Mudanças climáticas agravaram inundações em SC, aponta análise de organização global com participação da UFSC

Lestada é evento extremo local que precisa de mais pesquisa.
Foto: Pixabay/Divulgação

As mudanças climáticas agravaram as inundações de janeiro registradas no litoral de Santa Catarina por conta do fenômeno conhecido como “lestada”. A constatação foi divulgada em documento da World Weather Attribution (WWA), organização mundial que atua para dar respostas ágeis e com evidências científicas sobre o impacto das mudanças climáticas em eventos extremos, como ondas de calor, tempestades e inundações.

A professora de Oceanografia da UFSC, Regina Rodrigues, assinou a análise em colaboração com o pesquisador da organização, Ben Clark. “Esses eventos são comuns em anos de La Niña fraca, como ocorreu em dezembro de 1995, quando 165 milímetros de chuva caíram na região metropolitana de Florianópolis em 36 horas. No entanto, o volume de chuva do evento mais recente em um período tão curto não tem precedentes”, pontua o documento.

Regina explica que, como esse evento é muito localizado, não é possível fazer o trabalho de atribuição às mudanças climáticas porque os modelos utilizados pela organização não conseguem executar a simulação. “Porém, nesses casos, a gente levanta os dados e casos semelhantes (regiões próximas) para inferir que teve influência das mudanças climáticas, dado o volume das chuvas em tão pouco espaço de tempo”.

O estudo traz os dados do acumulado de chuva registrado em diversas cidades catarinenses e na capital, Florianópolis, que atingiu, em menos de 48 horas, quase o dobro de volume esperado para janeiro. “Até o momento, as tendências recentes apontam para um aumento significativo da precipitação extrema na região”, indica o estudo, que traz referências da literatura mundial e também do relatório do IPCC AR6, de 2023, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

“Em um cenário em que o mundo aqueça mais 0,8°C em relação ao presente, eventos como esse seriam duas vezes mais prováveis e 4% mais intensos”, sintetizam os pesquisadores. Conforme o levantamento, “ainda há poucas evidências sobre o papel do atual La Niña nesse evento, embora eventos desse tipo sejam comuns em anos de La Niña”, mas é possível identificar a influência das mudanças climáticas no fenômeno registrado.

“Isso também está de acordo com o entendimento físico da intensificação das chuvas extremas de curto prazo, que aumentam em um ambiente mais quente devido à maior capacidade da atmosfera de reter umidade (aproximadamente 7% a mais de umidade por grau Celsius de aquecimento)”.

Com base nas evidências, o documento conclui que as chuvas extremas que resultaram nas recentes enchentes na costa de Santa Catarina foram mais intensas devido às mudanças climáticas antropogênicas. “Eventos semelhantes continuarão a se tornar mais frequentes e severos enquanto o mundo continuar queimando combustíveis fósseis”, pontuam.

Leia a análise completa, em inglês aqui.

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