ministério Público) e Defesa Civil estavam presentes.

O presidente da Câmara de Transporte e Logística e gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Fiesc, Egídio Antônio Martorano, explica que o objetivo do documento não é ser definitivo, mas uma contribuição para a sociedade e o Poder Público.

“É uma agenda com uma visão holística da água, considerando as matrizes. Queremos estabelecer o monitoramento do que está sendo previsto e do que foi realizado. Ela é dinâmica e também não é absoluta, e estamos abertos a várias contribuições”, destacou.

O documento será encaminhado para diferentes âmbitos, incluindo os Poderes Públicos e o setor privado. “É fundamental que a água esteja na pauta do governo e que se estabeleça uma política de Estado para a gestão da água. Esse é o nosso principal objetivo. Trata-se de uma pauta abrangente, e a ideia é que essa agenda seja atualizada anualmente, servindo como referência para avaliar o que foi feito e o que ainda precisa ser realizado”, reforçou Martorano.

Saneamento básico: o principal desafio

Um dos pontos mais relevantes e preocupantes destacados no evento é o saneamento básico em Santa Catarina. “Esse é um grave problema. Ocupamos a 19ª posição no Brasil, o que é muito preocupante. Santa Catarina possui índices sociais geralmente de destaque, mas, infelizmente, temos essa mácula na área do saneamento”, afirmou Martorano.

Conforme apresentado no seminário, em 2023, Santa Catarina ocupava a 19ª posição no ranking nacional dos Estados, um dos piores índices de atendimento urbano de esgoto, com apenas 32,22%, bem abaixo da média nacional de 64,08%. O especialista em saneamento Yuli Mello Dugaich

destacou a gravidade da situação. “Essa é a principal questão hoje. O Estado apresenta uma incoerência: é rico, possui um dos maiores índices de desenvolvimento humano do país, mas está entre os piores indicadores de cobertura de esgotamento sanitário. É um absurdo”, declarou Dugaich.

No seminário, a Fiesc apresentou um estudo do Instituto Trata Brasil que afirma serem necessários investimentos de cerca de R$ 20 bilhões, em valores atuais, para garantir a universalização do tratamento de água e esgoto em Santa Catarina. Segundo o Trata Brasil, os investimentos em saneamento produziriam benefícios econômicos e sociais adicionais de R$ 14,8 bilhões até 2040.

A maior parte viria da economia com gastos com saúde (R$ 5,18 bilhões), seguidos por R$ 3,1 bilhões do turismo, R$ 1,9 bilhão da valorização imobiliária e mais R$ 1,8 bilhão com ganho de renda e produtividade no trabalho. De acordo com o estudo, cada R$ 1 investido poderia a R$ 5,7 de retorno no longo prazo no Estado.

O saneamento é uma pauta recorrente nas discussões promovidas pelo jornalismo do Grupo ND. O projeto “Saneamento: atraso e desafio” revelou que sete em cada dez catarinenses não têm acesso à rede coletora de esgoto. Como enfatizou o especialista, a ausência de saneamento impacta diretamente as populações mais vulneráveis, que acabam pagando mais caro por serviços de menor qualidade.

“Quem mais sofre é quem mais paga. Regularizar e oferecer serviços de qualidade beneficia principalmente quem mais precisa, reduzindo custos com saúde e aumentando a produtividade econômica”, afirmou.

Outro tema abordado por Dugaich e defendido pelo Grupo ND foi a necessidade de ampliar os debates sobre o PLC 40/2023, que propõe a criação da Mirae-SC (Microrregião de Águas e Esgoto de Santa Catarina).

“Da forma como o PLC está estruturado, vai travar. A regionalização pode até trazer benefícios quando promove competitividade e viabilidade. No entanto, juntar por juntar apenas criará uma nova governança burocrática, afetando diretamente a execução, que é feita na casa de cada cidadão. Assim como está, o PLC retira a autonomia de cada município”, alertou.

Dugaich também destacou a possibilidade de judicializações relacionadas ao PLC. “Para demonstrar a viabilidade das regiões, foram considerados, inclusive, municípios que já possuem concessões privadas. Isso pode gerar judicializações, afastar a iniciativa privada e comprometer a garantia de investimentos necessários para viabilizar o saneamento. O PLC precisa ser mais bem estudado e revisitado, caso contrário, pode travar ainda mais o setor”, ponderou.

Por fim, Dugaich defendeu a importância da participação da iniciativa privada no setor, devido às limitações financeiras do Estado. “O governo não tem mais capacidade de endividamento. Trazer a iniciativa privada para auxiliar no financiamento pode trazer estabilidade e viabilizar os projetos. No entanto, precisamos destravar o processo, torná-lo mais simples e menos burocrático.”

Ele concluiu reforçando que o saneamento deve ser encarado como um pilar estratégico para o futuro de Santa Catarina. “Não faz sentido pensar em avançar como sociedade, planejando o futuro, e deixar de lado questões tão básicas. O saneamento está completamente integrado à sociedade. É pensar adiante, mas como uma sociedade que evolui como um todo.”

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