Nota oficial: Secretaria da Proteção e Defesa Civil e EPAGRI explicam volume de chuva acima da média no Litoral Catarinense

No dia 16 de janeiro de 2025, um evento de chuva extrema causou alagamentos generalizados, enxurradas e deslizamentos. O fenômeno teve início na madrugada e pela manhã, atingindo as regiões de Itajaí e Camboriú. Entre o final da manhã e o início da tarde, a Grande Florianópolis também foi afetada. Em poucas horas, foram registrados pela Epagri volumes de chuva superiores a 200 mm, com picos de 350 mm em Tijucas e em Santo Antônio de Lisboa, na Ilha. Esses valores são quase o dobro da média esperada para o mês de janeiro.

No dia anterior, 15 de janeiro, a Secretaria de Estado da Proteção e Defesa Civil havia emitido um Aviso Meteorológico em nível de Observação (Amarelo), alertando sobre temporais isolados e chuvas pontualmente intensas entre quinta e sexta-feira, com risco de alagamentos, enxurradas, queda de galhos e árvores, danos na rede elétrica e possível queda de granizo. Contudo, os volumes de chuva e os impactos do evento superaram amplamente as previsões do Aviso Meteorológico.

Embora o sistema de monitoramento meteorológico tenha registrado uma série de acertos nos últimos anos, graças ao aumento de investimentos nos centros meteorológicos estaduais, este evento apresentou características atípicas, surpreendendo até os meteorologistas mais experientes de Santa Catarina.

As ferramentas e modelos de previsão utilizados apontavam chuvas de 50 a 70 mm para a região entre a Grande Florianópolis e o Litoral Norte catarinense, conforme informado à população. No entanto, nenhum desses modelos previu os volumes extremos que ocorreram entre os dias 16 e 17 de janeiro. Para a elaboração das previsões, são usados modelos globais, desenvolvidos por centros de pesquisa americanos e europeus, além de modelos regionais operados pelo INPE, INMET, EPAGRI, SDC-SC, Simepar e outras empresas privadas. Nenhum desses modelos indicou a magnitude das chuvas registradas. Os meteorologistas da SDC, baseados na análise das condições potencialmente perigosas da circulação marítima, emitiram o aviso, embora nenhum modelo previsse o evento de tal proporção.

O diferencial do monitoramento e alerta de curtíssimo prazo

Santa Catarina e o município de Blumenau se destacam por contar com uma estrutura de monitoramento 24 horas por dia, equipada com radares e estações meteorológicas de alto desempenho. Essas ferramentas foram essenciais para detectar os eventos extremos e emitir alertas antecipados à população.

O primeiro alerta meteorológico, com nível amarelo, foi emitido às 06h34 do dia 16 para a região do Baixo Vale do Itajaí. Às 07h50, o alerta de risco de deslizamentos foi emitido, e às 08h12, o alerta laranja foi publicado para alagamentos. Em poucos minutos, o alerta de deslizamento foi elevado para os níveis laranja e vermelho. Alertas amarelos são divulgados no site e nas redes sociais, enquanto os níveis laranja e vermelho também são enviados por SMS.

Santa Catarina possui a maior taxa de adesão ao serviço de alertas por SMS do Brasil, com 9,84% dos celulares cadastrados para receber notificações. Recentemente, o programa Defesa Civil Alerta, lançado pelo Governo Federal, permite a emissão de alertas em toda a população de uma determinada área. Alertas em nível severo emitem um beep, e a mensagem sobrepõe a tela de todos os celulares. No nível extremo, além da mensagem, um sinal sonoro semelhante a uma sirene é acionado nos dispositivos móveis.

Às 10h55, foi utilizado pela primeira vez o sistema de “cell broadcast” para enviar um alerta severo de alagamentos e enxurradas para os municípios de São João Batista, Canelinha, Tijucas, Governador Celso Ramos e Florianópolis. Um novo alerta foi enviado por esse sistema às 12h03 para Florianópolis, Tijucas, Canelinha e Governador Celso Ramos. Já na manhã do dia 17, um alerta de deslizamentos foi transmitido por “cell broadcast” para municípios como Biguaçu, Brusque, Florianópolis, Guabiruba, Nova Trento, Palhoça, São João Batista, São José, São Pedro de Alcântara e Tijucas.

No total, entre 06h de quinta-feira, 16 de janeiro, e 11h de sexta-feira, 17 de janeiro, foram emitidos 35 Alertas Meteorológicos e 25 Alertas Geológicos. Vale ressaltar que Santa Catarina é um dos poucos estados brasileiros a contar com um serviço de monitoramento 24 horas, utilizando ferramentas essenciais como radares, estações meteorológicas e uma antena de captação do satélite GOES-16.

Mudanças climáticas: estamos preparados?

Compreender o comportamento da atmosfera continua sendo um grande desafio, mesmo com os avanços nas capacidades computacionais, no desenvolvimento de novos modelos e na expansão de satélites, radares e estações meteorológicas. O clima está em constante mudança, o que traz desafios adicionais para as previsões climáticas. Alguns eventos têm quebrado recordes consecutivos, com volumes extremos de chuva que nunca foram registrados anteriormente. O Furacão Catarina, as enxurradas de 2008, o desastre da região Serrana do Rio de Janeiro em 2011, as chuvas de 2023 em Santa Catarina, e os eventos de 2024 no Rio Grande do Sul, entre outros fenômenos globais, demonstram que as ferramentas de previsão atuais ainda não são capazes de prever com precisão e antecedência a magnitude desses eventos.

Portanto, é urgente que a meteorologia, assim como outras áreas do conhecimento, se adapte à nova realidade climática. Devemos investir em preparação e resiliência das cidades, considerando que as previsões de tempo e clima realizadas por diferentes países precisam ser reavaliadas. As grandes cidades, especialmente aquelas em áreas litorâneas, devem ser repensadas para suportar os extremos de chuva que se tornam cada vez mais frequentes.

Investimentos

O Governo do Estado de Santa Catarina tem investido fortemente em infraestrutura de monitoramento e alerta. Em termos de recursos humanos, a SDC e a EPAGRI/Ciram contam com meteorologistas, hidrólogos, geólogos, engenheiros, geógrafos, oceanógrafos e outras especialidades que atuam de forma integrada e dedicada na emissão de previsões do tempo e do clima.

Desde 2012, a SDC, em parceria com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), realiza o mapeamento de áreas de risco em todos os 295 municípios do estado, identificando as áreas sujeitas a eventos adversos geológicos. Além disso, foram confeccionadas Cartas de Suscetibilidade a Movimentos Gravitacionais de Massa e Inundações, documentos que representam a possibilidade de ocorrência desses eventos. A partir de 2025, novos mapeamentos serão realizados para complementar os estudos existentes.

Santa Catarina também possui uma das redes de radares meteorológicos mais modernas do país, com radares em Lontras, Chapecó, Araranguá e Joinville. Entre 2025 e 2026, um novo radar será instalado na Grande Florianópolis. A EPAGRI, por sua vez, mantém uma extensa rede de estações meteorológicas e agrometeorológicas, em operação há várias décadas, e recentemente ampliada e automatizada.

Em 2022, foi instalada uma rede de monitoramento no Vale do Itajaí, composta por 42 estações meteorológicas, hidrológicas e pluviômetros, fornecendo dados a cada 15 segundos com dupla transmissão, por satélite e 4G. Essa rede foi fundamental durante as enchentes e enxurradas de 2023. Além disso, o Estado está ampliando sua rede com a instalação de mais cinquenta estações hidrológicas, trinta meteorológicas e sistemas de sirenes.

A SDC participa também de projetos como o “Sistema de alerta multiescalar para deslizamentos de terra”, em parceria com o Cemaden, e está desenvolvendo modelos de previsão de alta resolução, com o uso de perfiladores atmosféricos e dados de descargas elétricas.

Por fim, é fundamental que a imprensa, a população catarinense e as instituições públicas e privadas colaborem para fortalecer o sistema de monitoramento e alerta. Para que o sistema funcione adequadamente, todos os elos da cadeia precisam contribuir para a disseminação das informações e agir de forma apropriada em situações de perigo, com o objetivo de proteger vidas.

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