Santa Catarina não pode ser palco para as greves do sindicato

Por Martina Domingues

Ao longo dos últimos meses Santa Catarina tem vivenciado constantes greves de professores. Em busca de estratégias para que tenhamos avanços, o SINTE/SC criou uma campanha permanente sobre Saúde Docente para trazer o debate para dentro da agenda de lutas imediatas do sindicato, para cobrar dos órgãos competentes ações que garantam à saúde da categoria e um ambiente saudável para se trabalhar. Compreender o que tem levado os trabalhadores/as da educação ao adoecimento é fundamental para se fortalecer ações de prevenção e promoção de saúde a nossa categoria, contribuindo também na melhoria da qualidade da educação em Santa Catarina.

Os dados da pesquisa de 2022 revelam que 65,7% dos professores entrevistados disseram ter enfrentado algum problema de saúde mental, como depressão, bornout, TDAH, ideação suicida e crises de ansiedade, dentre outros; 56,6% relataram problemas osteomusculares, como dores na coluna, joelhos e DORT, por exemplo; e 33,6% apontaram ter sofrido com doenças do sistema digestivo.

A atual greve dos professores em Florianópolis nos provoca inúmeros questionamentos e nos desafia a pensar sobre determinadas atitudes, comportamentos e discursos (ou da ausência dos mesmos) por parte dos partidos de direita e da sociedade, de um modo geral, quando se torna necessário dar voz e espaço para temas como violência patrimonial contra as mulheres e falta de investimento em projetos que são coordenados pela gente, tanto na área da educação quanto na área da cultura – lembrando que o município de Florianópolis investe somente 0,4% em cultura.

Segundo Saffioti (2001) a violência de gênero pode ser entendida como uma relação marcada pela desigualdade de poder baseada em uma lógica machista. É consenso no universo acadêmico considerar a violência de gênero como um problema de saúde pública complexo e prioritário (Bello-Urrego, 2013; Granja & Medrado, 2009; Lima & Büchele, 2011). Autores, como Santos e Izumino (2005) e Gomes (2003), destacam que as discussões sobre a temática tiveram origem na década de 1980, a partir dos estudos feministas que pretendiam dar maior visibilidade à violência sofrida pelas mulheres e combatê-la.

Santa Catarina anda em passos lentos, quase se arrastando, quando abordamos tais assuntos e discussões. É preciso conscientizar as próximas gerações acerca de temas que são fundamentais para que tenhamos um estado economicamente e culturalmente mais próspero. Precisamos valorizar tanto a educação quanto os professores, adotando comportamentos, medidas e discursos que sejam um exemplo para os outros estados brasileiros. As mulheres catarinenses que atuam tanto na área da educação quanto na área da cultura merecem um pouco de respeito e de consideração, caso contrário, Santa Catarina vai continuar sendo palco para as greves do sindicato, e quem perde com isso são os alunos das escolas municipais e estaduais, suas famílias e os nossos empresários – que também precisam das escolas abertas.

* Martina Domingues é artista plástica e escritora.

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